quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Só lá na frente

Assim é a política. O quase ex-presidente Donald Trump acha pouco os US$ 600 que o Congresso quer dar a título de auxílio a milhões de americanos por causa da crise provocada pela Covid-19. Trump quer que sejam US$ 2.000. O problema? O valor aprovado foi fruto de um suado acordo neste pedregoso fim de ano entre deputados e senadores democratas e republicanos (leia).

Para quem está indo embora, jogar para a plateia e provocar confusão tem um custo apenas relativo. No caso de Trump, com um ingrediente adicional: ele está muito longe de pretender se aposentar, e um de seus alvos principais desde agora são os homens e mulheres do partido dele que correram, uns mais rapidamente, outros mais devagar, a reconhecer a vitória de Joe Biden.

E no Brasil? A criação de empregos vai razoavelmente bem, segundo o Caged (leia). Mas a recuperação leva mais gente a procurar emprego, e daí crescem também as taxas de desemprego (leia). Uma dúvida que continua é se a recuperação vai resistir ao fim do auxílio emergencial, que deixará o palco junto com 2020. Mas isso só saberemos lá na frente.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Guerra prolongada

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou que dia 8 de fevereiro começa a entregar ao Ministério da Saúde a vacina AstraZeneca/Oxford (leia). Antes, e com certa antecedência, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) certificara as boas práticas do laboratório Sinovac, que desenvolveu a vacina CoronaVac, a ser fabricada e distribuída no Brasil pelo Instituto Butantan (leia). .

Ou seja, apesar de todo o bate-boca, das divergências, da disputa por protagonismo, parece que as coisas caminham bem no que interessa saber: quando a população brasileira começará efetivamente a ser imunizada contra o SARS-CoV-2. Pois os fatos estão mostrando que a vacinação é na prática o único meio disponível para tentar erradicar a Covid-19.

Digo "tentar" porque ninguém pode garantir que com a vacinação o vírus vai ser extirpado do nosso meio. É possível que mesmo na melhor hipótese ele permaneça residualmente, o que vai exigir um esforço permanente de cuidados, de rastreamento e de providências dele decorrentes. Será uma guerra prolongada.

Mas a vacina, isso é inegável, vai ser o melhor passaporte para a volta à normalidade.

domingo, 20 de dezembro de 2020

Interessa a todos

O surgimento de uma nova cepa de SARS-CoV-2 altamente contagiosa no Reino Unido levou a três consequências imediatas. A primeira é acelerar a tendência das autoridades europeias a impor novos lockdowns. A segunda é a propagação em cacata do fechamento de fronteiras para oriundos das nações afetadas. A terceira é a aceleração ainda maior da corrida pela vacina.

Concentremo-nos na última. A esta altura, vai ficando claro que não haverá saída para controlar a propagação do contágio que não seja o imunizante. A boa notícia é a rapidez com que ele vai sendo desenvolvido nos diversos países. Vamos torcer para a distribuição andar bem e ser universal. Pois até agora o que se viu foi a prioridade para vacinar as populações dos países desenvolvidos.

Entre nós, será o caso de pedir às autoridades nos diversos níveis que se entendam. Aliás é o que se está pedindo há quase um ano, desde que a crise começou, e até agora sem grandes resultados. É ingenuidade imaginar que um problema desse tamanho possa não ser afetado pela política. Mas também seria inteligente os governantes, em todas as esferas, notarem que a rapidez da solução interessa a todos.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Um plano

O Supremo Tribunal Federal marcou para o próximo dia 16 o julgamento de duas ações que tratam da vacinação para a Covid-19 (leia). 

A primeira pede que o tribunal obrigue o governo federal a adquirir a vacina Coronavac produzida no Instituto Butantan. A segunda, que o governo apresente em 30 dias um plano nacional de vacinação.

É um sintoma da progressiva disfuncionalidade política. O que deveria ser resolvido com o exercício da autoridade do Poder Executivo, ou do próprio Legislativo, escorrega para a esfera do Judiciário. 

