sábado, 29 de setembro de 2018

As pesquisas a uma semana da eleição. E hipóteses para as dificuldades do “centro”

As pessoas que se apaixonam pela política, ou por um lado nas disputas políticas, mantêm a partir daí uma relação igualmente passional com as pesquisas eleitorais: amam as boas para os seus candidatos e odeiam as não tão boas, ou ruins. Amiúde escorregam para a irracionalidade: “eu vejo outra coisa nas ruas.” Será que andaram em ruas suficientes?

A probabilidade de “n” pesquisas com intervalo de confiança de 95% cada estarem igualmente erradas num resultado comum a todas elas é 0,05 elevado à enésima potência. Ou seja, algo que três ou mais pesquisas mostram igual está pertíssimo da verdade. E é razoável então partir dessa premissa para analisar, por exemplo, a sucessão presidencial no Brasil.

Hoje Bolsonaro tem em torno de 30%. Haddad, entre 20 e 25%. Ciro e Alckmin, por volta de 10%. E Marina, uns 5%. Amoêdo, Meirelles e Álvaro ficam entre 2 e 3%, e os demais vêm depois. Bolsonaro está, portanto, a dois dígitos de liquidar a fatura no primeiro turno. Pela aritmética não é tão longe assim, mas pela política está virando uma boa distância.

Onde pescar? Os três candidatos “de centro” do terceiro pelotão já vão bem desidratados. O eleitor médio de Ciro e Marina não tem viés bolsonarista. Sobram os indecisos e Alckmin. Os indecisos nas pesquisas já são poucos. E aí vem o principal abacaxi de Bolsonaro: mesmo em situação complicada, Alckmin está lutando pela sobrevivência política, e tem recursos para lutar.

E o “voto útil” anti-PT? A peculiaridade é haver dois ou três deles disputando esse mercado. Um é a aposta em Bolsonaro decidir tudo no dia 7. Outro é a tentativa de levar Ciro ou Alckmin para o segundo turno, movimento impulsionado pela dúvida sobre a capacidade de Bolsonaro dar-se bem num mano a mano com o petismo.

O “voto útil” mais nítido até agora é o que lipoaspira Marina, joga Boulos na categoria de “outros” e corrói Ciro: o voto deles, ou potencialmente deles, migrando para Haddad. Que parece também estar atraindo um pedaço do antipetismo, dos que começam a considerar o nome do PT um mal menor diante da opção bolsonarista. É vital para o capitão estancar essa fuga.

Uma projeção interessante para avaliar a probabilidade de a coisa resolver dia 7 é olhar os cenários de segundo turno. Se alguém com chances no primeiro turno tem larga vantagem sobre adversários nas simulações de segundo, é razoável concluir que enfrentará menos resistência a arrancar os votos necessários num sprint até domingo. O contrário também é verdade.

Agora é aguardar, e ficar de olho no imprevisível. Um foco de imprevisibilidade são os movimentos policiais-judiciais, que vêm criando fatos políticos em série nos estados. É inédito em eleições brasileiras. Outra variável é a taxa de agressividade. Um eventual segundo turno transcorrerá em altas temperaturas e fortes manifestações de rua. Começou hoje.

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O dito centro parece a caminho de ficar fora do segundo turno. Os possíveis motivos foram rascunhados aqui num artigo de junho deste ano, “Centro excludente é uma contradição em termos”. O primeiro: o governo é “de centro” e está pessimamente avaliado. A recuperação econômica é lenta e sem impacto real na taxa de emprego, por enquanto.

O segundo: as experiências “de centro” exitosas costumam ser politicamente inclusivas, nunca excludentes. A ideia de opor-se à radicalização só faz sentido quando se acena com a conciliação. Um centro hostil ao que chama de extremos é uma contradição em termos porque perde a capacidade de ganhar massa crítica atraindo gente dos dois lados.

