Alon Feuerwerker
jornalista e analista político
bio -> https://pt.wikipedia.org/wiki/alon_feuerwerker
domingo, 30 de maio de 2021
sexta-feira, 28 de maio de 2021
Senado e Câmara
quinta-feira, 27 de maio de 2021
Butantan
O depoimento do presidente do Butantan, Dimas Covas, acrescentou mais peças ao já previsto relatório final da CPI que, se aprovado, irá apontar atos do governo federal que retardaram o início da vacinação no Brasil contra a Covid-19. As informações dadas por Covas juntam-se, portanto, às prestadas pelo executivo da Pfizer sobre as idas e vindas da negociação com o Ministério da Saúde.
O governo tem a favor dele o argumento, exposto novamente hoje pela ala governista da CPI, de o Brasil ser um dos países que mais vacinam contra o SARS-CoV-2, o quarto em números absolutos e o primeiro entre os não produtores de vacinas para a doença. É um fato. Outro fato: cerca de metade das vacinas até agora ministradas são CoronaVac.
Junto com a Cloroquina, as vacinas são o caminho buscado pela CPI para ao final tentar incriminar o presidente da República. Isso será mais complicado de alcançar no caso do medicamento, pois há legiões de médicos prescrevendo. Inclusive porque o Conselho Federal de Medicina deixou a decisão de administrar ou não drogas contra a Covid-19 a cargo unicamente dos profissionais.
Mas na esfera das vacinas vai ficando evidente que o governo acabou por criar um problema jurídico-político para si mesmo. Por, no mínimo, ter tratado o assunto de modo rotineiro, sem senso de urgência, e aparentemente sem imaginar que um dia viria a ser cobrado por isso. Provavelmente por subestimar o impacto que a epidemia poderia ter aqui no Brasil.
Não trabalharam com a possibilidade do pior cenário e agora correm atrás.
E teve também, claro, o componente político, a disputa com o governador de São Paulo. E mais um aspecto, ainda não explorado na CPI: de quem foi a decisão de apostar numa única vacina, a da AstraZeneca/Fiocruz? A explicação dada até o momento envolve a transferência de tecnologia. Mas por que não contrataram para importação todas as vacinas possíveis enquanto não as produzíssemos em número suficiente por aqui?
quarta-feira, 26 de maio de 2021
Como enfrentar?
terça-feira, 25 de maio de 2021
Faltam um tríplex e um sítio
A Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado da Covid-19 exibe algo que os adversários sempre tentaram imputar à Operação Lava-Jato: definiu antecipadamente os alvos e vem conduzindo os trabalhos mais de modo a comprovar a hipótese que desvendar as razões últimas da tragédia sanitária que o SARS-CoV-2 desencadeou no país.
E isso é absolutamente natural.
Claro, pois, diferentemente das investigações da polícia e dos procuradores, CPIs são instrumentos políticos dotados de poder de polícia, e esse tipo de condução é esperada. E existe hoje na comissão uma maioria consolidada contra o governo. Inclusive porque há ali dois parlamentares do Amazonas e que precisam dar satisfações aos eleitores sobre o desastre de Manaus.
A CPI escolheu concentrar em dois aspectos. A cloroquina e o atraso na contratação da vacina da Pfizer. São dois filões a explorar para tentar chegar ao objetivo. Se terão sido as melhores escolhas, só o tempo vai dizer. Não bastará à CPI produzir um power point. Precisará de um tríplex e um sítio. Dois detalhes que renderam dividendos à Lava-Jato no seu tempo. Mesmo que agora estejam a caminho do arquivo.
A CPI precisará achar algo mais material se quiser aumentar a pressão sobre a Procuradoria Geral da República para esta eventualmente oferecer denúncia contra o presidente da República. Ou sobre o presidente da Câmara dos Deputados para este aceitar algum pedido de abertura de impeachment.
