sábado, 30 de abril de 2022

Sem barreiras intransponíveis

Não é a primeira vez que se diz isso, mas seria desejável as pessoas manterem uma relação menos passional com as pesquisas eleitorais. Seria desejável mas é impossível. Ao trazer o desfecho das urnas a valor presente, antecipam-se estados de euforia e depressão que costumam caracterizar o posfácio da eleição. É emoção pura. São amor e ódio garantidos.

O habitual, por isso, é as pessoas amarem as pesquisas boas para seus candidatos e odiarem as ruins. É um direito. Mais prudente, entretanto, seria tentar olhar os números com algum distanciamento. E há um caminho: em vez de repudiar as pesquisas, ou acreditar só em algumas, melhor tentar olhar o que têm em comum. Inspirar-se na lei dos grandes números.

Segundo a qual, quanto mais vezes você repetir a mesma experiência, mais a média dos resultados tende a aproximar-se do resultado esperado.

Vale em algum grau para as pesquisas feitas pelas diversas empresas do mercado, ainda que haja distintas metodologias, e por isso não dá para falar, a rigor, na repetição da mesma experiência. Mas uma leitura mais flexível e menos rigorosa da regra é legítima aqui: quanto mais pesquisas você olhar, mais improvável que os traços em comum de todas estejam errados.

O que dizem todas as pesquisas? Hoje, 1) Luiz Inácio Lula da Silva está à frente de Jair Messias Bolsonaro. Mas, 2) este vem encurtando a distância, reagrupando principalmente o eleitorado dele de quatro anos atrás, porque 3) o quadro geral na saúde e na economia apresenta alguma evolução e 4) o contingente que rejeita o PT não encontra alternativa crível.

Onde está o coração da corrida eleitoral? Tentar descobrir qual é exatamente o eleitor em disputa. Pois as energias e os recursos escassos das campanhas precisam ser alocados para onde podem render voto, ou ao menos tirar do adversário, e não para malhar em ferro frio.

A mais recente pesquisa BTG/FSB trouxe Bolsonaro com 30% de intenção espontânea. Na margem de erro, corresponde ao que ele reuniu no primeiro turno quatro anos atrás, pouco mais de 33% do total do eleitorado. Por que a comparação tem de ser com o total? Porque as pesquisas não abrem o questionário perguntando se o eleitor vai votar ou não.

Lula, no momento, vive uma estabilidade. No voto espontâneo, consegue 36%. Reúne o eleitorado duro petista e lulista que levou Fernando Haddad ao segundo turno em 2018 (pouco mais de 21% do total dos eleitores), mais um pedaço dos nem-nem de quatro anos atrás e mais um tanto de gente que só aceitou Bolsonaro quando a opção era o PT.

É razoável interpretar o comportamento desses dois últimos grupos com uma função direta da rejeição ao atual presidente. Ou seja, o desafio colocado para Bolsonaro hoje é um só: diminuir a rejeição. O que pode ser buscado reduzindo a própria ou aumentando a dos adversários, principalmente a do adversário principal.

Tentando fazer com que este seja mais rejeitado que o presidente pelo eleitor flutuante.

Dilma Rousseff reelegeu-se assim. Em setembro de 2014 seu bom+ótimo estava em torno de 35%, mas uma campanha duríssima contra os desafiantes, Marina Silva no primeiro turno e Aécio Neves no segundo, fez mais gente acabar rejeitando os adversários do que o contingente que não queria saber da reeleição da petista.

A Dilma de então levava uma vantagem sobre o Bolsonaro de hoje: não recebia tanto ruim+péssimo, tinha um estoque maior de regular. Mas nada impede o atual presidente de trabalhar para chegar a setembro com uma parte do hoje ruim+péssimo transferido para o regular. É o que os adversários vão tentar impedir.

Se Bolsonaro ganhou quatro anos atrás e Lula lidera hoje, ou 1) uma parte expressiva do não-voto em 2018 (brancos+nulos+abstenção, pouco mais de 27%) inclina-se ao petista e/ou 2) um pedaço significativo dos antes eleitores do capitão hoje respondem “Lula”. 