Tancredo Neves pavimentou seu caminho juntando gente, não fazendo uma lista de quem estava a priori fora de seu projeto. O centro não existe por si, é apenas um ponto médio, um lugar geométrico. Para ganhar massa, precisa ter força de atração. Mas na política a capacidade de atrair não depende só de conseguir intimidar. É preciso saber seduzir.

Daí a dificuldade de constituir uma frente antipetista “de centro”. Ou um antibolsonarismo “de centro". Ou algo que tente fazer as duas coisas. O ponto médio nestas eleições está vazio à espera de quem consiga dialogar com o outro lado. Talvez seja uma das chaves para a vitória no hoje provável segundo turno.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O tempo das previsões sobre o fim dos tempos. Os governos possíveis. E o foco da futura crise

Parece que a eleição, como costuma acontecer, entrou na fase das previsões sobre o fim dos tempos, na linha de “o mundo vai acabar se eu não ganhar”. Faz parte. É um recurso sempre à disposição de quem começa a sentir o hálito desagradável da derrota. Um momento perigoso, porque o risco de a racionalidade ir para o brejo testa seus pontos máximos.

É também a hora em que a paixão política e sua coleção de emoções extremas fazem as pessoas esquecerem de um fato corriqueiro: passada a eleição, os mesmos políticos que nos advertem sobre a catástrofe que se avizinha, caso o adversário ganhe, estarão confabulando com o adversário para dividir o poder e tocar adiante pelos próximos quatro anos. #FicaaDica.

Verdade que há exceções, e será sempre prudente deixar espaço para a possibilidade de darem as caras. O período 2015-18 tem sido uma exceção. Mas talvez o retorno obtido pelos que preferiram continuar a disputa eleitoral por outros meios depois de fechada a urna funcione como desestímulo a repetir a experiência. Quem sabe?

Um exercício útil para controlar os impulsos é tentar raciocinar sobre os governos possíveis. No caso brasileiro, há apenas dois. 1) O de Bolsonaro (ou Alckmin, em caso de virada) com o chamado centrão e o MDB ou 2) o de Haddad com Ciro (ou de Ciro com Haddad), e mais o dito centrão e o MDB. A única dúvida é quem liderará o MDB. Se a turma de Temer ou a de Renan.

Eis uma razão por que haverá pouco espaço para guinadas bruscas em política econômica. Um presidente com pouca base própria e que gerar instabilidade entrará imediatamente na zona de risco de queda. Se bem que os principais postulantes já se precaveram, indicando vices que um eventual impeachment faria trocar apenas seis por meia dúzia. Inteligente.

Outro estímulo para a estabilidade no curto prazo, e talvez o mais importante, será a necessidade de o presidente agora eleito acender uma luz no fim do túnel, a luz dos investimentos e da volta do emprego. Essa é a única boa notícia capaz de contrabalançar as ruins: austeridade e reforma da previdência. E investimento depende de capital.

Voltando ao catastrofismo, ele parece ser a arma que sobrou ao autonomeado centro para tentar ir ao segundo turno. Se vai funcionar, só os números saberão. A tarefa parece hercúlea: a maioria do eleitorado até agora não dá sinais de sensibilizar-se com as advertências de que a democracia estará em perigo no caso de vitória de Bolsonaro ou do PT.

Nem mesmo o eleitor dos grupos mais bem situados em renda e instrução parece dar muita bola à tese. Quer mesmo é evitar a volta do PT. E se a ideia de o centro ter mais condições de bater o petismo num segundo turno tem lógica, o problema, de novo, são os números. Não há evidência estatística de que seja verdade. O que tira fôlego do argumento.

Voltando aos possíveis governos, e pelas razões listadas, é provável que a agenda de curto prazo em 2019 seja minimalista e gradualista, mas progressiva. O teto de gastos não será simplesmente revogado, mas revisto. A idade mínima para aposentadorias virá, mas gradualmente e negociada. Onde estariam as diferenças? No sentido da reforma tributária.

