• Apesar da pressão da Lava-Jato, equilíbrio de forças continua
• Vice-presidente Michel Temer passa da ofensiva à defensiva
• Incapacidade de políticos desfazerem "empate" reforça protagonismo do TSE
• Governo tenta mandar sinais positivos para a economia, mas juros ameaçam
• Probabilidade de queda do governo (impeachment ou TSE) está em 35%
O ano de 2016 começa politicamente travado pelo “empate catastrófico”, que
se agravou ao longo de 2015. O governo continua empenhado em sobreviver às
tentativas de derrubá-lo, com alguns sucessos parciais mas ainda incapaz de
reunir forças que permitam retomar a iniciativa estratégica, especialmente na
economia. A oposição, apesar de enfrentar um governo fraco e impopular, não
vem tendo 1) coesão interna, 2) clareza programática e 3) capacidade de mobilização
social para romper decisivamente as linhas de defesa adversárias.
A situação política de Dilma Rousseff melhorou porque a alternativa de poder
imediata, o vice Michel Temer, passou da ofensiva à defensiva. Até o fim do
ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu dar o freio de arrumação
no impeachment, Temer era candidato a suceder rapidamente Dilma.
Hoje é candidato a tentar se reeleger presidente do PMDB, sob forte contestação
interna. O vice não conseguiu reunir massa crítica social, popular e
política para dar o salto, e agora enfrenta a contraofensiva governista.
Já o governo, que imaginava ganhar oxigênio com o recesso parlamentar e a
relativa imobilização de um Temer ocupado em continuar no comando do PMDB,
abriu 2016 sob o fogo da Lava-Jato, que, com fatos e factoides, vai fechando
o cerco em torno do núcleo de poder. A favor de Dilma, nada apareceu até
agora que a conecte materialmente aos atos irregulares na Petrobras e anexos.
Contra Dilma, as chamas estão cada vez mais perto de Luiz Inácio Lula da Silva
e, agora, do chefe da Casa Civil, Jaques Wagner.
Apesar de todo o ruído e as pressões contra ele, será preciso esperar fevereiro
para saber se o bombardeado presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha, mantém íntegra a bancada de deputados totalmente fiéis que exibiu ao
longo de 2015, ou se suas atribulações já trouxeram alguma corrosão. Nossa
hipótese principal é que 2016 na Câmara dos Deputados comece como terminou
2015: cerca de 200 deputados apoiando o governo Dilma, pouco mais de
200 fechados contra, e o resto em disputa.
O impasse político e a falta de uma saída visível fazem crescer entre analistas,
empresários e políticos a sensação (ou o desejo) de que o nó górdio deveria
ser cortado pelo Tribunal Superior Eleitoral, quando o TSE se pronunciar novamente
sobre as contas de campanha Dilma-Temer. Sintomaticamente, os
“com-voto” Aécio Neves e Marina Silva já parecem jogar no ponto futuro, pois
se o TSE cassar os mandatos da presidente e do vice haverá eleições na sequência.
Um incômodo para essa opção política é Eduardo Cunha, que constitucionalmente
assumiria a presidência da República na interinidade. Mas é provável
que, numa hipotética convergência para tal solução, a saída prévia do atual
presidente da Câmara se tornaria imperativa. Por renúncia, cassação ou afastamento
pelo STF.
As movimentações em torno da “saída TSE” ainda são incipientes, e não há
certeza entre os políticos de que ela conseguirá o que o impeachment não tem
conseguido: massa crítica. As pressões devem crescer se o governo não conseguir
apontar caminhos para a retomada do crescimento econômico. O principal
obstáculo para uma ação unificada do governo, além da fragilidade congressual,
é a súbita rebeldia do Banco Central, que ameaça subir os juros mesmo
em ambiente brutalmente recessivo.
Nossa avaliação de momento, em probabilidades:
Dilma fica (65%), Dilma e Temer cassados no TSE (20%), Dilma sai por impeachment
(15%).
Para prestar atenção:
• Quem terá a liderança do PMDB/Câmara: governo, oposição ou um tertius?
• O BC vai subir os juros dia 20?
• Michel Temer conseguirá sobreviver à guerra no PMDB?
• Aparecerá algo que conecte Dilma materialmente à Lava-Jato?
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