A resposta define algo muito importante para a análise: define quem depende do chamado fato novo para atingir os objetivos. Até uma semana atrás esse desafio era de quem queria derrubar o governo. A prisão de Geddel Vieira Lima e a noticiada aceleração das colaborações de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro inverteram finalmente o vetor.
Outro problema novo para os ocupantes do Palácio é uma certa naturalização da necessidade de reformas liberais. Um trunfo do governo era a suposta essencialidade dele próprio para o andamento da lipoaspiração na CLT e da imposição de idade mínima para aposentar. Mas espalha-se a sensação de que não é bem assim.
A CLT light vai nascer esta semana no Senado. Só o imponderável impede esse desfecho. E o inferno policial-político começa a perturbar o impulso da mudança previdenciária. E instabiliza a “agenda”, que também é a base do projeto de continuidade pós-2018. Se antes Temer ajudava quem o levou ao poder, agora começa a dar a impressão de atrapalhar.
Isso costuma ser perigoso, porque não basta ao líder defender seu direito de sobreviver. Ele precisa convencer de que sua liderança é essencial para proteger a tribo. Se a fraqueza do chefe passa a ameaçar a vida dos chefiados estes procuram um meio de eliminar o problema. Para que não se estrepem todos, o poder acaba mudando de mãos. Dilma caiu também por causa isso.
O presidente da Câmara tem potenciais fragilidades legais, mas se assumir definitivamente a cadeira hoje de Temer não poderá ser investigado por atos anteriores ao mandato. É o supertrunfo de qualquer presidente, desde que tome o cuidado de não o perder. E não é tão difícil assim proteger-se do risco. Só não cometer erros primários. Que de vez em quando acontecem.
Há ainda uma dúvida. Se a Câmara autorizar o processo contra o presidente da República este sai por até 180 dias. E se o STF não o condena em seis meses ele volta ao cargo. Será que nesse período o interino goza da mesma imunidade constitucional do titular? Mais um tema para a Corte decidir. Ou esclarecer, se decidir que já está decidido.
Para quem apoia o atual bloco de poder o ideal seria uma solução definitiva. Mas se o presidente renunciar perde o foro, e o afastamento via impeachment consumiria todo o tempo útil até a eleição do ano que vem. Seria uma boa maneira de esticar a confusão até lá. O que só interessa eleitoralmente à esquerda, especialmente ao PT.
PT sem marola
Por falar nisso, é compreensível que o PT não deseje facilitar um governo de transição que dê o reset de imagem e musculatura no bloco adversário. Mas tem algo de diferente no ar. Só o temor da ameaça da Lava-Jato à candidatura Lula explica a falta de apetite do petismo para ocupar espaços de mobilização política abertos pela fragilidade do governo.
O PT não está convocando manifestações pelo #ForaTemer. Não está obstruindo a reforma trabalhista no Senado. Nem a está combatendo na rua. Além disso, não assume publicamente o compromisso de revogar as reformas impopulares se voltar ao governo. São só alguns exemplos. O PT adotou a política de não fazer marola, para que nada imprevisto aconteça.
É verdade que se o presidente acabar derrubado será mais difícil ao PT fazer a denúncia política de uma eventual condenação de Lula em Curitiba. Aliás esse é outro problema que atrapalha a sobrevivência de Temer. Nas idas e vindas do jogo do poder, a permanência dele passou a ser um incômodo para quem precisa do cartão vermelho dos tribunais a Lula-2018.
Os números das pesquisas têm dado gás à linha petista. O PT joga parado e está capitalizando a crise de quem o tirou do poder. Mas numa luta é perigoso deixar o adversário respirar. Se você está perdendo por pontos mas continua em pé é sempre possível tentar nocautear. Se a ideia funcionar terá sido brilhante. Se não, restará ao PT lamentar a oportunidade perdida.
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O apoio do PSDB a governos não tucanos é o passarinho na gaiola que o mineiro leva com ele ao entrar para o trabalho na mina. Quando o passarinho morre é hora de sair correndo.
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