Sim, haverá turbulência política. No caso de vitória do PT, por exemplo, a principal preocupação dos adversários não é a possível repetição de erros, mas o fato de o petismo saber agora o que não fazer, se não quiser ser novamente derrubado. Por isso, nessa hipótese, o tempo estará jogando a favor do governo. O que desestimulará eventuais conciliações.

Não há entretanto qualquer sinal de disrupção iminente. Inclusive por uma razão curiosa: a interpretação entre nós do que sejam a Constituição e “a lei” anda tão flexibilizada que tem espaço para todo mundo jogar o jogo “dentro da lei”. Reduz-se assim a possibilidade de a defesa da legalidade ser o pretexto para a ruptura da legalidade. Ao contrário de outros tempos.

Esse é o curto prazo. Conforme crescer a evidência da necessidade de uma nova Constituinte, as temperaturas voltarão a subir. Parece não haver no horizonte consenso sobre quem escreveria a nova Carta. Os constituintes do STF? Os notáveis do general Mourão? Constituintes eleitos pelo povo? Um Congresso cercado? Eis uma boa aposta para o foco da futura crise.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Tempo de TV é importante, sim

Horário eleitoral impulsionou Haddad
Exposição de Bolsonaro foi maciça


As dificuldades de Geraldo Alckmin permitem a conclusão de que não é tão importante assim um grande tempo no horário eleitoral compulsório no rádio e TV. É uma conclusão imediata, lógica e errada. O horário eleitoral e o tempo de TV continuam sendo fundamentais. Dois fatos comprovam.

Um é a subida exponencial de Fernando Haddad, que uma semana apenas após ser oficializado candidato de Lula e do PT já bate em 20% dos votos. Tal velocidade só vem sendo possível pela muito rápida propagação da mensagem de que Haddad é “o candidato do Lula” para fazer “o Brasil feliz de novo”.

E essa ideia não atingiria tanta gente tão rapidamente se fosse só por Facebook, Twitter, Instagram. Foram a TV e o rádio. As redes sociais públicas e privadas ajudaram a propagar a mensagem, inclusive os materiais distribuídos pelo horário eleitoral. Mas sem o rádio e a TV a ascensão haddadista não seria tão aguda.

O outro fato é a resiliência de Jair Bolsonaro. O candidato do PSL teve, com a facada, um “tempo de TV” brutal. Se for calculado, deve ser de longe o maior de todos. E seu “programa eleitoral” foi de alto impacto. Ele de camiseta amarela “Meu partido é o Brasil”, carregado pela multidão e sobrevivendo a uma facada perpetrada por um oponente.

Antes do atentado de Juiz de Fora, a imagem de Bolsonaro vinha em erosão, medida pelo aumento da rejeição. Graças à campanha negativa no horário eleitoral. Contra o que ele não tinha recursos para resistir. Quando a onda negativa teve de parar e veio o tsunami de exposição positiva, as curvas imediatamente fletiram a favor dele.

Mas por que então Alckmin está sofrendo, mesmo com o latifúndio radiofônico e televisivo? Bem, se o tucano ainda tem alguma esperança de reagir, esse é o recurso de que dispõe. Outra coisa: exposição em meios de comunicação de massa é necessário, mas está longe de ser suficiente. Tempo de TV não substitui a política.

O eleitorado tucano vem sendo há anos seduzido por um discurso muito à direita do “PSDB raiz”. E ficou vulnerável à captura por concorrentes externos. Porque Alckmin encaixa mal na nova narrativa. Ela tem mais a ver com João Doria. Nunca saberemos com certeza o que teria sido a campanha “Doria presidente”. Mas dá para intuir.

O PT estaria arriscado a algo semelhante se tivesse deixado seu eleitorado exposto. Provavelmente Guilherme Boulos não estaria dando traço. Ou Ciro Gomes resistiria melhor. Ah sim, e há uma diferença importante entre petistas e tucanos: é mais fácil o PT deslocar-se à esquerda do que o PSDB apresentar-se como abertamente de direita.

