segunda-feira, 10 de junho de 2019

Quando Moro vai se transformar de ativo em passivo para Bolsonaro?

Nunca se saberá com certeza se Luiz Inácio Lula da Silva candidato teria vencido a eleição. Os números do primeiro e segundo turnos indicam um deslocamento rápido e maciço do voto petista para o candidato Fernando Haddad. A campanha na TV foi decisiva. Será que apesar da bem-sucedida operação eleitoral do “candidato do Lula” ainda ficaram uns votos sem passar? E quantos? Será um tema para debate até o fim dos tempos.

Mas é inegável que Lula impugnado em 2018 tornou-se um ativo e tanto para a narrativa petista. O PT poderá dizer para sempre que se o ex-presidente tivesse concorrido seria imbatível. Era o que diziam as pesquisas enquanto ele estava no páreo e enquanto ele constava das pesquisas. Não há números da véspera da eleição comparando o desempenho de Haddad com o de uma hipotética candidatura Lula. Pena.

Só que narrativas não dependem de demonstração científica prévia. Quem diz que o “Petrolão” foi “o maior caso de corrupção da história” não tem como provar, pois tampouco se saberá se houve outro maior, apenas nunca revelado. Se existisse algo como um “jornalismo científico”, quem afirma isso deveria obrigatoriamente, pelo menos, publicar uma tabela comparativa. Mas acho que os manuais hoje em dia não exigem.

Política é guerra, inclusive de narrativas. E a do PT faz um gol importante com a revelação (que surpresa!) das relações íntimas, e talvez promíscuas, entre a Lava-Jato e o então juiz Sérgio Moro. Deve se dar um desconto no “uh! oh!”, pois não apenas Moro e a LJ sempre foram tratados pela opinião pública como uma coisa só: Moro sempre recebeu da mesma opinião pública o tratamento de chefe da LJ. Mas o cinismo e a hipocrisia também fazem parte.

A dúvida agora é outra. Quando exatamente Moro ministro deixará de ser um ativo para o presidente Jair Bolsonaro e se transformará em passivo? E livrar-se de Moro, numa eventualidade, será um problema ou uma solução para o presidente? O ministro da Justiça até agora injetava prestígio nos cofres políticos do governo. Mas, como Elio Gaspari comentou neste domingo, talvez o chefe esteja desconfiado de que o chefiado quer seu lugar.

É baixa por enquanto a probabilidade de as revelações do Intercept sobre os detalhes das relações Moro-LJ baterem na porta do gabinete presidencial. Mas o Intercept diz ter muito material, e uma tática jornalística legítima é deixar o alvo de acusações afundar-se nos próprios desmentidos, enrolar-se na própria língua. O fato: Moro e a LJ estão sendo empurrados para o modo de defensiva. Sabe-se que jogam bem no ataque. Agora veremos se sabem também jogar na defesa.

É um chavão, mas será mesmo o caso de aguardar os próximos capítulos. O mais relevante para a política real: ver se a dinâmica agora favorável no Congresso será afetada. Na teoria, o Legislativo ganha se mostrar disposição de tocar a pauta do mercado enquanto Moro e a LJ tentam não afundar. Mas nem sempre a política se move por decisões racionais. E Moro e a LJ fizeram um número não prudente de inimigos nos últimos anos.

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