Hoje o presidente da CPI informou que o volume de documentos já obtidos pela CPI é recorde. Esta é uma frente. Outra, também a exemplo da Lava-Jato, é aumentar a pressão sobre os depoentes para que algum deles diga o que dele esperam os acusadores. Mais uma coisa que precisaremos aguardar para ver se vai funcionar.
segunda-feira, 24 de maio de 2021
A Sputnik V e a cepa de Manaus
Um estudo da Universidade Nacional de Cordoba (UNC), na Argentina, acaba de mostrar que a vacina russa Sputnik V é altamente eficaz contra a variante do SARS-CoV-2 detectada em primeiro lugar em Manaus, informa a Reuters (leia).
O estudo foi conduzido pelo Instituto de Virologia Dr. Vanella, da UNC, e concluiu que a imunidade desenvolvida em pessoas vacinadas com a Sputnik V neutraliza a cepa após duas doses, e mesmo após a primeira.sábado, 22 de maio de 2021
Dança de dois
Todas as pesquisas, com variações, algumas ensaiando serem ponto fora da curva, dizem a mesma coisa. Há certo equilíbrio entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro no primeiro turno e o petista abre vantagem no segundo, pois traz para ele a maioria das intenções de voto dos demais candidatos.
Alguns levantamentos informam também que caso um terceiro nome
consiga ser a única opção aos líderes da corrida parte de algo entre 10 e
15%. Não é de todo ruim, mas enfrentaria batalha morro acima, vindo a depender da
desconstrução de pelo menos um dos ponteiros. Ou seja, se ambos resistirem à
demolição, ganham a vaga na decisão.
Isso pode parecer o óbvio ululante, mas até dias atrás a
narrativa era outra. Para calcular o suposto potencial da terceira via
deduziam-se do total do eleitorado as intenções de voto no atual presidente e
no ex. Daí concluíam estar a sociedade brasileira ansiosa por uma “alternativa aos
extremos”. Nada melhor que os números para checar a consistência disso.
Bem, se o caminho para Lula e Bolsonaro é evitar a demolição,
será que os movimentos recentes de ambos fazem sentido à luz dessa necessidade? Sim. Cada um está tomando as providências para fechar seu
respectivo flanco. Lula, por exemplo, capricha nas fotos com
ex-adversários que podem conferir a ele a certificação de "político moderado".
Já Bolsonaro capricha no cultivo da sua base fiel. O
bom+ótimo dele nas pesquisas deslizou para a casa dos 25%, mas o “aprova”
mantém-se no até agora inabalável terço do eleitorado que vem com ele desde o
primeiro turno da eleição. Isso é um passaporte para o segundo turno, e antes
disso protege-o dos mísseis apontados a partir das sessões da CPI da Covid-19.
Tanto Lula quanto Bolsonaro recolheram algumas notícias
reconfortantes nestes dias. O ex-presidente viu que sua rejeição,
apesar de alta, não tem dimensão para inviabilizá-lo. E é sempre melhor estar
na frente nas pesquisas. É como no futebol: se 2 a 0 é placar perigoso para
quem está ganhando, imagina para quem está perdendo.
Já o atual ocupante do Planalto tem visto as projeções
econômicas ganharem cores mais otimistas, ou menos pessimistas. Mas há uma luz
amarela piscando: o rebote para cima da curva de casos de Covid e uma certa
tendência da curva de mortes desacelerar a queda, sempre considerando as médias
móveis. E as UTIs voltaram a ficar algo pressionadas.
Um alívio, talvez momentâneo, para o governo é a CPI até
agora não ter chegado no presidente. Essa é uma variável e tanto. Em 2005-06,
as acusações do então deputado Roberto Jefferson desencadearam um terremoto
político de muitos graus e provocaram um tsunami que colheu o PT. Mas no tribunal das urnas Lula reelegeu-se.