E um detalhe importante: o tempo de TV dos presidenciáveis está muito espremido numa floresta de mensagens políticas de candidatos a outros cargos. Para impactar o eleitor, a ideia tem de ser simples e direta. Talvez o PT e Bolsonaro tenham decifrado até agora melhor essa equação.

Mas ainda restam duas semanas.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Quem foi bem no Jornal Nacional. O que é “ir bem” no JN. Qual é o propósito dos debates e entrevistas

Parâmetros úteis para responder às questões do título encontram-se num texto de outubro de 2012 de George Friedman, da agência americana Stratfor, The Purpose of Presidential Debates. Corria então muito quente a disputa pela Casa Branca entre o candidato à reeleição, Barack Obama, e o desafiante republicano, Mitt Romney.

Entrevista de candidato a presidente para o Jornal Nacional, da TV Globo, não é formalmente um debate, mas há poucas coisas mais semelhantes a um autêntico debate que candidato a presidente sendo entrevistado na bancada do JN. Não há ali propriamente uma relação jornalista-entrevistado. Há uma disputa aberta pelo poder.

O sujeito tem de ir no JN porque não pode abrir mão da enorme audiência do telejornal. Mas inexiste mesmo almoço grátis, e o preço a pagar é considerável. Corre o risco de ser feito em pedaços por entrevistadores/debatedores sem a menor disposição de serem convencidos de nada, independente dos argumentos que o convidado possa apresentar.

Não seria mais razoável deixar o entrevistado falar com alguma liberdade e expor suas ideias para melhorar o país? Bem, para isso dir-se-á que existe o horário eleitoral compulsório na tv e rádio abertos. E a verdade é que o dia a dia do poder parece mais com uma entrevista no JN que com o desfile de belezinhas dos programas eleitorais.

Gostar ou não da maneira como os entrevistadores/debatedores apertam os candidatos é só questão de gosto. Eu preferiria que houvesse mais tentativas de xeques-mates no mérito, e um pouco menos de exibição de músculos. Aliás, na política, o excesso de halterofilismo costuma ser sintoma de pouco treino para jogar xadrez. Mas é coisa que dá para corrigir.

Num debate eleitoral ou numa entrevista como a do JN, a única coisa importante, para o candidato, é defender sua capacidade de liderar, em primeiro lugar a própria tribo. Ele está ali num duelo, e não pode se deixar matar, ou mesmo permitir que seja ferido com gravidade. Se puder dar uma estocada decisiva e abater o adversário, melhor ainda.

Talvez a principal qualidade exigida do líder político seja não errar -ou errar pouco- quando precisa decidir rápido e sob imensa pressão. Nesse aspecto, Ciro, Bolsonaro e Haddad foram os melhores. Até por serem, os três, personagens dotados da necessária autossuficiência para confrontar essa mesma característica da dupla de entrevistadores.

Autossuficiência e capacidade de agarrar-se às próprias narrativas. A narrativa é a boia do líder político na tempestade. E é também a boia que ele atira aos liderados para se salvar junto com ele. Quem não consegue contar uma história sobre si fica à mercê da história que os adversários contarão. Numa entrevista coletiva, num debate ou numa mesa de bar.

Só ingênuos ou desavisados esperam que um político chegue no JN e diga “puxa, vocês têm razão, eu errei mesmo; obrigado pela dica, da próxima vez vou tentar acertar”. E só desavisados e ingênuos acreditam que os entrevistadores estão ali numa atitude construtiva para oferecer oportunidade real ao entrevistado de expor argumentos. #FicaaDica.

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Havia dúvidas sobre se daria tempo de outro candidato petista trazer para ele rapidamente votos que seriam de Lula, se este pudesse concorrer. Mas o tempo na política não é rígido. Parece mais com o tempo de Einstein que com o de Newton. Quanto mais perto da eleição, menos tempo vc precisa para difundir eficazmente uma informação.

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Uma peculiaridade este ano é o fim do oligopólio das pesquisas eleitorais. Certos veículos da imprensa recusam noticiar pesquisas que não as contratadas por eles. É um direito. Mas aí têm dificuldade de explicar possíveis repercussões de pesquisas que não disseram quais são.