A primeira hipótese parece menos ponderável para projetar o resultado de outubro. Pois o não-voto tem se mantido algo estável na série histórica.

O principal desafiante e o incumbente disputam, centralmente, alguém que já tinha votado no PT, aí votou em Bolsonaro, agora está bravo com este e tem à disposição um produto já testado, um ex-presidente que saiu bem avaliado do cargo. Mas, atenção: quem já votou em Lula e também já votou em Bolsonaro não enxerga uma barreira intransponível pera acabar escolhendo qualquer um dos dois.

sábado, 23 de abril de 2022

A guerra de posição. Por enquanto?

É sabido, e já foi bem estabelecido, que a progressiva degradação institucional brasileira tem raiz no enfraquecimento terminal do Poder Executivo precipitado ao longo dos governos Dilma Rousseff e Michel Temer. O poder tem horror ao vácuo, então este foi sendo preenchido por atores laterais, mas com apetite e senso de oportunidade. Mesmo quando a coisa adquiria certo caráter fantasmagórico, pela inadequação dos personagens.

Assim, entramos há alguns anos na era da disputa feroz pelas atribuições de poder moderador, formalmente abolido com a proclamação da República, mas materializado de fato desde então na proeminência do Executivo, liderado pela figura do Presidente da República, que atua como um regente da orquestra. Bem ou mal, em períodos ditos democráticos ou nem tanto, isso funciona como ponto de equilíbrio institucional.

O conflito que se desenha entre o Supremo Tribunal Federal e o presidente Jair Bolsonaro em torno da graça ao deputado Daniel Silveira ensaia ser um marco. Não se vislumbra, por enquanto, uma situação de empate. A turma do deixa disso anda sem espaço. A dúvida resume-se a quem vai aceitar se submeter à força superior do outro. Quem capitulará. E tem eleição presidencial daqui a cinco meses e alguns dias.

Visto que no momento nenhum lado dessa disputa de bonapartismos acumulou força para impor a capitulação incondicional, uma curiosidade é quem vai errar primeiro. Quem vai dar o passo que possa cristalinamente ser caracterizado como fora das regras do jogo. Costuma ser um catalisador em rupturas. Nesse particular, ambos os contendores vêm exibindo certo sangue-frio. O que não deixa de ser admirável, dada a quantidade de fichas sobre a mesa.

Enquanto as torcidas esgoelam-se e arrancam os cabelos, segue a guerra de posição. Uma guerra de trincheiras, com preeminência para a artilharia. Quem se arrisca a sair para campo aberto, como Silveira, tem chance elevadíssima de ser alvejado, restando ao indigitado a esperança de sobreviver aos tiros e ser resgatado pelas próprias tropas. O deputado foi, por Bolsonaro. No momento, está ferido mas vivo.

Falar em “desejável” no âmbito da política é correr grave risco de cair nas platitudes habituais. Dito isso, o desejável é que os fatos se encaixem num ambiente capaz de preservar a normalidade interna até o eleitor ser chamado à urna para decidir afinal quem vai ter o direito de se sentar na cadeira do Planalto por quatro anos a partir de janeiro de 2023. E será desejável que o resultado seja reconhecido por unanimidade. "Análise de conjuntura" no momento é calcular em tempo real essa probabilidade.

Em situações assim, é natural que os campos políticos com maior potencial eleitoral estejam entre os primeiros a querer evitar o desandar da maionese. Desde que, naturalmente, não se vejam em risco de remoção do tabuleiro. Já a turma que está em desvantagem, correndo atrás do prejuízo, precisa criar o chamado “fato novo”. Dar uma agitada no cenário para ver se algo de diferente faz ressurgir a esperança de chegar lá.

E haja metáforas.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

O caminho de Bolsonaro

As pesquisas apontam que se a eleição fosse hoje Luiz Inácio Lula da Silva derrotaria Jair Messias Bolsonaro. Mas a eleição é só daqui a pouco mais de longos cinco meses. Então é preciso olhar para os possíveis caminhos de cada contendor, e aí tentar antecipar os cenários prováveis no desfecho.