Qual será o tema condutor da eleição de 2022? A pandemia? A economia? A corrupção? Façam suas apostas. Os líderes e os candidatos a quebrar a dualidade têm pontos fortes e fracos em cada um desses temas. Eu apostaria que os dois últimos assuntos vão despertar mais interesse do eleitor.
sexta-feira, 21 de maio de 2021
O jacaré e a cobra d'água
Sobre autocríticas e líderes
Tem sido habitual exigir do interlocutor político que faça
autocrítica. Por falar nisso, o tema é sempre uma oportunidade de voltar ao livro
“Depoimento”, autobiografia de Carlos Lacerda. Ele explica por que tentara fazer a Frente Ampla com João Goulart e Juscelino Kubitschek,
adversários figadais dele poucos anos antes. Simples, diz, lá atrás o perigo
tinha sido um. Agora era outro.
O ex-governador da Guanabara talvez tenha sido propositalmente vago. Ou foi delicado no uso das palavras. Lá atrás o inimigo dele era um, Jango, e agora passara a ser outro, o regime militar. Alianças políticas são feitas por critérios de conveniência, e visando a derrotar o inimigo principal.
Mas sempre com um olho no peixe e outro no gato.
Daí a velha máxima: nunca esteja tão ligado a alguém que não
possa romper com ele, nem tão conflitado com alguém que não possa se aliar a
ele.
A exigência de que o outro faça autocrítica costuma carregar
a marca do amadorismo e da ingenuidade. Ou da esperteza. Vamos imaginar que
Luiz Inácio Lula da Silva e o PT aceitassem fazer autocrítica. Algo como
“erramos sim no governo, somos realmente culpados de muito do que nos acusam, mas
prometemos não errar mais”. A única consequência prática seria passarem a
campanha eleitoral não fazendo outra coisa além de tentar se explicar.
O mesmo se dá quando exigem de quem apoiou o impeachment de
Dilma Rousseff admitir a tese de ter sido um golpe. Até imagino o político “de
centro” reconhecendo: “foi mal, o impeachment não tinha base jurídica, erramos,
fomos gulosos, e se entrarmos agora de vice numa chapa prometemos não fazer isso de
novo”.
Na vida política, autocríticas são raras, a não ser quando o
objetivo é fazer a “autocrítica” dos erros dos outros. No mais, é melhor tocar
a vida e concentrar-se no objetivo. Agora, por exemplo, o candidato antiestablishment
de 2018, Jair Bolsonaro, tenta enlaçar a - ou ser enlaçado pela - velha
política, que oferece o escudo de proteção no momento mais perigoso do mandato
dele.
E pode proporcionar a barca para a dura travessia
reeleitoral do presidente.
A política é jogo de interesses, definido pela correlação de
forças. Lula e Bolsonaro disputam nos estados o apoio de políticos que até
outro dia falavam o diabo do PT e de quem o atual presidente e seu círculo
próximo falavam o diabo. E tem mais: os que entre esses políticos toparem outro
caminho, aderir ao centrismo, à chamada terceira via, terão garantido um refresco junto à opinião pública, ganharão de bônus uma bela repaginada na imagem.
Mas a opinião é livre e nada impede que vozes se levantem a exigir coerência, supostamente um valor absoluto.
Será? A coerência é muito perigosa na política. Pode conduzir a desastres. O líder que erra e, para ser coerente, se recusa a corrigir a rota está a caminho de levar os liderados à catástrofe. Não faltam exemplos, velhos e novos.
Bons líderes são os capazes de mudar a rota sem dizer que
estão mudando, e sem ter de explicar por que o hoje é diferente do ontem. Não é
para qualquer um.
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Publicado na revista Veja de 26 de maio de 2021, edição nº 2.739
quinta-feira, 20 de maio de 2021
Pazuello
Os dois dias de depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello expuseram a força e o flanco frágil da Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado da Covid-19. E a fonte de ambas é a mesma. O governo está em minoria na comissão, e isso ajuda a CPI a concluir ao final sobre a responsabilidade do governo, em particular do presidente da República.
