Alon Feuerwerker
jornalista e analista político
bio -> https://pt.wikipedia.org/wiki/alon_feuerwerker
quarta-feira, 30 de junho de 2021
Esperança
terça-feira, 29 de junho de 2021
Toda política é local
segunda-feira, 28 de junho de 2021
Botucatu
Os resultados da aplicação em massa da vacina Oxford/AstraZeneca em Botucatu (SP) foram um sucesso, como já tinha acontecido com a CoronaVac em Serrana (SP) (leia). Pouco a pouco, a vacinação em grande escala vai comprovando também aqui no Brasil, a exemplo do que vem acontecendo em outros países, a sua essencialidade no combate à pandemia da Covid-19.
Os dados colhidos das duas vacinas em ambas as cidades paulistas deveriam ser um estímulo ao protagonismo da racionalidade sobre as pendengas políticas. Mas esperar isso no Brasil de 2021 é ingenuidade, esse defeito que é um dos únicos imperdoáveis na política.
Quem paga a conta da guerra eterna? A população. Verdade que a média móvel de óbitos entre nós parece estar contida, graças também à vacina. Mas há poucas dúvidas de que a situação poderia estar bem melhor caso tivéssemos seguido o princípio simples e objetivo de que quanto mais vacina, e mais rápido, melhor.
Há dúvidas sobre as vacinas? Claro, afinal estamos consertando o avião (a pandemia) em pleno voo. Mas mesmo em lugares onde se intalaram polêmicas sobre a eficácia delas, como no Uruguai, pouco a pouco os dados vão comprovando que vacinar é bem melhor que não vacinar (leia).
sábado, 26 de junho de 2021
Mais pesquisas
As pesquisas recentes de intenção de voto para 2022 divergem em certo grau na distância entre os principais candidatos, mas algumas constatações são consensuais:
Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva estão bem à frente dos demais tanto no voto espontâneo quanto no estimulado.
Se uma terceira opção conseguir agrupar razoavelmente os insatisfeitos com Bolsonaro e Lula, deve largar de algo entre 10% e 15%.
As margens aqui variam bastante, mas hoje Lula ganharia de Bolsonaro no segundo turno.
Isso se deve principalmente por o presidente, no momento, superar o ex na disputa de mais rejeição.
Pesquisas devem sempre ser lidas com muita prudência,
especialmente quando feitas com tanta distância. Aliás, até levantamentos de
véspera e bocas de urna têm errado mais que o razoável.
Mas pesquisas são um dos únicos instrumentos disponíveis no
voo rumo à pista de pouso da urna no dia da eleição. Em vez de brigar com elas,
trata-se de utilizá-las da melhor maneira possível, o que inclui sempre lembrar
que elas erram.
E é exatamente por isso que existe a chamada “margem de
erro”.
E pesquisas podem até ser mais importantes longe do que perto
das eleições. Elas balizam decisões preliminares relevantes dos atores
políticos centrais.
Um caminho para reduzir a outra margem de erro, não das pesquisas propriamente ditas, mas da interpretação delas, é olhar não no que diferem, mas para o que têm em comum. E se partimos dos levantamentos de avaliação de governo notamos também que:
O ótimo+bom de Jair Bolsonaro deslizou para algo em torno dos 25%, mas o “aprova” continua entrincheirado em um terço do eleitorado. Aliás, se você quer saber a aprovação do governo pergunte exatamente isso. Pois sempre um pedaço do “regular” mais aprova que desaprova. E isso não aparece no ótimo+bom.
E o ruim+péssimo oscila em torno da metade dos eleitores.
É preciso tomar cuidado com a aritmética bruta, pois uma
parte do eleitorado não vota. E no Brasil pesquisas não costumam perguntar se o
eleitor vai comparecer. Diferente dos Estados Unidos, onde se levantam duas
estatísticas: a colhida nos “registered voters” (eleitores registrados) e a nos
“likely voters” (prováveis votantes).
