A probabilidade de “n” pesquisas com intervalo de confiança de 95% cada estarem igualmente erradas num resultado comum a todas elas é 0,05 elevado à enésima potência. Ou seja, algo que três ou mais pesquisas mostram igual está pertíssimo da verdade. E é razoável então partir dessa premissa para analisar, por exemplo, a sucessão presidencial no Brasil.
Hoje Bolsonaro tem em torno de 30%. Haddad, entre 20 e 25%. Ciro e Alckmin, por volta de 10%. E Marina, uns 5%. Amoêdo, Meirelles e Álvaro ficam entre 2 e 3%, e os demais vêm depois. Bolsonaro está, portanto, a dois dígitos de liquidar a fatura no primeiro turno. Pela aritmética não é tão longe assim, mas pela política está virando uma boa distância.
Onde pescar? Os três candidatos “de centro” do terceiro pelotão já vão bem desidratados. O eleitor médio de Ciro e Marina não tem viés bolsonarista. Sobram os indecisos e Alckmin. Os indecisos nas pesquisas já são poucos. E aí vem o principal abacaxi de Bolsonaro: mesmo em situação complicada, Alckmin está lutando pela sobrevivência política, e tem recursos para lutar.
E o “voto útil” anti-PT? A peculiaridade é haver dois ou três deles disputando esse mercado. Um é a aposta em Bolsonaro decidir tudo no dia 7. Outro é a tentativa de levar Ciro ou Alckmin para o segundo turno, movimento impulsionado pela dúvida sobre a capacidade de Bolsonaro dar-se bem num mano a mano com o petismo.
O “voto útil” mais nítido até agora é o que lipoaspira Marina, joga Boulos na categoria de “outros” e corrói Ciro: o voto deles, ou potencialmente deles, migrando para Haddad. Que parece também estar atraindo um pedaço do antipetismo, dos que começam a considerar o nome do PT um mal menor diante da opção bolsonarista. É vital para o capitão estancar essa fuga.
Uma projeção interessante para avaliar a probabilidade de a coisa resolver dia 7 é olhar os cenários de segundo turno. Se alguém com chances no primeiro turno tem larga vantagem sobre adversários nas simulações de segundo, é razoável concluir que enfrentará menos resistência a arrancar os votos necessários num sprint até domingo. O contrário também é verdade.
Agora é aguardar, e ficar de olho no imprevisível. Um foco de imprevisibilidade são os movimentos policiais-judiciais, que vêm criando fatos políticos em série nos estados. É inédito em eleições brasileiras. Outra variável é a taxa de agressividade. Um eventual segundo turno transcorrerá em altas temperaturas e fortes manifestações de rua. Começou hoje.
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O dito centro parece a caminho de ficar fora do segundo turno. Os possíveis motivos foram rascunhados aqui num artigo de junho deste ano, “Centro excludente é uma contradição em termos”. O primeiro: o governo é “de centro” e está pessimamente avaliado. A recuperação econômica é lenta e sem impacto real na taxa de emprego, por enquanto.
O segundo: as experiências “de centro” exitosas costumam ser politicamente inclusivas, nunca excludentes. A ideia de opor-se à radicalização só faz sentido quando se acena com a conciliação. Um centro hostil ao que chama de extremos é uma contradição em termos porque perde a capacidade de ganhar massa crítica atraindo gente dos dois lados.
Tancredo Neves pavimentou seu caminho juntando gente, não fazendo uma lista de quem estava a priori fora de seu projeto. O centro não existe por si, é apenas um ponto médio, um lugar geométrico. Para ganhar massa, precisa ter força de atração. Mas na política a capacidade de atrair não depende só de conseguir intimidar. É preciso saber seduzir.
Daí a dificuldade de constituir uma frente antipetista “de centro”. Ou um antibolsonarismo “de centro". Ou algo que tente fazer as duas coisas. O ponto médio nestas eleições está vazio à espera de quem consiga dialogar com o outro lado. Talvez seja uma das chaves para a vitória no hoje provável segundo turno.