O Conselheiro Acácio, sempre útil. As consequências vêm sempre depois.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Agora ficou parecido com 1989

Outsider lidera, PSDB busca espaço
PT e PDT disputam o segundo lugar


Dizia-se que a presidencial de 2018 repetiria 1989, pelo alto número de candidatos com alguma musculatura. Está acontecendo, por enquanto. Mas a semelhança, pelo menos neste momento, vai além. Como então, um outsider de direita lidera e PT e PDT disputam o segundo lugar, que dá uma vaga na final, se houver segundo turno.

Três décadas atrás eram Collor, Lula e Brizola. Hoje são Bolsonaro, Haddad e Ciro. Claro que tem uma diferença. Alckmin é hoje mais competitivo do que eram então Ulysses, Covas, Aureliano e Afif. Sem esquecer de Maluf. Mas agora, como naquela época, o dito “centro” desperta dúvidas sobre sua capacidade de quebrar a polarização.

Em comum aos dois momentos, um certo cansaço com o establishment político. Naquele tempo, decorrente principalmente da decepção com os resultados econômicos da Nova República, que sucedera os governos militares. Hoje, nascido da revolta diante da retração econômica, revolta multiplicada pelos escândalos.

Interessante que agora, como ali, a “renovação” vem pela mão de políticos experientes. Collor era de família tradicional na política e tinha transitado pelo Legislativo e Executivo. Brizola, nem falar. Lula já disputara o governo paulista e fora constituinte. A política não estava desprestigiada. Desgastada mesmo, só a aliança que elegera Tancredo.

Bolsonaro é um veterano do Congresso, Ciro já foi de tudo, inclusive disputou duas vezes o Planalto. E Haddad é Lula. E Alckmin, que tinha sido prefeito, deputado, tem sala no Palácio dos Bandeirantes faz um quarto de século, praticamente sem interrupção. Aliás Alckmin parece ser um Covas desta eleição. Pelas qualidades e pelos problemas.

Covas tentou de tudo para quebrar a lógica Collor x “Brizula”. Seu momento mais criativo foi quanto lançou a ideia do “choque de capitalismo” necessário no Brasil. O establishment entusiasmou-se, mas o povão nunca pensou seriamente em desembarcar do navio comandado pelo "caçador de marajás” que vinha das Alagoas.

Parece ser um pouco o problema de Alckmin. Seu posicionamento encaixa-se bem numa equação racional, ele tem tudo para atrair um público que demanda estabilidade, pacificação e equilíbrio, mas até o momento vem sentindo dificuldade de arrastar votos para essa lógica. O que dificulta a agregação da elite em torno de seu nome.

Mas a corrida está verde ainda. Como evoluirá a saúde de Bolsonaro? Haddad conseguirá votos lulistas suficientes para enfraquecer Ciro decisivamente? Marina parará de cair? Alckmin conseguirá uns pontos adicionais para entusiasmar seu campo e ganhar massa crítica? Amoêdo, Álvaro e Meirelles resistirão ao voto útil?

Aguardam-se os próximos capítulos.

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Publicado originalmente no www.poder360.com.br

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Uma facada como tiro de largada. Um tempo perdido. E os caminhos para o segundo turno.

A facada em Jair Bolsonaro foi um tiro. Ou melhor, dois. Foi um tiro na linha de comunicação do antibolsonarismo “de centro", ao transformar instantaneamente o violento em vítima de violência. E foi também o tiro de largada de fato da corrida presidencial. O antes de quinta-feira pode tranquilamente ser mandado ao arquivo.

Ganham o próprio Bolsonaro e o PT. O capitão ganha um ambiente favorável a pelo menos estancar o aumento da rejeição, quando não a reverter a curva. E o PT, que sorte!, ao fim e ao cabo não ficou mesmo atrasado por causa da tática bifronte Lula e/ou Haddad. Está em tempo, se finalmente decidir nesta segunda a dúvida entre casar ou comprar uma bicicleta.

