segunda-feira, 4 de julho de 2016

Pós-Cunha dará a medida da estabilidade do governo e do ambiente para sua agenda

A administração temporária atravessa bastante bem este período, beneficiada pela complacência decorrente de 1) rejeição à volta da afastada e 2) ausência de alternativas.

A primeira é aritmética. A segunda fica visível quando a temporária oposição se concentra na construção de uma “narrativa” para eleições vindouras, em vez de buscar construir um governo viável no “volta Dilma”.

Se a oposição temporária se comporta como definitiva, eis um sinal. E o comportamento é realista. Mesmo a mandatária deposta parece estar mais empenhada em “marcar posição” do que qualquer outra coisa.

Seu diagnóstico de que o maior erro foi fazer alianças com o comando do PMDB é prova. Pena ainda não ter tido a oportunidade de explicar como governaria sem aliar-se do centro para a direita.

A condescendência com os provisórios chega a incomodar, mas tem lógica.

O pé no acelerador dos gastos explica-se como investimento tático. Para extirpar de vez o governo caído e abrir caminho ao plano estratégico: estabilizar a política para permitir um ciclo de expansão baseado em mais liberdade e mais retorno para o capital.

Por isso os empresários aplaudem.

Plano ao qual tampouco há alternativas. Tivesse Dilma Rousseff habilidade, flexibilidade e liderança sobre o PT, poderia atrair o centro e neutralizar o “situacionismo de esquerda”, para fazer o que tem de ser feito na economia.

Mas a presidente afastada parece ter gastado suas fichas, e assim a vida segue, à espera de surpresas na votação final no Senado ou de algo na Lava-Jato e filhotes que desmanche o conveniente arranjo das peças.

Mesmo nesse segundo vetor será necessário medir o efeito político estrito. As consequências dos movimentos de Sérgio Machado, por exemplo, mostram-se hoje menos dramáticas do que parecia num primeiro instante. Ainda que lá na frente possam aparecer em cores mais vivas.

Enquanto isso, aqui e ali, notam-se resistências pontuais à absoluta desenvoltura de policiais e promotores. Mas não convém superestimar: em outros momentos o aparato repressivo parecia em vias de contenção. Até que uma nova ação bombástica recolocasse as coisas no lugar.

Daí por que, como dito semana passada, mais provável é que o sistema político busque conter os efeitos políticos da Lava-Jato, na impossibilidade de estancar a operação em si. Mas para isso será prudente evitar que a sucessão do presidente da Câmara provoque uma guerra civil na política.

Alguns obstáculos a uma solução pacífica:

  • A velha oposição não quer dar mais poder ao PMDB ou ao centrão
  • O PMDB e o centrão não querem abrir espaço ao PSDB e ao DEM
  • O presidente da Câmara quer escapar da cassação
  • O governo não quer brigar com o presidente da Câmara
  • O PT aceita ajudar quem possa dividir a base do governo

    São muitas variáveis que o governo precisa controlar para produzir um pós-Eduardo Cunha amigável no Congresso, que ajudaria a agenda do pós-PT.

    Prestar atenção:

    1) Evolução do caso Eduardo Cunha na Câmara e no Judiciário
    2) Aproximação da reta final da Comissão do Impeachment
    3) Surpresas da Lava-Jato

    Até a semana que vem.
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