A caminho do fechamento da janela de trocas partidárias, quem mais vem se beneficiando na migração de deputados são as legendas que devem dar sustentação a Jair Bolsonaro na corrida para a reeleição: o partido dele, PL, mais o Progressistas e o Republicanos. Normal. Governos sempre têm capacidade de atrair políticos, e a isso se soma o fato de o presidente ter chegado competitivo a esta etapa do processo.
Candidatos à reeleição no Parlamento beneficiam-se da
proximidade com o governo, mesmo que a recente anabolização das emendas dos congressistas
ao Orçamento Geral da União tenha injetado boa dose de autonomia na vida de deputados
e senadores. O Estado no Brasil tem ubiquidade, e influir nas decisões do poder
sempre ajuda a alavancar trajetórias políticas e a dar-lhes sustentação no
tempo.
Mas qual será o peso real das estruturas partidárias na
eleição presidencial? Em tese, relativo. É bem mais provável que o eleitor
escolha um parlamentar por este apoiar o candidato a presidente do que decidir
votar em alguém para o Planalto porque o deputado ou o prefeito pediram ou
mandaram. O voto é secreto. A escolha do candidato a presidente é a esfera de
decisão política em que o eleitor costuma exercitar sua independência em maior
grau.
Mas estruturas partidárias importam. Mesmo em 2018, quando
Jair Bolsonaro se elegeu por uma microlegenda, por todo o país os partidos e
políticos do campo que vai do centro à direita, pegando inclusive franjas à
esquerda, conectaram-se na composição do hoje presidente. Não houve alianças
formais, mas realizaram-se alianças políticas na vida real. Que costumam pesar
bem mais na hora do vamos ver.
E há agora em 2022 a particularidade de um presidente
candidato à reeleição não ter como colar no papel de outsider. Precisará de
tempo de televisão e rádio para defender seu governo. Claro que as redes
sociais são um campo decisivo da luta, mas não se deve subestimar o efeito do
rádio e da televisão.
Depois da facada de 6 de setembro, Jair Bolsonaro teve 15 dias
de exposição positiva quase 24 horas no ar. É um erro achar que a televisão e o
rádio não tiveram influência na eleição de 2018.
Pelas contas de hoje, e sabendo que o tempo de televisão e
rádio é calculado segundo o tamanho das bancadas eleitas para a Câmara em 2018,
Luiz Inácio Lula da Silva e Bolsonaro já garantiram cerca de 20% cada um. Se os
muitos nomes do espaço intermediário se juntassem, também garantiriam uma fatia
considerável do bolo. Mas até o momento não há sinais. Convém, entretanto,
esperar, a eleição está longe ainda.
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E por falar em centro, está realmente em curso uma
articulação ampla para tentar que todos renunciem em favor de um só. O nome do
momento é Eduardo Leite. Mas até Luiz Henrique Mandetta pode voltar a ter algum
papel. A operação não é fácil, mas tampouco impossível. A decisão, a acontecer,
ficaria a cargo dos presidentes dos partidos envolvidos. O que contornaria
eventuais resistências em uma ou outra legenda.