A síntese das pesquisas eleitorais relativas ao presidente,
ao governo federal e à corrida de 2022 está algo clara. Jair
Bolsonaro preserva o market share dele no primeiro turno de 2018, em
torno de um terço do eleitorado (não confundir com os 46% do voto válido). Mas
enfrenta a apatia, a desconfiança ou a rejeição no restante do mercado
eleitoral.
Muito em função de como vem conduzindo as políticas para enfrentar a Covid-19.
As próximas pesquisas deverão medir o efeito dos últimos
acontecimentos na adesão do eleitor bolsonarista ao candidato à reeleição. Inclusive qual
será a reação do núcleo duro da base social dele.
Mas a incógnita-chave é como estará o humor da população ano
que vem, especialmente em meados de 2022. Qual será o peso das consequências
da pandemia, após a vacinação em massa? Em que ritmo estará a recuperação
econômica? Qual terá sido o impacto da possível crise energética decorrente da escassez
de água nos reservatórios? O que vai pesar mais: a crítica aos erros do governo
na Covid-19 ou a euforia por ela, ou a maior parte dela, ter passado?
E quem vai se sintonizar melhor com o humor do povão?
sexta-feira, 25 de junho de 2021
Imbroglio indiano
quinta-feira, 24 de junho de 2021
Covaxin
quarta-feira, 23 de junho de 2021
Vacinar todo mundo
Israel tem quase 120 doses de vacina Pfizer, contra Covid-19, aplicadas para cada 100 habitantes. Ou seja, em média cada um recebeu 1,2 doses. E Israel assiste a um repique de casos da doença causada pelo novo coronavírus (leia). Uma hipótese é o SARS-CoV-2 ter acelerado a circulação entre não vacinados, especialmente os jovens. A ordem lá agora é começar a vacinar as crianças.
No Chile, cuja proporção de vacinas aplicadas é só ligeiramente inferior a Israel, acontece algo parecido. Cresce, por exemplo, a pressão sobre as UTIs. Ali a vacina predominante é CoronaVac. As notícias dão conta de que cerca de 85% dos pacientes sob cuidados intensivos são não vacinados. Mais um exemplo de que o único objetivo razoável numa campanha de vacinação é vacinar todo mundo.
A guerra de informação impulsionada no âmbito da guerra comercial e política induz as pessoas, e os países, a perder tempo discutindo se a vacina A apresenta tantos pontinhos percentuais a mais ou a menos de eficácia que a vacina B. Isso, a rigor, não tem a menor importância. Aliás o debate carrega um risco. O risco de países passarem a priorizar a aplicação de novas doses em quem já foi vacinado, em vez de vacinar mais gente.
Repetindo: a missão é vacinar todo mundo. O resto é diversionismo.
terça-feira, 22 de junho de 2021
O estado das forças
segunda-feira, 21 de junho de 2021
Números da economia
As instituições financeiras consultadas pelo Banco Central (Boletim Focus) elevaram de novo a previsão de crescimento da economia este ano. Passou a 5,0%, contra 4,85% na semana anterior. Quatro semanas atrás estava em 3,52% (leia). Estamos na fronteira do primeiro para o segundo semestre, época em que naturalmente as previsões começam a correr menos risco de acabar divergindo da realidade.
Se os números otimistas se confirmarem, haverá, é claro, duas leituras. O governismo dirá que crescer esse tanto é um sucesso. Já o oposicionismo contestará que se tratou apenas de recuperar a queda do ano anterior, com um pequeno troco. Será a típica situação em que os dois lados têm razão, mas a pergunta que interessa é outra: qual será a percepção do eleitorado, considerando que tem eleição ano que vem?