Mas o governo estar em minoria na comissão também ajuda a fazer crer que, independentemente dos achados durante os prováveis 180 dias de CPI, a conclusão dos trabalhos já está desenhada.
A história das CPIs mostra que elas têm maior ou menor sucesso conforme chegam, ou não, a algum fato realmente novo, e que oferece a prova da tese que se buscava demonstrar. E que quebra a unidade do bloco alvo.
E aí o julgamento é também político, claro. O que a Fiat Elba tinha a ver com a definição de crime de responsabilidade? A rigor nada. Mas catalisou a comoção popular que deu impulso ao impeachment de Fernando Collor.
O objetivo da CPI é apontar o presidente da República como responsável último pelo elevado e trágico número de mortes por Covid-19 do Brasil. E os senadores oposicionistas trabalham em várias frentes: isolamento e afastamento social, vacinação, tratamentos de eficácia não comprovada, falta de oxigênio no desastre de Manaus.
Todos esses fatos estão bem registrados, mas o desafio da CPI é encontrar o elemento novo para fazer ruir a cidadela do um terço que vai sólido na base social de apoio ao presidente. Mantido esse cacife, ele está capacitado a preservar reunida uma tropa de políticos que verão nele em 2022 a locomitiva dos projetos eleitorais deles. E que portanto estarão interessados em preservá-lo.
Os depoimentos do ex-secretário de comunicação, do ex-chanceler e do antecessor do atual ministro da Saúde não parecem ter trazido essa "bala de prata", ainda que seja provável a CPI ir para cima dos três no relatório final. Mas o jogo, como já se disse e se sabe, está só começando.
quarta-feira, 19 de maio de 2021
Sinal amarelo
terça-feira, 18 de maio de 2021
O chanceler
segunda-feira, 17 de maio de 2021
Estão chegando?
sábado, 15 de maio de 2021
A aritmética, a política, e a filosofia do remador
As pesquisas recentes recolocam a oportunidade de debater um aspecto da eleição de 2022: qual é mesmo o potencial do chamado centro? Na aritmética fria, poderia ser calculado pela soma dos votos aos demais candidatos, fora Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. Hoje, cerca de um quarto do eleitorado. Se fosse isso mesmo, não deixaria de ser animador.
Há maneiras mais heterodoxas de fazer a conta, sem respeitar tanto a política, mesmo caprichando na aritmética. Servem para acalentar o sonho. A fatia de mercado eleitoral poderia ser, por exemplo, tudo que sobra quando saem da cena os eleitores potenciais de Lula e Bolsonaro. Aí aqueles cerca de 25% engordariam bem. O problema é estar incluído nesse balaio quem vai votar em branco, nulo ou não vai votar.
Retornemos então ao primeiro método. Se de fato algum concorrente conseguisse pegar já no primeiro turno pelo menos 90% dos votos hoje declarados a candidatos nem Bolsonaro nem Lula, bateria em uns 20% do eleitorado, o que encostaria em 30% do voto válido, mantidos os percentuais históricos de brancos, nulos e abstenções. Isso foi suficiente para Fernando Haddad ir ao segundo turno em 2018.
Essa possibilidade tem obstáculos políticos, mas antes enfrenta os aritméticos. Fazer 20% do eleitorado numa eleição presidencial é bonito, porém não resolve se outros dois candidatos forem além. Nada indica, no momento, que Lula esteja vulnerável a uma lipoaspiração eleitoral. Bolsonaro talvez um pouco mais. Entretanto, será prudente esperar para ver se os problemas dele chegam a amolecer o núcleo duro do eleitorado bolsonarista.
Debatida a aritmética, vamos aos desafios políticos do projeto de convergir o centrismo. Alguns: 1) Como juntar eleitores tão distintos e 2) como evitar que, inviabilizados certos pré-candidatos, uma boa parte da torcida deles desloque-se para Lula ou Bolsonaro. Nas simulações de segundo turno é isso que acontece. E se o eleitor está disposto a votar em alguém no segundo turno, não é impossível que decida fazer isso logo no primeiro.
