• Políticos temem novas e maiores operações da Lava-Jato em fevereiro
Dilma Rousseff superou o primeiro obstáculo em 2016 no front econômico, quando o Banco Central decidiu manter a taxa de juros. Ganhos imediatos para o Planalto: 1) retomar a (tentativa de) narrativa sobre a prioridade do desenvolvimento, 2) aliviar expectativas de recessão ainda mais grave e 3) diluir tensão com a base política e social. Os custos: 1) sobem projeções para a inflação e 2) suposta autonomia do BC fica (ainda mais) em xeque. No momento, o trade-off é positivo para o governo.
O desgaste com o mercado (financeiro) foi atenuado pela divisão dentro do próprio mercado: cresce a convicção de que o aperto monetário é relativamente ineficaz para conter a inflação neste quadro de desajuste fiscal estrutural e reindexação disseminada. E mais aperto pode ser tóxico, ao piorar o desajuste, pela despesa com juros.
O sinal do BC evita que Dilma abra novas frentes de conflito com os apoiadores, no momento em que seu principal objetivo é continuar onde está. Uma verdade: se a economia de algum modo determina a política, a política comanda a economia.
Austeridade saiu de 2015 desgastada, produziu recessão digna do nome sem evitar uma inflação anual de dois dígitos. E não há, no horizonte, alternativa política capaz de reunir apoio para ajustar as contas públicas pela via ortodoxa dos cortes.
Fato positivo seria Dilma exibir articulação empresarial. Para isso, o governo descongela o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão.
O governo chegará ao Conselhão com presentes: uma nova leva de concessões na infraestrutura e estímulos à exportação. As intenções são boas, mas Dilma precisará mostrar que vai diminuir a distância entre intenção e execução.
Na política, a fragilidade do impeachment ficou exposta em declarações contrárias de Fernando Henrique Cardoso e Marina Silva. Fragilizado, mas não morto.
Pois vem aí a guerra pela liderança do PMDB na Câmara dos Deputados.
O Planalto tem agora vantagem na disputa, mas a eleição está longe e a previsão de momento é uma diferença de pouquíssimos votos dos ganhadores sobre os perdedores. E nunca é prudente subestimar a resiliência da dupla Michel Temer-Eduardo Cunha. Especialmente em situações de vida ou morte.
Se repetir fevereiro de 2015 e vencer o governo, Cunha terá mostrado força e ganhará combustível para esticar o impasse político e, portanto, aguçar as incertezas econômicas. Se perder, a exibição explícita de fraqueza aproximará o risco de cassação. E aumentará as chances de Temer perder o comando do PMDB em março.
Correndo por fora, Lava-Jato volta das férias. Políticos temem “agosto em fevereiro”.
Nossa avaliação de momento, inalterada: Dilma fica (65%), Dilma e Temer cassados no TSE (20%), Dilma sai por impeachment (15%).
Para prestar atenção:
• O Planalto vai entrar explicitamente na disputa do PMDB na Câmara?
• As iniciativas econômicas do governo animarão o empresariado? • Temer conseguirá esvaziar a oposição interna no PMDB? • Lava-Jato trará novidades sobre Lula e/ou Dilma?(com Fabio Zambeli e Leandro Modé)
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