segunda-feira, 27 de junho de 2016

Ovo de Colombo, "cada um na sua" ajuda governo Temer a buscar estabilidade

Tecnicamente, Dilma Rousseff foi afastada no impeachment. Mas o impeachment foi apenas o instrumento disponível para remover um governo que não governava mais. Estava paralisado havia tempos por três vetores: 1) a perda da maioria congressual, 2) a incapacidade de apresentar um programa econômico viável e 3) a Lava-Jato.

Portanto é lógico que o poder provisório tente neutralizar prioritariamente os vetores que derrubaram Dilma. Michel Temer constituiu uma forte base na Câmara dos Deputados e no Senado e uma equipe econômica vistosa e crível. E a Lava-Jato? Continua a correr no trilho original. Não imune a contradições, mas com velocidade própria.

Diz o ditado que banco não faz pão e, então, padaria tem a prerrogativa de não vender fiado. Cada um na sua. A administração interina procura evitar a armadilha que tragou o governo caído: tenta governar em meio à Lava-Jato e à guerra política crônica.

Dilma até quis o mesmo, mas não conseguiu. Também porque o PT preferiu jogar para a plateia em vez de buscar uma coalizão política realista.

Assim, a instalação definitiva de Temer na Presidência depende menos da contabilidade eventual de votos no Senado e mais de seguir governando. E nesse aspecto os provisórios têm sido, como já dito antes, bastante ajudados pelo PT: a incerteza absoluta sobre o que seria um renascido governo Dilma acrescenta musculatura ao temerismo.

Nem a Lava-Jato vem conseguindo desestabilizar a tendência. Porque 1) não revelou até agora vínculos diretos e inquestionáveis de Temer com a corrupção e 2) porque o ambiente político e econômico vai se adaptando ao novo ecossistema. Polícia Federal e Ministério Público investigam e denunciam, a Justiça julga e o governo governa. Cada um na sua.

Há conexões entre as variáveis, mas há autonomia. Eis o ovo de Colombo: se não faz sentido o governo se meter na Lava-Jato, que tal praticar a mesma lógica no sentido inverso? Se Dilma tivesse colocado o ovo em pé talvez ainda frequentasse o Palácio do Planalto e não estivesse atrás de atalhos, como o nebuloso plebiscito.

Se os procuradores, investigadores e juízes têm suas armas, os políticos também têm. A prerrogativa de removê-los dos cargos antes das eleições continua sendo deles mesmos. Apenas em casos extremos o Supremo Tribunal Federal entra em cena.

Se haverá ao final centenas de deputados e senadores alcançados em algum grau pela Lava-Jato, é impensável que até 2018 o STF vá degolar todos, ou a maioria, ou mesmo muitos. Portanto, a não ser que sobrevenha uma improvável insurreição popular (quem a lideraria?), o destino dos políticos está nas mãos dos políticos até que os eleitores votem daqui a dois anos.

E o resultado do plebiscito na terra da rainha sobre deixar a União Europeia deveria estimular prudência nas previsões eleitorais. Pode ser que as próximas eleições tragam uma mudança radical. E pode ser que não, completaria o Conselheiro Acácio.

Eis por que a política se parece cada vez mais com uma cidade bombardeada. Do alto, a imagem da destruição. De perto é diferente. A cada dia os sobreviventes enterram ou incineram seus mortos e os alheios. Tratam dos feridos. E saem para achar pão, leite, carne, ovos ou verduras. Dá-se um jeito de as crianças continuarem indo às aulas. Busca-se até alguma diversão. E a vida segue nas novas e difíceis circunstâncias.

Claro que sempre existe a possibilidade de alguém encontrar a arma definitiva, que abrevie o desfecho. Uma bomba de nêutrons, que elimine a população adversária e preserve as estruturas para serem ocupadas pelos exércitos vencedores. Não seria prudente afastar completamente essa alternativa. Mas ela não parece provável agora.

Prestar atenção:

1) Nas articulações para substituir Eduardo Cunha

2) Nas delações premiadas que vêm aí

3) Na explicitação da proposta dilmista de plebiscito para a convocação de novas eleições

Até a semana que vem.

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