A intersecção entre as rejeições absolutas a Bolsonaro e Lula nas pesquisas chega a algo entre 10% e 15%. O resto migra para um dos dois na falta de opção. É um número parecido com o verificado quando se faz a simulação incluindo apenas três nomes: os dois líderes e mais um. Foram realizados levantamentos desse jeito, e o terceiro nome sempre girou em torno de 10%, ou um tantinho a mais.
Começar a corrida presidencial com 10% não chega a ser problema. O desafio é construir uma campanha que consiga deslocar um dos dois que puxam a fila. No momento, a meta do centrismo é tirar Bolsonaro do segundo turno. Lá atrás, foi tirar a esquerda. Mas vieram a elegibilidade de Lula e o desempenho dele nas pesquisas. E a coisa mudou de figura.
Bolsonaro trabalha como no remo: faz força, mas de costas para o objetivo. Se a vaga hoje em disputa para o segundo turno é a de anti-Lula, o atual presidente abre as baterias contra o ex, para não deixar ninguém ocupar o espaço. No momento, Lula só é o inimigo principal de Bolsonaro nos discursos. O oponente da hora é quem quer tomar dele o lugar de adversário número um do petismo.
sexta-feira, 14 de maio de 2021
Vacina parada?
A Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 recebeu de
presente por estes dias um novo filão para explorar: a interrupção do
fornecimento, pela China, do insumo para a preparação da CoronaVac, do
Instituto Butantan. O instituto já repassou ao Ministério da Saúde cerca de
metade das 100 milhões de doses contratadas, mas agora cresce uma sombra a
respeito da outra metade.
Há algum barulho sobre o dito tratamento precoce e sobre a
cloroquina, mas é um terreno movediço para a oposição, visto haver largos
segmentos da comunidade médica e importantes entidades profissionais que adotam e
apoiam essa linha, ainda que sob a capa da autonomia do médico para receitar. E a história da tentativa de alterar a bula da cloroquina pode cair no vazio,
porque não chegou a se concretizar.
Já a vacina oferece um chão mais sólido a quem deseja
arrastar o governo para o relatório final da CPI. O depoimento do executivo da
Pfizer não deixou a administração bem, pois no mínimo ficou a impressão de ter faltado senso
de urgência, de prioridade, em toda a tramitação. E agora, se a interrupção do
fornecimento de insumo para a CoronaVac durar mais do que seria aceitável, abrir-se-á
uma nova frente.
E qualquer pesquisa, ou mesmo a simples observação e o
simples convívio com as pessoas, revela claramente a adesão popular e social às vacinas como meio de
não pegar a doença e esperança de a vida voltar ao normal.
E há um fator negativo adicional. Em vários locais Brasil afora as
autoridades acabaram aplicando como primeira dose um imunizante reservado para a segunda. Por isso, pessoas que deveriam estar recebendo a
segunda dose para completar o processo de vacinação ficarão a ver navios. Quem
pagará o pato político? Em parte, as autoridades locais. Mas uma parcela da
conta certamente irá para o governo federal e sua política exterior.
quinta-feira, 13 de maio de 2021
Senso de urgência
quarta-feira, 12 de maio de 2021
Brasil, Indonésia
terça-feira, 11 de maio de 2021
Anvisa na CPI
segunda-feira, 10 de maio de 2021
Tantos e tão poucos
sábado, 8 de maio de 2021
Jacarezinho, empregos e lei
Toda eleição tem seus temas propulsores, que criam ambiente favorável ao perfil certo. Quando este tem a sorte de, e a competência para, encaixar na demanda. Em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso navegou nos mares do cansaço com a inflação, depois veio Luiz Inácio Lula da Silva para saciar a sede da rejeição à pobreza e à corrupção. O período petista sustentou-se por mais de uma década, mesmo sob acusações relativas à segunda, e muito porque entregava no combate à primeira.