Outra certeza é que esse relativo otimismo dos chamados mercados ainda depende, para concretizar-se, de atravessar duas incertezas: 1) haverá uma nova onda, uma nova aceleração de casos e óbitos pelo novo coronavírus? e 2) qual será o efeito, sobre a economia, do encarecimento da energia provocado pela crise hídrica? O Boletim Focus indica que os entrevistados responderam com otimismo às duas perguntas.
sábado, 19 de junho de 2021
A economia separa os dois antibolsonarismos
A correlação de forças na Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado da Covid-19 é um certo termômetro da movimentação política nesta antevéspera do processo eleitoral. Ali, refletindo o país, é visível a cristalização de um antibolsonarismo à moda de alguns "anti" das décadas passadas. Juntam-se visões antagônicas, mas unidas pelo propósito único de remover o governante. As diferenças? Ficam para depois.
Há, entretanto, uma distinção, mesmo ainda sutil, na
comparação com eventos históricos relevantes anteriores. Vamos lembrar os dois
momentos recentes mais emblemáticos de hegemonia política, e emocional, do
“anti”: a superação do regime militar pela Aliança Democrática de Tancredo
Neves e a remoção do PT na deposição do governo Dilma Rousseff. Os dois
episódios foram resultado de coalizões heterogêneas.
Mas bem menos que esta agora, potencial, contra Bolsonaro.
Nos dois casos citados, acabou se solidificando um consenso
razoável tanto na política quanto na economia. A Aliança de 1984/85 queria a
redemocratização, mas também o desenvolvimentismo. E o antipetismo de 2015/16
desejava tirar Dilma, mas também vinha coeso em torno de avançar o que acabou
entre nós ganhando o nome de “agenda liberal”. Que resiste bem, como mostram as
votações para privatizar a Eletrobras.
A situação tem algo de curioso. O antibolsonarismo está vivo
na vontade de tirar Bolsonaro. Mas não tem coesão na economia. O antipetismo
está vivo, entre outras coisas, no desejo de manter o rumo da política
econômica aplicada pelo menos desde Michel Temer e continuada por Paulo Guedes.
E aqui vem uma encrenca para quem busca o poder em 2022: o que vai pesar mais na
urna, o impulso para trocar o presidente ou para manter o trajeto econômico?
Note-se que parece haver uma janela potencial para
alternativas que proponham substituir Jair Bolsonaro, mas sem romper com a
agenda liberal. Qual o problema, por enquanto? De novo, a capacidade de um
candidato com esse perfil superar a barreira de entrada: a fidelidade de pelo
menos um terço do eleitorado ao presidente e do mesmo tanto ao principal
adversário no momento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por falar nele, sempre é possível especular com um
deslocamento de Lula ao “centro” na política econômica. Esta semana ele disse
que vai revogar o teto de gastos. Mas convém prudência. Será imprudente supor
que Lula se aferrará a uma determinada linha econômica se ela trouxer risco de derrota eleitoral. Especialmente se em meados do próximo ano a
economia e o emprego estiverem em expansão.
Pesquisas temáticas costumam indicar que a maioria no Brasil quer mais Estado na economia, mas há um amplo consenso na elite contra políticas econômicas menos privatistas que a atual. Na teoria, o vencedor na urna precisará manter equilibrados e rodando esses dois pratinhos sobre as varetas. Ou então pode tentar ganhar a eleição dizendo uma coisa e depois fazer o contrário.
Da última vez não deu muito certo.
sexta-feira, 18 de junho de 2021
Inovação
Uma ponta não fecha
Pelo menos no segundo turno da eleição.
Bolsonaro vem se orientando por um único parâmetro desde a chegada da Covid-19. É evidente que, na visão dele, os adversários só querem mesmo é usar a epidemia para provocar o colapso econômico, e assim impedir a sua vitória em 2022.
Mas tem um detalhe, uma ponta que não fecha.
