segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Economia e turbulência na base desafiam o governo, que não tem a inércia a favor

A administração Michel Temer tem ido bem onde havia dúvidas se iria bem, a gestão política, e começa a enfrentar ceticismo onde havia mais otimismo, o relançamento da economia. Mas mesmo na política algumas nuvens ameaçam no horizonte, dado o ensaio de imbroglio na sucessão da Câmara dos Deputados.

As dúvidas na política eram razoáveis, dada a escassez de apoio popular, a sombra permanente da Lava-Jato e a então suposta capacidade de resistência social dos depostos com Dilma Rousseff. O otimismo na economia também, dado o anunciado consenso nacional em torno do que deveria ser feito para relançar a atividade e o emprego.

Na economia, Planalto e apoiadores começam a saborear a realidade vivida pelos governos recentes. A resistência decisiva à racionalidade fiscal não tem estado no desejo de quem governa, mas no entrincheiramento dos governados. Se a aprovação do teto de gastos vai bastante bem, a reforma da previdência anuncia-se complicada.

E vem aí a quebradeira de estados e municípios. Será uma quebradeira "branca", dado que a União vai ser empurrada a intervir em algum momento para salvar da bancarrota. Pois as corporações que parasitam os cofres públicos estão fortificadas nos bunkers da mistificação. A principal delas é que dinheiro tem, apenas vem sendo desviado pela corrupção.

Só que não tem. Os governantes sofrem para vender esse peixe, dado o déficit de prestígio e credibilidade. E também porque a opinião pública está suficientemente alinhada à Lava-Jato para resistir a narrativas destoantes. Mas mesmo se a Justiça acertasse todas as contas com todos os políticos suspeitos, isso não faria, infelizmente, aparecer o dinheiro que não existe.

Estamos num impasse, que freia o relançamento mais decisivo da economia. É um fator que pode vir a complicar a equação em poucos meses. É o tempo que o governo tem para mostrar que está conduzindo o trem para fora do túnel. E disso depende o sucesso político no médio prazo, que para um governo de dois anos é um prazo curto.

Sem ajuste fiscal crível, sem concessões e privatizações aceleradas, o governo Temer passará a ser alvo dos que viram nele lá atrás a porta liberal de saída para a crise. Daí a ser abandonado e ver deflagrada prematuramente a sucessão, seria um passo. E há a novidade Donald Trump, cujas consequências sobre a nossa economia ainda não podem ser precificadas, mas não serão neutras.

Na política, o governo vai bem, com base sólida e ampla, mas tem um desafio mais imediato, que se não for bem resolvido fará o curto prazo político prevalecer sobre o médio prazo econômico. O governo precisa vencer a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados e evitar produzir um personagem poderoso contra si.

Não são desafios triviais. O governo tem a faca e o queijo, inclusive pela fraqueza da oposicão. Mas precisa pedalar a bicicleta, sem trocadilhos. Não pode se abrigar na ilusão da inércia. A inércia não joga a favor sempre.

* Depois que acabou a União Soviética e se desfez o chamado campo socialista, a esquerda enveredou pela luta antiglobalização. Mas em algum momento que, sinceramente, não lembro bem qual tenha sido, converteu-se à defesa de uma "globalização do bem".

Com isso, deixou aberto para a direita o espaço do nacionalismo. E por mais horror que o nacionalismo desperte nos espíritos modernos que acreditaram na "globalização do bem", estes fariam melhor se abrissem os olhos à realidade.

Em épocas de crise, as pessoas olham os espaços nacionais como linhas de defesa. Mais ainda quando as instâncias supranacionais se mostram o que realmente são: bastiões de interesses específicos.

O nacionalismo voltou. Para ficar por um bom tempo.

Prestar atenção:

• A equipe econômica de Donald Trump

• Os protestos contra Trump

• A votação no Senado do teto de gastos

• O ajuste fiscal no Rio

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