Na opinião pública do centro para a direita, o ajuste mental e do verbo vem sendo rápido. O discurso sobre a necessidade de evitar os extremos é substituído pela esperança de que o próprio Bolsonaro se apresente como candidato centrista. E a campanha do PSL já percebeu: de quinta para sexta a postura mudou. Saiu de campo o radicalismo, entrou a fofura.

É uma manobra inteligente para evitar que o “centro de raiz” tente agora deslocar o bolsonarismo voltando a se apresentar como alternativa “racional”. Bolsonaro e os seus fazem a flexão de Lula em 2002. Se vai funcionar é outra história, mas estão empenhados. A suave entrevista de sexta do General Mourão bastou para quem quis entender.

Já para o candidato original do “centro de raiz”, Alckmin, o momento é de reencontrar uma picada ao segundo turno. A de antes estava clara: aumentar a rejeição a Bolsonaro agora, para lá na frente ocupar o terreno. Artilharia pesada agora, para mais adiante mandar a cavalaria e a infantaria tomarem um território já afofado pelo bombardeio.

Isso inviabilizou-se porque a artilharia pesada tem de parar, há o risco de sair pela culatra. E fazer o quê? Concentrar-se no propositivismo? Atacar o PT para tentar ir à final contra Bolsonaro? Apresentar-se como o pacificador do país, o que vai evitar a guerra fratricida, esse iceberg cuja ponta viu-se na mineira/carioca Juiz de Fora na quinta-feira?

Tudo terá um custo. Tentar concentrar-se em tirar o PT da final é arriscado, o petismo parece entrincheirado. Uma opção seria acreditar que o PT se dividirá na campanha, mas é duvidoso demais depender disso. Enquanto o petismo tem chance de ganhar a eleição - e ela existe - dificilmente vai mergulhar numa guerra interna. Se perder, isso está contratado para depois.

Ciro vai bem, diante dos parcos recursos disponíveis. Vem numa ascensão suave, especialmente no lulismo menos petista. É preciso ver o limite disso. O candidato do PDT ainda precisa de muita musculatura adicional para sonhar com ir a 28 de outubro. Já Marina parece num momento difícil da corrida. O “centro” anda cada vez mais congestionado.

Um problema adicional para Alckmin é esse congestionamento. Além do tucano e de Marina, já há pelo pelo menos três outros nomes com alguma presença nas pesquisas: Amoêdo, Álvaro Dias e agora Meirelles, que começa a dar as caras, pois está aproveitando bem seu decente tempo na propaganda eleitoral compulsória no rádio e na tevê.

É possível que na hora da decisão haja algum tipo de voto útil nesse campo, mas os nervos precisarão estar fortes até lá. Pois mais de um nome sobe. Voto útil em quem? É uma pressão que também vai aparecer na esquerda, se Haddad estiver precisando dos votos de Ciro, ou este dos votos do PT para ir à decisão.

O primeiro turno tem tudo para ir quente até o final, com uma definição nos últimos dias, horas, ou mesmo na urna. O bolsonarismo sonha com uma vitória em primeiro turno, o que ainda não está no radar. O tucanismo, com um “despertar de centro". O PT, com fazer a disputa da civilização contra a barbárie, ou do governo Lula contra o governo Temer.

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As pesquisas eleitorais têm andado razoavelmente em linha. Mesmo que alguns números divirjam, as tendências apontadas por elas tem coincidido no essencial. Mais uma prova de que é desperdício de tempo e energia umas ficarem falando mal das outras. Na era da big data, já deveriam ter aprendido que se erra menos com muita informação que com pouca.

Existe mesmo uma “transferência de votos"?

O político é dono do eleitor?
Ou o eleitor é dono do político?


Com o início do horário eleitoral compulsório na TV aberta e no rádio, aumenta a ansiedade para saber quem se mexe e quem não. Ou quem se mexe mais ou menos. E se é para cima ou para baixo. Esse costuma ser um período nervoso nas campanhas. Ainda mais agora, com a corrida encurtada, acertar ou errar na comunicação de largada é estratégico. E as próximas pesquisas vão dizer quem errou e quem acertou.