A maioria dos hoje inclinados ao ex-presidente petista são eleitores fiéis. Fernando Haddad fez 30% dos votos válidos no primeiro turno de 2018 e chegou a 45% no segundo, no auge do desgaste de Lula e do Partido dos Trabalhadores. Mas Haddad perdeu. Se Lula hoje lidera, é por atrair parte dos eleitores de Bolsonaro quatro anos atrás.

É razoável supor que se a pessoa votou em Jair Bolsonaro em 2018 não há uma barreira intransponível a que repita o voto. E o que está fazendo certo pedaço do eleitorado largar o atual presidente pelo ex? Em especial as dificuldades econômicas e o comportamento de Bolsonaro na pandemia.

A rejeição a Bolsonaro é o grande ativo de momento de Lula. Daí que o principal combustível hoje do petista seja também seu principal risco eleitoral. E se ao longo da campanha Bolsonaro reduzir a rejeição entre cinco e dez pontos? Ou aumentar a aprovação esse tanto, o que dá na mesma? Está longe de ser impossível.

Em relatório recente, a consultoria Eurasia cita um levantamento da Ipsos Public Affairs, a partir do resultado de mais de trezentas eleições mundo afora ao longo dos últimos trinta anos. Segundo o estudo, uma aprovação de 35% a seis meses da eleição, o patamar hoje de Bolsonaro, dá ao incumbente 36% de chance de reeleição.

Não se deve confundir “aprovação” com o “ótimo+bom”. Aprovação só pode ser corretamente medida quando se pergunta ao pesquisado se ele aprova ou desaprova a administração ou o governante. Até porque a parte do “regular” que diz aprovar o governo certamente está permeável à possibilidade de votar no situacionismo.

Mas, segundo o mesmo estudo, se a aprovação for de 45% a possibilidade de vitória do incumbente sobe para 78%. Claro, quando o candidato se aproxima da maioria dos votos válidos cresce substancialmente a chance de levar a taça.

Incumbentes costumam ver a aprovação subir ao longo da campanha, e não há motivo para Bolsonaro ser uma exceção, a priori. Mas ele deve enfrentar um obstáculo complicado: a resiliência das dificuldades econômicas. Depois de dois anos de pandemia, veio uma guerra na Europa com repercussões globais.

Que novas medidas econômicas o governo vai adotar para chegar a outubro mais competitivo? Ou vai só rezar e torcer? E qual será a linha de comunicação para reduzir a rejeição do presidente até lá? Uma coisa é certa: se Bolsonaro está em desvantagem, tem, como qualquer governante, instrumentos para aumentar sua competitividade.

Todos os presidentes brasileiros reelegeram-se desde que se pôde reivindicar um segundo mandato. Mas novidades sempre estão à espreita, como o próprio Bolsonaro provou em 2018. O que vai prevalecer?

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Publicado na revista Veja de 27 de abril de 2022, edição nº 2.786

sábado, 16 de abril de 2022

A terceira via está morta? Não

Vai soar meio acaciano, mas em eleições é sempre bom esperar um pouco para chegar a previsões definitivas. E um assunto a merecer certo cuidado, certa delicadeza no trato, é a assim denominada terceira via. Rótulo aliás ruim, pois parece caracterizar uma turma em luta pela medalha de bronze. Não parece abordagem capaz de despertar grande entusiasmo no eleitor. E não tem despertado.

Os dois principais problemas da terceira via a esta altura da corrida são conhecidos: 1) a pulverização entre diversos nomes por enquanto pouco musculosos e 2) a resiliência dos dois líderes nas pesquisas de intenção de voto. Mas há um terceiro problema (sempre esse número...), que a ideologia oficial do nem-nem resiste a admitir: o mercado até agora ambicionado pelo centrismo é modesto.

Os mitólogos da terceira via construíram para si a ilusão de haver um grande contingente simultaneamente anti-Lula e anti-Bolsonaro. Lá atrás fizeram uma conta de padaria, mais ou menos assim: “Se Lula tem firmes 35% e Bolsonaro, 25%, há uns 40% que não querem nem um nem outro”. Era obviamente um erro. Nesses 40% tinha gente disposta a não votar em ninguém e também gente que, no limite, não recusaria escolher o ex ou o atual presidente.

