segunda-feira, 11 de julho de 2016

Os riscos embutidos na sucessão da presidência da Câmara dos Deputados

O governo precisa vencer a disputa na sucessão da Presidência da Câmara dos Deputados, depois que Eduardo Cunha renunciou ao cargo. E vencer significa em primeiro lugar não perder.

Esta última afirmação acima valia para Dilma Rousseff em 2015 e vale agora para Michel Temer. Dilma acabou emparedada por um impeachment que não haveria sem um inimigo comandando a casa do povo.

A sucessão na Câmara só é importante por causa do impeachment. Quem pode o mais pode o menos. Se os deputados já abriram a cassação da titular, podem ficar tentados a abrir a do suplente, caso este escorregue.

E quem deflagra o processo é o presidente da Câmara.

O andamento da agenda do Executivo no Legislativo não depende principalmente da política interna no Congresso, mas da força do Executivo. Este portanto vive de dar demonstrações de força.

Ainda mais um governo não propriamente popular. Não é ainda impopular, é simplesmente tolerado, pois apresenta-se como a solução à mão para evitar a volta de um governo desastroso.

Mas quando -e se- o antigo regime sair de cena definitivamente, a razão principal da tolerância com a nova administração também terá deixado de existir. Aí mora o perigo.

Temer dança conforme a música.

Suas duas mensagens: 1) "Preciso continuar pois dou sustentação a uma equipe econômica que traz esperança ao país", 2) "Preciso continuar pois tenho sustentação no Congresso para prestigiar minha equipe econômica".

Para o interino, já será complicado digerir uma conflagração na Câmara, ainda que saia vitorioso. Se for derrotado, ou se for visto como derrotado (dá na mesma), entrará em zona de risco crítico.

Aí a mensagem 2 ficará capenga. E é ela que sustenta a 1.

O cenário ideal para o governo é uma candidatura única. Não deve ser afastada, mas sua probabilidade está em torno de 10%. A rigor ela é boa para quase todo mundo. Inclusive para o PT.

O principal desafio do PT hoje é sair do isolamento.

Pode conseguir isso derrotando o governo, mas a probabilidade está em 10%. Ou pode apoiar alguma candidatura governista dissidente que dê ao Planalto uma vitória que significará derrota.

O risco desta tática é o PT apostar na dissidência e o governo, ao final, unificar a base, deixando o PT sem candidato, sem discurso e sem espaço. A não ser que adira na vigésima-quinta hora à composição governista.

Uma variável a observar é o PSDB. Se vai mesmo até o fim com o projeto de alimentar uma dissidência governista ou se negociará com o Planalto uma aliança ampla da base, em troca de ter a cadeira em 2017.

Porque a disputa agora é por um mandato de meses, sem possibilidade de reeleição. Mas seriam meses decisivos, dada a agenda pendente. Quem assumir o comando da Câmara agora estará em boa posição para negociar com o governo o que fará depois de fevereiro do ano que vem.

E será um personagem novo, que receberá a natural atenção num cenário dominado por nomes conhecidos e desgastados. E que estará tentado a voar mais alto.

Não faltam variáveis na equação.

Prestar atenção:

1) Eleição (ou não) do novo presidente da Câmara

2) Preparativos para o desfecho (ou não) do impeachment no Senado

3) Novidades nas delações premiadas

Este boletim volta em agosto. Até lá.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Pós-Cunha dará a medida da estabilidade do governo e do ambiente para sua agenda

A administração temporária atravessa bastante bem este período, beneficiada pela complacência decorrente de 1) rejeição à volta da afastada e 2) ausência de alternativas.

A primeira é aritmética. A segunda fica visível quando a temporária oposição se concentra na construção de uma “narrativa” para eleições vindouras, em vez de buscar construir um governo viável no “volta Dilma”.

Se a oposição temporária se comporta como definitiva, eis um sinal. E o comportamento é realista. Mesmo a mandatária deposta parece estar mais empenhada em “marcar posição” do que qualquer outra coisa.

Seu diagnóstico de que o maior erro foi fazer alianças com o comando do PMDB é prova. Pena ainda não ter tido a oportunidade de explicar como governaria sem aliar-se do centro para a direita.

A condescendência com os provisórios chega a incomodar, mas tem lógica.

O pé no acelerador dos gastos explica-se como investimento tático. Para extirpar de vez o governo caído e abrir caminho ao plano estratégico: estabilizar a política para permitir um ciclo de expansão baseado em mais liberdade e mais retorno para o capital.

Por isso os empresários aplaudem.

Plano ao qual tampouco há alternativas. Tivesse Dilma Rousseff habilidade, flexibilidade e liderança sobre o PT, poderia atrair o centro e neutralizar o “situacionismo de esquerda”, para fazer o que tem de ser feito na economia.

Mas a presidente afastada parece ter gastado suas fichas, e assim a vida segue, à espera de surpresas na votação final no Senado ou de algo na Lava-Jato e filhotes que desmanche o conveniente arranjo das peças.

Mesmo nesse segundo vetor será necessário medir o efeito político estrito. As consequências dos movimentos de Sérgio Machado, por exemplo, mostram-se hoje menos dramáticas do que parecia num primeiro instante. Ainda que lá na frente possam aparecer em cores mais vivas.

Enquanto isso, aqui e ali, notam-se resistências pontuais à absoluta desenvoltura de policiais e promotores. Mas não convém superestimar: em outros momentos o aparato repressivo parecia em vias de contenção. Até que uma nova ação bombástica recolocasse as coisas no lugar.

Daí por que, como dito semana passada, mais provável é que o sistema político busque conter os efeitos políticos da Lava-Jato, na impossibilidade de estancar a operação em si. Mas para isso será prudente evitar que a sucessão do presidente da Câmara provoque uma guerra civil na política.

Alguns obstáculos a uma solução pacífica:

  • A velha oposição não quer dar mais poder ao PMDB ou ao centrão
  • O PMDB e o centrão não querem abrir espaço ao PSDB e ao DEM
  • O presidente da Câmara quer escapar da cassação
  • O governo não quer brigar com o presidente da Câmara
  • O PT aceita ajudar quem possa dividir a base do governo

    São muitas variáveis que o governo precisa controlar para produzir um pós-Eduardo Cunha amigável no Congresso, que ajudaria a agenda do pós-PT.

    Prestar atenção:

    1) Evolução do caso Eduardo Cunha na Câmara e no Judiciário
    2) Aproximação da reta final da Comissão do Impeachment
    3) Surpresas da Lava-Jato

    Até a semana que vem.