Quando a economia ruiu, a tolerância virou fumaça, veio o impeachment de Dilma Rousseff e depois Jair Bolsonaro surfou as duas ondas do momento: os combates à corrupção e ao crime. Sobre este último, um aspecto evitado sempre que possível no debate é o aparente paradoxo: se os governos do PT reduziram as desigualdades, combateram a pobreza e ampliaram as oportunidades para os antes marginalizados, por que então o crime se agravou no período?
A ponto de a repulsa a ele ajudar decisivamente não só na eleição de Bolsonaro, mas de todo um contingente de políticos ligados à segurança pública Brasil afora.
Aliás, o crime encorpou mais onde a prosperidade avançou de maneira mais pujante, em especial em certas regiões metropolitanas e na fronteira agrícola. Não é opinião, mas fato: o combate à pobreza é fundamental, mas nem de longe é suficiente para solucionar os problemas da segurança pública. É só olhar os números, e tem gente boa que os organiza de maneira cuidadosa. E, simplesmente, o mapa da pobreza não bate com o do crime.
Na falta de consensos, a subida dos índices de criminalidade vai sendo enfrentada na base do “na minha opinião”. Uns acham que é uma disputa de espaços assistenciais entre o crime e o Estado. Outros estão certos de que falta mesmo é punição garantida e proporcional ao delito. Mas tem quem imagina resolver na bala. Jacarezinho. Vão lá, matam um certo tanto e voltam para casa. Quando nova leva ocupa o lugar dos que morreram, vai-se lá e mete-se bala de novo.
Com os habituais “danos colaterais”.
A exemplo da maioria dos outros assuntos importantes, é impossível no Brasil de hoje organizar alguma discussão produtiva sobre como atacar a endemia do crime. Se o debate sobre a pandemia da Covid-19 foi capturado por “certezas científicas”, que aliás independem de comprovação científica e se baseiam somente no "princípio da autoridade", mais ainda algo que se tornou endêmico, parte da paisagem. Ao fim e ao cabo, convive-se com o crime. De vez em quando acontece alguma coisa que produz, como agora, algum calor. Nunca luz.
Entrementes, os candidatos à presidência vão afiando a faca. De um lado, reforça-se o discurso de que a polícia tem mesmo é de eliminar bandidos, e que não se faz omelete sem quebrar os ovos. Do outro, desarquiva-se a panaceia da “presença do Estado”. Será que não está na hora de compreender que sem crescimento acelerado da economia, e portanto das oportunidades, o crime continuará garantindo seu market share na atração de potenciais entrantes no mercado de trabalho?
Empregos e lei. Quem conseguir juntar essas duas ideias, até agora separadas por um muro, vai ter público em 2022.
sexta-feira, 7 de maio de 2021
Expectativa
O front da Comissão Parlamentar de Inquérito vem se mostrando desfavorável ao presidente da República. Um sintoma: o esforço principal dos apoiadores do governo não tem sido para defender as ações presidenciais, mas para buscar enfraquecer a legitimidade dos depoentes críticos do chefe. Transcorreu, entretanto, apenas uma semana, dos noventa dias previstos (prorrogáveis por mais noventa). Dias melhores, e piores, certamente virão.
A resposta do Planalto, aparentemente, é dobrar a aposta. Tendência refletida, entre outras coisas, nas sucessivas declarações de Jair
Bolsonaro sobre o eventual decreto contra as medidas de isolamento social. Se
se materializar, certamente enfrentará obstáculos judiciais. A dúvida é sobre
como, e se, reagirá o Congresso Nacional. De todo modo, a manobra seria útil ao propósito de dividir as atenções com os depoimentos e revelações
da CPI.
Ainda que uma derrota nessa frente do decreto anti-lockdown possa produzir efeito-bumerangue.