O mau resultado de Geraldo Alckmin em 2018 já deveria ter disparado o alerta, e faz tempo, mas o pessoal continua teimoso em projetar os próprios desejos para a realidade, mesmo depois de todas as pesquisas constatarem uma rejeição simultânea de Bolsonaro e Lula em torno de bem menos, uns 15%. Mas, se isso não é suficiente como ponto de chegada, tampouco é ruim na partida. Lembrar Marina Silva em 2010 e Eduardo Campos em 2014.

Lula e Bolsonaro levam vantagem no momento pois, além de capital político próprio consolidado, propõem-se a disputar uma fatia de mercado bem maior: cada um se apresenta como a salvação para livrar o Brasil da ameaça de ser governado pelo outro. O que aproxima ambos de um market share de metade dos potenciais votantes, suficiente para levar a taça. E na caminhada vão pouco a pouco flexibilizando ou a formulação ou as alianças, ou ambas.

Enquanto o dito centro continua aferrado ao nem-nem.

O desejo de retornar ao poder facilitou ao ex-presidente cativar o PT para deglutir Alckmin na vice. Já a opinião pública petista, lulista e progressista foi mesmerizada pelo “vocês não querem mais quatro anos de Bolsonaro, querem?”. Entrementes, a intransigência programática do PT, como era previsível, vai virando fumaça. Quem prestou atenção notou ter subido no telhado a revogação, ou revisão radical, da reforma trabalhista.

Vai acontecer com outras pautas, como o teto de gastos e a autonomia do Banco Central.

E, do lado bolsonarista, faz tempo que a antipolítica foi para o arquivo morto.

A terceira via tem um caminho para tentar ser levada a sério num jogo ainda no começo: 1) mostrar ambição real de poder, e não só apego a microprojetos (“precisamos fazer bancada”), e 2) falar para o conjunto do eleitorado, dizer o caminho que propõe para o Brasil retomar o crescimento, gerar empregos, combater a inflação e melhorar a segurança pública. Talvez daí comece a ser ouvida pelo eleitor hoje com Lula ou Bolsonaro.

Mas também pode continuar na ladainha do nem-nem e “contra os extremismos”. Como se sabe, um discurso de grande sucesso no povão. Só que não.

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Risco de censura

O andamento do conflito na Ucrânia comprova serem fundados os receios de quem tem um pé atrás sobre o “combate às fake news”, essa modalidade mais sanitizada do “controle social da mídia”, em particular das chamadas “mídias sociais”. Na teoria, o “combate às fake news” apresenta-se como um movimento benigno para evitar que a mentira soterre a verdade. Na prática, é preciso sempre qustionar se não estamos diante de uma batalha pelo monopólio do direito de dar as costas à mesma verdade.

Isso aparece de modo mais agudo em situações bélicas, a exemplo da que se passa na Europa. Todo dia, e mais de uma vez por dia, recebemos informações sobre o caráter maligno de um ou outro lado da guerra. Na impossibilidade de verificar o tempo todo quem diz a verdade e quem está mentindo, prevalece a lei do mais forte. A versão difundida por quem tem mais poder nos variados canais de comunicação.

Melhor ainda se se tem a força necessária para silenciar os “indesejáveis”, em especial quando se invoca um tão sacrossanto quanto obscuro “código de conduta da rede social”. É um mecanismo quase ideal para empresas encobrirem a subserviência a governos, calando a oposição a eles ou silenciando veículos e indivíduos que poderiam trazer ao grande público informações e olhares capazes de lançar dúvidas sobre “a verdade oficial”.

A esta altura, o leitor e a leitora atentos já perceberam que a quantidade de expressões entre aspas neste texto indica quão subjetivo é o objeto em discussão.

Este debate é importante em qualquer contexto, mas mostra-se vital por aqui em ano de eleição. Por uma razão singela. Todo mundo acaba tendo lado partidário e eleitoral, então vamos deslizando para o seguinte cenário: a pretexto de combater as “fake news”, os detentores do monopólio do direito de definir o que é “a verdade” terão melhores condicoes para perseguir aqueles com quem antipatizam e proteger aqueles a quem são simpáticos.