Mas, cuidado: a coisa ainda está muito no começo e o tempo que resta é suficiente para reverter tendências. Vamos recordar 2014. Aécio Neves assumiu a vice-liderança a abocanhou a vaga no 2º turno nos últimos três a dois dias antes da urna. E agora as opções à disposição do eleitor são mais variadas do que quatro anos atrás. Há mais produtos disponíveis na gôndola para quem quiser trocar a mercadoria que já está no carrinho.

As duas variáveis amplamente monitoradas nesta disputa são:

1) a chamada “transferência de votos” de Lula para Fernando Haddad;

2) se Alckmin consegue uma transfusão de eleitores de Jair Bolsonaro, graças também à massacrante disparidade de recursos em favor do tucano.

É razoável supor que a rejeição a Bolsonaro vai aumentar. Resta acompanhar se a perda, mesmo marginal, dar-se-á em benefício do ex-governador paulista.

Mas, e a “transferência” petista? É esperado algum crescimento imediato de Haddad. Seu principal fator limitante é o desconhecimento. À medida que vai ficando mais conhecido, subirá.

Também porque não há motivo sério para o eleitor petista deixar de votar nele. E o PT tem uma fatia própria do eleitorado. E tem Lula, que anda tão resiliente quanto Bolsonaro. O eleitor “duro” de cada um não está nem aí para o que dizem dele os adversários.

Isso pode ser facilmente medido pela decisão de voto. O petismo e o bolsonarismo ostentam os índices mais altos. Talvez porque esta eleição seja a busca por uma liderança política.

A ideia de que o país precisaria mais de gestores que de políticos saiu rapidamente da moda depois de fazer algum sucesso quando a antipolítica andava em alta, uns dois anos atrás. Vamos ver o que trarão os resultados finais, mas aquele discurso parece ter perdido mesmo tração.

É tentador, para os petistas, acreditar que Lula e o PT retomam força eleitoral porque o eleitor se convenceu de que as acusações contra ambos se mostraram vazias. É mais provável que a recuperação do petismo decorra, principalmente, da convicção de o país estar sendo conduzido de maneira errada e para o lado errado. E, por isso, entre um quinto e um terço do eleitorado inclinam-se a dar uma nova oportunidade ao partido.

Também por isso, talvez seja um erro conceitual falar em “transferência dos votos de Lula”. Não há propriamente uma transferência, e os votos não são “de Lula”. Lula e o PT, assim como Alckmin e o PSDB, assim como Bolsonaro, Ciro, Marina e outros, são produtos na gôndola para o eleitor escolher conforme a necessidade do momento. O eleitor não é propriedade do político. É mais razoável compreender que o político é mercadoria à disposição do eleitor.

Verdade que há um processo de “peronização” de Lula, mas isso está longe de ser o principal. Qual seria a taxa de “transferência” se Lula recomendasse o voto em Alckmin? Ou mesmo em Meirelles, que foi ministro de Lula, mas hoje é completamente identificado com o governo Temer? Provavelmente baixa. Muito baixa. Bem mais baixa do que certamente vai acontecer com Haddad.

Currículo tem importância, apoios têm importância, programa de governo tem alguma importância, mas cada uma dessas coisas só adquire maior significado se ajudar a compor uma linha geral, um sentido geral. Uma ideia geral que ilumine o horizonte desejado. O petismo e o bolsonarismo já conseguiram desenhar essa ideia. Os demais ainda têm tempo, mas não podem demorar muito.

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Publicado originalmente em www.poder360.com.br

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O mercado está nervoso. E daí? O novo governo precisará de paz com os empresários

O mercado financeiro anda nervoso por não saber, ou não conseguir prever com razoável margem, o desfecho da sucessão presidencial. Ou por achar que o eventual eleito pode ser tentado a heterodoxias, pois os resultados imediatos da ortodoxia não têm sido bons. Ou por acreditar que o ungido não terá potência para arrancar do pântano e ganhar velocidade.

