A economia é sempre um vetor importantíssimo em eleições, costuma ser decisiva, mas está longe de construir consensos automáticos. No auge do lançamento do Plano Real e da euforia por ele desencadeada em 1994, um oposicionista Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu beirar os 30%. O governista Fernando Henrique Cardoso ganhou no primeiro turno, mas com pouquinho acima da necessária metade mais um.
Mesmo nos píncaros da popularidade do primeiro presidente
petista, Lula, o piso da oposição tucana nunca baixou do patamar de 40% dos
votos no segundo turno. Os fatos são os fatos: governos dependem em boa medida
dos resultados, mas, além da eficiência e das realizações, as vitórias e
derrotas eleitorais resultam também de movimentos de outra natureza no
eleitorado. Especialmente da divisão político-ideológica. Sim, ela conta.
Uma pista é o efeito do deslocamento no segundo turno, em disputas presidenciais, dos
eleitores daqueles candidatos que não passaram do primeiro. Um achado a partir dos resultados das eleições brasileiras desde
a redemocratização revela que o campo político afinal vitorioso é sempre o com
melhor representação, em votos, entre os candidatos eliminados da disputa no primeiro
turno.
Dito de outra maneira, se os votos dados a candidatos que
não passaram à decisão eram majoritariamente de direita (vamos convencionar haver
essencialmente dois campos, direita e esquerda), o nome da direita mostrou-se mais
competitivo no segundo turno. Aconteceu com Fernando Collor em 1989 e
Jair Bolsonaro em 2018. Quando se deu o contrário, prevaleceu a esquerda, com
Lula em 2002 e 2006 e Dilma Rousseff em 2010 e 2014.
E isso não chega a depender absolutamente de apoios formais.
O eleitor costuma ser algo cioso da sua independência.
Portanto, talvez seja importante aos atuais candidatos tentar
organizar o grid eleitoral de modo a garantir potencial de agregação no segundo
turno. Até porque no último quarto de século ninguém ganhou no primeiro. E isso
deveria agora receber atenção ainda maior da esquerda, pois desde que se
implantou a reeleição nenhum presidente no cargo deixou de se reeleger e,
portanto, nunca ficou fora de um segundo turno.
As pesquisas trazem uma boa notícia para Lula. Ele está na
frente no primeiro turno e bem na frente no segundo. Ou seja, recolhe a maior
parte dos votos de quem não vai à decisão. Efeito da, no momento, muito
alta rejeição ao presidente da República, nascida principalmente dos erros
cometidos na administração da pandemia. Mas o cenário traz também um alento
para Bolsonaro e outros potenciais candidatos de seu campo.
Pois a maior parte do dito centro que busca se impor como
terceira via, para eventualmente chegar a segunda, ou quem sabe primeira, é
composta de nomes cujos eleitores hoje tendem ao campo político do presidente
da República, e não ao do antípoda dele. A exceção é Ciro
Gomes. Mesmo no cirismo há um contingente, a ser medido, de eleitores que
recusariam o voto em Lula num eventual segundo turno.
Um desafio de Lula é penetrar em certo eleitorado hoje alimentado
24x7 contra ele. O de Bolsonaro é insistir que a alternativa é Lula. E o da
terceira via é convencer que Bolsonaro não ganha de Lula.
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Saio em dezembro. Boas festas e ótimo 2022 para todo mundo.