Se a leitora ou o leitor acham que estou exagerando, guardem essa minha afirmação e cobrem-me depois. Ficarei muito feliz se estiver errado.

O ambiente político no Brasil e no mundo anda polarizado. Mas um aspecto parece caminhar para tornar-se amplamente majoritário: de um lado e do outro, ficou para trás a defesa da liberdade de expressão; agora, a batalha é para defender a própria liberdade de dizer o que bem entende, enquanto se busca e aplaude-se toda e qualquer medida contra o mesmo direito dos adversários.

Não foi à toa que os entusiastas do bloqueio do Telegram protestassem dias depois contra a censura à manifestação política de artistas. Tudo muito previsível.

E a violência é praticada frequentemente sob o manto higiênico do “combate ao discurso de ódio”. Ninguém pode, obviamente, ser a favor da difusão do ódio. Mas sempre é saudável verificar, em cada circunstância, se o "combate ao discurso de ódio" não é apenas um disfarce para a censura ao pensamento divergente.

Especialmente nestes tempos dominados pela “cultura do cancelamento”.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

O líder ou a estrutura?

A semana registrou solavancos naturais para o momento no cronograma eleitoral, com partidos e candidatos buscando caminhos para a sobrevivência. O período é particularmente delicado para os nomes com desempenho insuficiente nas pesquisas, pois enfrentam em seus partidos a intranquilidade, sobretudo dos postulantes ao parlamento que não veem motivo para desperdiçar o fundo partidário com candidaturas majoritárias de chances remotas.

As duas dúvidas do momento são João Doria e Sergio Moro, sendo que o governador de São Paulo enfrenta uma circunstância adicional: o temor na seção paulista do partido diante da possibilidade de perder um poder que vem de 1994/95. Ou, num olhar mais flexível, desde 1982/83, quando Franco Montoro (PMDB) arrebatou o Bandeirantes na primeira eleição direta de governadores desde meados dos anos 1960.

Como relatado na análise da semana passada, está em curso um movimento para que a frente de partidos terceiristas suplante as instâncias de cada legenda e convirja num único nome. Capaz de reunir desde a largada a simpatia da fatia eleitoral que não deseja nem Luiz Inácio Lula da Silva nem Jair Bolsonaro. Até agora, o feedback popular não tem sido animador, porém é natural agremiações um dia hegemônicas lutarem para reconquistar o brilho perdido.

O nome do momento é Eduardo Leite (PSDB), mas o otimismo agitado em torno dele deve ser confrontado com a experiência recente. Quantos candidatos a candidato da terceira via já estiveram no proscênio e deixaram de estar? As manchetes favoráveis são como o pico da montanha: mais difícil que chegar lá é continuar ali, resistindo às baixas temperaturas, às tempestades e ao vento inclemente. Eis outra semelhança entre a política e o alpinismo.

Enquanto isso, os dois ponteiros vão consolidando as alianças nos estados. Bolsonaro parece até o momento ter conseguido montar um palanque sólido em São Paulo, algo que Lula já tinha. E na migração permitida pela janela de trocas partidárias as legendas governistas, como esperado, engordaram seus quadros num grau mais expressivo que a oposição. Contribui também o presidente ter chegado a este ponto com percepção de competitividade.

O próximo instante-chave será nas convenções. Até que ponto legendas com candidatos próprios que patinam nas pesquisas vão dobrar a aposta? Ou preferirão engatar seu tempo de rádio e televisão em embarcações mais apetrechadas pera chegar e ancorar em porto seguro em outubro? E usar o dinheiro para fazer bancada? Vem aí mais um período complicado para postulantes que hoje não conseguem projetar expectativa de poder.

A abundância de legendas disponíveis transforma a política brasileira nesta equação de múltiplas variáveis, cujo resultado recorrente é a indeterminação. E a balbúrdia se projeta mais ainda nos estados. Mas a situação nacional está razoavelmente organizada. Com uma curiosidade. Bolsonaro está atrás de Lula, mas parece ter mais base local. O que vai prevalecer ao final, a força do líder ou a da estrutura?