segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Temer segue o roteiro tradicional rumo à mediocridade, mas uma eventual vitória na Câmara teria efeito positivo

Todos os governos brasileiros desde a redemocratização seguem um roteiro parecido. Alcançam o poder carregados de expectativas reformistas, para a esquerda ou para a direita, mas rapidamente perdem velocidade e atolam na mediocridade. Se há dinheiro, sorte ou gordura política, chegam vivos ao termo. Alguns chegam até populares. Mas o balanço é invariavelmente pífio.

As razões são conhecidas. O Estado brasileiro está bem organizado para o subdesenvolvimento. No centenário da Revolução Russa, a comparação com o czarismo terminal é óbvia. Uma burocracia estatal insaciável e insensível, uma inércia agrário-exportadora invencível, uma elite política ocupada só em sobreviver e uma elite econômica de baixa ambição relativa.

Mas mesmo a Rússia imperial teria continuado a vegetar nas suas contradições, não houvesse enveredado pela catastrófica Primeira Guerra Mundial. Os bolcheviques só chegaram ao poder porque o exército russo desmanchou e a fome empurrou a população para a rua. Foi uma circunstância especial. Quando ela não existe, a mediocridade pode perfeitamente perenizar.

Em sistemas como o nosso, ela costuma perpetuar pelo encurtamento das metas estratégicas. Diante da insolubilidade dos problemas, o objetivo do timoneiro resume-se a chegar vivo ao porto da próxima eleição. É o caso dos atuais governadores, com seus estados a caminho da insolvência, provocada principalmente pela inviabilidade da atual previdência pública.

À véspera da votação da nova autorização para um processo no STF, Michel Temer chegou ao denominador comum. Está ocupado apenas em sobreviver. E tem como: sua boia para pisar na praia é a agenda econômica. No grau em que for possível implementar. Os mercados olham mais o rumo que a velocidade. Os mercados também entendem de Brasil.

Onde sempre esteve o risco? Na janela de oportunidade que outros “candidatos a Temer” podem enxergar para oferecerem-se à missão de “tocadores da agenda”. Mas até nisso a fortuna agora ajuda o presidente. Faltando tão pouco para a eleição, é pouco crível que algum outro consiga construir uma liderança capaz de entregar mais do que o atual mandatário.

Pode dar zebra? O desarranjo do sistema político brasileiro alcançou taxas que tornam possível o “raio em céu azul”. Mas ainda não é provável. O tão atacado “centro fisiológico” parece continuar hígido para evitar uma degringolada. De todo modo, é conveniente monitorar o paciente em tempo real. Uma característica do imprevisível é a dificuldade de ele ser previsto.

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As expectativas para a reta final de governo Temer são baixas, mas isso pode vir a ser um ativo. Se sobreviver à nova votação na Câmara, o presidente terá a oportunidade de apresentar algum roteiro de ações, além das privatizações e concessões, para o ano que resta. Até porque a melhora na economia deve lhe dar alguma proteção no ano eleitoral.

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Lula está bem, mas por enquanto há muito voto em disputa num eventual segundo turno. Uma onda anti-Lula arrastaria muitos dos hoje brancos, nulos e “nenhum”. Se Lula é barbada para chegar à rodada final, é possível que outro nome de seu campo tenha mais facilidade para fechar a fatura. Desde que consiga passar do primeiro turno. Não é uma equação simples.

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Não é inteligente contar com a desidratação automática de Jair Bolsonaro quando a campanha eleitoral entrar em campo. A intenção de voto espontânea dele já é alta, e ele parece ter adquirido alguma consistência nos apoios. E todos os adversários têm algum recall. Da lista, ele é o único que nunca disputou uma eleição majoritária. #FicaaDica.

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Se o PT vota para salvar Aécio Neves, terá de arcar com o desgaste momentâneo impulsionado pela opinião pública sedenta de exemplos de que “todos os políticos são iguais". Se vota contra, como fará quando um dos seus eventualmente estiver na situação do senador mineiro? É uma decisão política algo complexa. Mas quem disse que a política é simples?

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