E depois reclamam quando este poder chama a si o que é atribuição dos demais. Não que faltem motivos para críticas aos juízes. Mas seria ingenuidade imaginar que arrastados para o centro do palco eles não ocupariam o espaço aberto para protagonismo.

Sobre as vacinas, a população espera um plano seguro, efetivo e viável para o máximo de pessoas conseguirem imunizar-se no menor tempo possível. E espera que os políticos, lato sensu, se entendam para o objetivo ser atingido.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

O PIB

O PIB do terceiro trimestre veio um pouco abaixo das expectativas, com um crescimento de 7,7% em relação ao anterior. A boa notícia é que indústria, comércio e investimentos puxaram o índice para cima (leia). 

Ainda que no acumulado final do ano a maior parte das atividades vá mostrar queda em relação a 2019.

Os números positivos do Caged de outubro (leia) já haviam sido um indicador de recuperação. Mesmo a recente alta na taxa de desemprego medida pelo IBGE refletiu mais o aumento da busca por trabalho que qualquer outra coisa.

A dúvida agora é se a recuperação vai resistir ao fim dos mecanismos financeiros de suporte criados para enfrentar as consequências da pandemia. O governo parece apostar que sim, pois até o momento deixou de lado qualquer ideia de prorrogá-los. Até o momento.

Passadas as eleições municipais, o ritmo de recuperação da economia em 2021 vai ajudar a desenhar o retrato político do ano, com a óbvia consequência na sucessão presidencial de 2022. Pois daqui a dois anos, com as vacinas, espera-se que a Covid-19 tenha deixado de ser assunto.

Não custa ser otimista.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

A Argentina precisa ser explicada

Uma característica de quando o debate político perde conexão com a racionalidade é os fatos deixarem de ter importância. E a discussão usa e abusa do cherry picking, a supressão das evidências incômodas. Bem, um caso que merece ser mais debatido é o da Argentina.

O país vizinho vem de encerrar seu lockdown, um dos mais rígidos do planeta. Mesmo antes disso, os argentinos já exibiam números complicados. Em mortes por milhão de habitantes, faz tempo que nos ultrapassaram (leia). E caminham ao topo do ranking mundial.

Agora, a OCDE diz que na economia os números argentinos de 2020 serão igualmente ruins. A recessão vai bater nos 13%, o pior desempenho do G20 (leia). Se bem que Espanha e Reino Unido devem ser fortes concorrentes ao triste troféu.

Não se trata de concluir apressadamente que o lockdown dos vizinhos não serviu para nada. Mas tampouco será o caso de fingir que tudo está dentro da normalidade no universo dos argumentos e contra-argumentos em torno da Covid-19 e de como enfrentá-la de um jeito correto. 


terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Relax à espera da vacina

As eleições trouxeram com elas, especialmente nos dias anteriores à urna, aglomerações de candidatos, políticos e apoiadores. O paroxismo deu-se nas compreensíveis comemorações dos vitoriosos. Mas não passou despercebido que, horas depois, voltassem as advertências e medidas sobre a ainda gravidade da ação do SARS-CoV-2 entre nós. Assim tem sido a política por aqui.

Seria injusto entretanto particularizar. O relaxamento tem sido geral, e o símbolo destes dias bem poderiam ser as praias superlotadas. Há quem diga que praias não são tão propícias assim para o contágio, vai saber... Mas e festas em lugares fechados? Com certeza são. E o pessoal não parece estar nem aí. Torçamos e rezemos para que as UTIs, e o povo que nelas trabalha, sejam suficientes.

Porque as perspectivas da eventual vacina ainda são cheias de incógnitas (leia). Muitas variáveis. Uma estratégica é a temperatura em que o imunizante precisa ser conservado. Aqui, o ótimo parece novamente ser inimigo do bom. Melhor uma vacina que não exija tantos cuidados de conservação, e portanto possa estar disponível com menos complicações logísticas.