Qual seria então a atitude racional para confrontar essa eventual estratégia inimiga? Concentrar todos os esforços na obtenção de vacinas. Em paralelo, apoiar medidas simples, e economicamente pouco destrutivas, de proteção individual e social (máscaras, higienização), até em contraponto ao radicalismo do “lockdown até a vitória final”.
E isso independeria de acreditar, ou não, no efeito curativo dos fármacos que o presidente propagandeia para a doença.
Mas em algum momento dessa história Bolsonaro parece ter perdido a mão, ter ficado enredado da teia dos acontecimentos, dos preconceitos, da ideologia e das pressões.
Em primeiro lugar, sua inclinação ao conflito como método preferencial de ação política permitiu ao governador de São Paulo atraí-lo para uma armadilha. Talvez João Doria não venha a ser o beneficiário final, eleitoral, da birra do presidente contra a CoronaVac, mas alguém com certeza vai faturar.
Tampouco se deve subestimar outro detalhe: Jair Bolsonaro nunca quis desafiar o núcleo duro da sua base, no qual florescem as teorias antivacina. E somam-se a outras ideias exóticas (por exemplo contra as máscaras) e à obsessão antichinesa. Um resultado prático é a grande dificuldade de o presidente ligar a imagem dele à vacinação.
E até que ela vai razoavelmente, para um país que ainda não fabrica autonomamente o imunizante.
A maioria da CPI da Covid-19 sustenta a tese de Bolsonaro ter apostado, desde o início, na aceleração da imunidade de rebanho. Mas, mesmo que tenha sido, isso não explica o incômodo com as vacinas. Pois elas ajudariam, como ajudarão, a antecipar a imunidade coletiva, e portanto a reabertura e a recuperação da economia.
E não é razoável acreditar que Bolsonaro desconhecesse o efeito eleitoral negativo de centenas de milhares de mortes. A conclusão? Uma mistura de excesso de submissão à base, ou falta de liderança (dá na mesma), e erros sérios na projeção dos efeitos letais da livre transmissão viral.
Terá consequência eleitoral? Saberemos daqui a pouco mais de um ano.
Mas suponha-se que Jair Bolsonaro consiga a reeleição em outubro de 2022. Aí as análises com engenharia reversa concluirão que o presidente fez tudo certo, e os adversários tudo errado. Claro que as coisas não são bem assim, todo mundo erra e acerta, e no final quem pode mais chora menos.
E a condução das políticas durante a pandemia fez com que agora Bolsonaro esteja dependendo mais que antes dos erros dos adversários. Quando lá atrás eram estes que dependiam totalmente dos erros dele.
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Publicado na revista Veja de 23 de junho de 2021, edição nº 2.743
quinta-feira, 17 de junho de 2021
Uma nova variável
quarta-feira, 16 de junho de 2021
Conta-gotas
E a Agência Nacional de Vigilância Sanitária continua liberando a vacinação com a Sputnik V, mas a conta-gotas (leia). Método que não foi aplicado a nenhuma outra vacina. Pode-se argumentar que é por razões de segurança. Mas aí aparece um problema: se a vacina é segura, por que não liberar de vez como as demais, e se não é segura, por que não simplesmente vetar?
É legítimo que o leigo olhe isso e deduza estar o Brasil imerso num ambiente irracional. Mas o caso da Sputnik V é um ponto fora da curva, até neste nosso bizarro ecossistema. Precisamos de vacinas. Urgentemente. A velocidade da vacinação parece ser a variável decisiva no combate à propagação entre nós do SARS-CoV-2. Ainda mais agora com as novas cepas, mais transmissíveis. E ao que assistimos?
Assistimos a um jogo de empurra. Em vez de um esforço nacional coordenado para trazer todas as vacinas disponíveis, e o mais rápido que der, ficam uns e outros criando problema com a vacina alheia. A Anvisa é teoricamente um órgão mais técnico que político. A Sputnik V, ao contrário de outras, até agora não deu problema em lugar nenhum. A conclusão deveria ser lógica.