A primeira semana não trouxe nada além do previsto, ainda
que este “previsto” já fosse suficiente para gerar alguma turbulência. Quem tinha de
atacar, atacou. Quem tinha de defender, defendeu. Mas não houve fato novo
relevante, um daqueles de arrancar manchetes e abrir telejornais. Como o
governo agiu sobre a cloroquina e sobre as vacinas? Já se sabia. Agora, a
esperança de surgir um fato novo foi transferida para adiante. Para os próximos depoimentos.
Com especial curiosidade para o que dirão o ex-secretário
de Comunicação e o antecessor do atual ministro da Saúde. Sobre os dois focos de atenção da CPI até o momento: as vacinas e a cloroquina. E um ponto é se, e como, ambos vão defender o presidente. Pois em última instância é isto que interessa à maioria da CPI: ela não está atrás de peixes pequenos, ou de ex-peixes, mas do chefe do cardume. CPIs têm ferramentas da polícia, mas são instrumentos políticos.
Atenção também para a eventualidade de se desencadearem operações contra os governadores. O que eleveriaainda a temperatura, mas dificilmente teria por si só a capacidade de inverter a matemática da CPI a favor do governo federal.
O atraente bidenismo
A política econômica do governo Joe Biden vem atraindo certo entusiasmo nas correntes políticas da oposição, pela esquerda, ao governo Jair Bolsonaro. É compreensível. Após muitos anos de difusão do chamado Consenso de Washington, eis que na capital do mesmo nome surge uma administração a propor, entre outras coisas, emitir moeda, reforçar o papel do investimento estatal e taxar quem tem mais, para distribuir a quem tem menos.
A mudança ali, com as ondas de influência irradiadas mundo afora, soma-se vetorialmente por aqui a uma certa frustração com a colheita das políticas aplicadas desde pelo menos a Ponte para o Futuro de Michel Temer. Na sequência veio a dupla Bolsonaro-Paulo Guedes. É razoável admitir que existe alguma continuidade nas orientações definidas para a economia pelos governos que mandam no Planalto desde a ruptura de 2016.
Claro que a análise objetiva exige levar em conta as circunstâncias. Cada um de nós é ele mesmo e suas circunstâncias. Uma foi o governo Temer ter entrado em modo de sobrevivência por razões da área policial, e depois a pandemia da Covid-19 pegou pela proa a administração Bolsonaro. Mas aí enveredamos pelo terreno das explicações e justificativas. E na política, a exemplo de outras esferas da vida, quem começa a se explicar e justificar já está perdendo.
Os ventos bidenistas e a crônica pasmaceira econômica acenderam no Brasil o desejo de uma guinada. Mas qual a viabilidade dela? Que candidato com chances vai pegar a estrada em 2022 dizendo que irá fazer dívida pública pesada para ampliar o investimento estatal e prometendo tomar o dinheiro dos "ricos" (que no Brasil, na prática, incluem uma gorda fatia da classe média) para redistribuir renda pela mão do Estado?
Políticas econômicas precisam ter, antes de tudo, viabilidade política. Há sim teóricos respeitáveis que garantem: fazer dívida em moeda nacional não produz inflação. Mas qual presidente vai arriscar, no sempre instável cenário institucional brasileiro, colocar todas as fichas numa teoria contraintuitiva? Se der errado, seus autores no máximo farão autocrítica. Já o político provavelmente terá ido para o cadafalso, talvez metafórico.
Há uma diferença importante entre o Brasil e os Estados
Unidos. Eles podem legalmente imprimir dólares sem lastro e nós podemos
imprimir reais sem lastro, mas não parece que as consequências venham a ser as
mesmas. Isso e outros fatores devem impelir os candidatos competitivos a buscar soluções mais convencionais. Uma em especial: a atração maciça de
capitais externos para fazer subir a taxa de investimento privado.