O nervosismo do mercado nasce da incerteza sobre se 1) o Brasil vai eleger um presidente comprometido com privatizações, desregulamentação e austeridade fiscal; e se, mesmo nesse caso, 2) ele terá força para fazer valer no Congresso seu programa de governo. Junte-se a isso o quadro internacional, e o dólar continua subindo a ladeira.

Um argumento de certo peso contra o programa econômico perseguido por Michel Temer é não ter sido aprovado na urna. Bem, desta vez, caso a eleição produza um presidente de direita, da tonalidade que for, o público estará sabendo do que se trata. Todos os nomes desse campo estão comprometidos com a ponte para o futuro temerista.

Mas infelizmente ainda não apareceu o candidato ideal. Um que simultaneamente defenda a tríade liberal listada mais acima, tenha muitos votos e projete um ambiente de governabilidade estável. Geraldo Alckmin vai bem no primeiro e no terceiro quesitos. Jair Bolsonaro nos dois primeiros. O mercado torce para que o tucano aproveite bem a TV.

Outro complicador são as circunstâncias do PT. O partido precisou pender à esquerda para segurar seu mercado eleitoral, e a operação vem tendo sucesso pelo ângulo político. Não se veem dissensões sérias internas nem desafiantes viáveis externos. Mas não existe almoço grátis, e o petismo manter-se competitivo aguça as naturais inquietações do capital.

E tem também Marina e Ciro. Ela já faz tempo procura cercar-se de economistas de currículo liberal. Há anos ela oferece previsibilidade na economia. É o que vem faltando a ele projetar. Mas talvez não possa ser diferente no caso do pedetista: ele precisa de votos dos dois lados, precisa de alguma ambiguidade se quiser ter chance de passar ao segundo turno.

O mercado está nervoso? Sim, mas e daí? Se o leitor ou leitora deixar as idiossincrasias de lado, verá que a resposta é “e daí nada". Seja quem for o próximo presidente, ele enfrentará constrangimentos orçamentários e políticos que reduzirão a um mínimo sua margem de manobra na economia. Com qualquer resultado, pouca coisa vai mudar, ao menos no curto prazo.

O eleito assumirá com uma preocupação ultraprioritária: criar empregos. Precisará estimular fortemente os investimentos. Para isso, terá de se entender com o empresariado. Ou seja, não vai abrir o mandato arrumando confusão e gerando incerteza. Ao contrário, vai procurar evitar turbulências e inocular otimismo. Até para influir mais no Congresso.

O próximo presidente trará notícias ruins. Corte de gastos, reforma da previdência. Precisará compensar com notícias boas. E a única notícia realmente boa no Brasil de 2019 será que o emprego voltou. Mas se é o trabalho que acrescenta valor à mercadoria, quem cria, ou destrói, postos de trabalho é o capital. Uma verdade contra a qual nunca é inteligente brigar.

Cada um compra e/ou vende dólar na hora que quiser, mas os espertos venderão na turbulência e recomprarão quando o ambiente se desanuviar, lá por novembro e dezembro. E os mais espertos ainda? Estes ocuparão o tempo até lá bolando ou desengavetando projetos que o novo governo possa apresentar como boas notícias para a criação de empregos. #FicaaDica.

E tem outro detalhe: seja qual for o governo, tudo precisará ser negociado com o Congresso, que já se sabe mais ou menos como será.

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As entrevistas com candidatos têm parecido menos entrevista e mais debate eleitoral. O jornalista coloca-se na posição de adversário político do entrevistado. Mas tudo na vida tem dois lados. Quem está acostumado a bater, de repente percebe que também pode ser alvo. Talvez seja inevitável, mas não deixa de ser uma novidade, essa volta do cipó de aroeira.

Não conhece a expressão “a volta do cipó de aroeira"?

Taí ->

https://youtu.be/EGyb11knYYo