Eis por que no próximo governo, pois entramos na etapa conclusiva deste, talvez um ministério de importância renovada será o das Relações
Exteriores. E quem sabe não deveríamos voltar nossos olhos também para o
Oriente, em vez de apenas para o Norte? É pouco razoável imaginar que a economia
brasileira vai se erguer puxando os próprios cabelos para cima. Ou colocando
todas as fichas de política exterior numa única casa.
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Publicado na revista Veja de 28 de abril de 2021, edição nº 2.737
quinta-feira, 6 de maio de 2021
Primeira semana
A primeira semana de trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 terminou como começou. Os oposicionistas e ditos independentes alinhados, juntando elementos para incriminar Jair Bolsonaro por duas ações: 1) o estímulo ao uso e, principalmente, a fabricação de cloroquina e 2) a colocação de obstáculos desenecessários à aquisição de vacinas na quantidade e ritmo necessários para reduzir e no limite interromper a transmissão viral.
Já o governismo buscou construir ao longo da semana uma barreira de contenção, argumentando não haver irregularidade no uso dos medicamentos preconizados no chamado tratamento precoce, ou inicial. E trazendo dados para tentar provar que o ritmo da vacinação aqui no Brasil sofre das mesmas limitações que em outros países não produtores soberanos de vacinas. E que nesse universo até que estamos bastante bem, proporcionalmente à população e em número de doses aplicadas.
Uma variante, para usar a palavra em voga, foi o movimento com o objetivo de evidenciar as contradições entre as atitudes e orientações do atual ministro da Saúde e as do presidente da República. O primeiro buscou ontem reafirmar as próprias convicções sem entretanto chocar-se com as conhecidas opiniões e manifestações do chefe. Ou ao menos sem desautorizar. Aparentemente teve algum sucesso, pois colheu certas simpatias da bancada antibolsonarista e não forneceu nenhum lide explosivo.
Mas estamos apenas na fase de aquecimento. Os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich já deram seus depoimentos, sem que tenha aparecido a chamada "bala de prata". Na CPI, os caçadores preparam-se agora para explorar algumas veredas: 1) quem foi responsável pela crise de Manaus, 2) quem criou dificuldades para a aquisição de vacinas e 3) no que o comportamento presidencial deve arcar com a trágica contabilidade de casos e, principalmente, mortes.
Se formos comparar com o boxe, dá para dizer que nestes primeiros rounds a oposição está ganhando por pontos. Mas isso não basta a ela. O objetivo do governo é não ser nocauteado. Pois se terminar esta CPI em pé sempre terá a possibilidade de dizer na campanha eleitoral que sobreviveu a uma CPI, além de ter atravessado uma pandemia a a grave crise ecômica trazida por ela. Mas ainda estamos no começo. E vêm aí os próximos capítulos. Com personagens potencialmente bem mais complicados.
quarta-feira, 5 de maio de 2021
Reabertura europeia
A Deutsche Welle fez um apanhado dos passos de reabertura em países da Europa que assistem ao refluxo da Covid-19 (leia). São procedimentos impulsionados em parte pela melhora nos indicadores, mas também pelas pressões sociais decorrentes do natural cansaço com as medidas restritivas.
A reportagem relaciona aquela melhora, claro, também ao avanço da vacinação.
Interessante notar que a União Europeia está algo adiante do Brasil no ritmo da imunização das suas populações, mas ainda bem distante dos Estados Unidos (leia). Em algum grau, sofre do mesmo problema que aqui: a decisão de escolher apenas algumas poucas vacinas.
E sem ter, ao contrário dos americanos, o poder econômico e político para reservar a parte do leão para si, de aplicar a política do "farinha pouca, meu pirão primeiro".
Engenharia de obra pronta é confortável, mas a esta altura está mais que claro: a melhor política em relação às vacinas teria sido escolher todas. Não à toa, Europa e Brasil sofrem por não ter resistido, lá atrás, às tentações de se deixar arrastar, nesse assunto, por afinidades ideológicas ou alinhamentos geopolíticos.