segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O desafio da direita é unir o campo antiesquerda e trazer a antipolítica para o voto útil. Não será trivial

Quatro anos após o levante antigovernamental de junho de 2013, e depois da remoção presidencial em 2016, a política brasileira caminha para uma eleição com promessas novidadeiras. Fala-se de ameaças à tradicional polarização PT-PSDB, hegemônica no último quarto de século. A fragilidade relativa está, entretanto, mais à direita, o que parece paradoxal.

Nas duas últimas eleições, a terceira via caminhou pela centro-esquerda. Agora, no ápice e epílogo de um ciclo fortemente antipetista, a dispersão ameaça, contraditória e principalmente, a direita. Proliferam as pré-candidaturas, o PSDB parece hoje dividido e enfraquecido, especula-se com todo tipo de malabarismo para chegar vestido de novidade ao eleitor.

Uma razão da relativa desorganização é conhecida: o PT no poder acoplou-se tão bem ao sistema político que para remover o partido precisaram implodir toda a edificação. Não se faz omelete sem quebrar ovos, mas isso criou um problema: muitos dos comandantes e combatentes antipetistas de primeira linha e primeira hora acabaram soterrados pelos escombros.

Agora a poeira começa a baixar, e o PT aparece algo preservado. Por duas razões, interligadas. 1) A maneira como foi ejetado do Planalto ofereceu-lhe a sempre preciosa narrativa de vitimização e, mais importante, 2) tem um único líder. Os 30% de Lula (quase 40% dos votos válidos) mais a ameaça de o crítico ser associado a um suposto golpismo produzem poderosa dissuasão.

Some-se a isso o perfil da recuperação econômica, fortemente baseada em ganhos de produtividade e nas exportações. A situação melhora, mas não haverá uma retomada brilhante do emprego, que impulsionou as vitórias de Lula, nem uma elevação explosiva do poder de compra dos mais pobres, o combustível para os triunfos de Sarney e Fernando Henrique.

O PT tem um problema grave, o isolamento político. Mas o corpo está inteiro. Já os adversários contabilizam baixas consideráveis. As pesquisas quantitativas são aritméticas ao medirem a perda de massa de cada um. E essa perda de musculatura à direita é o caldo de cultura do novo, que no momento está dividido em diversas facções. Uni-las é o desafio de quem deseja derrotar a esquerda.

Há os antiesquerdistas de raiz, conservadores e algo autoritários, que hoje se agrupam em torno de Bolsonaro. Mas há também os liberais, ou libertários, que defendem a liberação das drogas e do direito ao aborto, entre outras medidas para remover o jugo do Estado sobre o cidadão. Há os defensores do agronegócio, mas há também os adeptos radicais do socioambientalismo. E há muitos outros matizes.

E há os que preferem simplesmente dar as costas à política. A dificuldade de fundir esse mix num único vetor eleitoral fica clara nas pesquisas de intenção de voto, quando trazem o grande contingente potencial de brancos, nulos, não sei e nenhum. Se essa massa ficar à deriva, de todo o alarido em torno do novo poderá dar o velho, como recentemente na eleição extra no Amazonas.

Outro risco para a direita é o potencial de dispersão do assim chamado centro, enquanto parece haver boa convergência em torno da direita mais radical. A lógica diz que haverá um esforço gigantesco do establishment para levar um centrista ao segundo turno, pelo medo de uma direita escancarada perder. Mas, e se não der certo? E se a dispersão mantiver-se, como na última eleição de prefeito do Rio?

A direita tem uma carta forte, que é o potencial apelo ao antilulismo e ao antipetismo num eventual segundo turno. Mas Lula e o PT não estarão parados, e procurarão de todo jeito impedir que o campo adversário se agrupe. É esse jogo que vai definir o resultado final. E acompanhá-lo com sintonia fina será a principal utilidade das pesquisas.

*

A luta interna do PSDB tem uma explicação óbvia. No momento em que o nome tucano estiver definido, são enormes as chances de vir a ser ungido como o preferido do establishment para derrotar a esquerda num segundo turno. É um prato apetitoso demais para ser simplesmente deixado de lado. Ainda vai ter muita briga ali.

Até a semana que vem, ou até algum fato realmente novo pedir uma análise extra.

Um comentário:

  1. Alon, a polarização PT X PSDB não envolve nenhum partido de direita. Além disso, as questões comportamentais da moda têm consequências sociais, sobretudo em países socialmente desestruturados, que incomodam uma boa parcela da população, com razão. O discurso de oposição ao PT, além do tucanismo, foi tomado de assalto por um discurso ultraliberal extremamente ingênuo, consequentemente tomado como refém da esquerda na esfera dos costumes. Nesse cenário, cresceu a insatisfação da população com promessas de esquerda, de um lado, comprovadamente fracassadas na esfera econômica, de outro, claramente comprometida com bandeiras que traz consequências sociais negativas, agravando flagelos como explosão do consumo de drogas, violência e criminalidade. A população, cansada disso, busca uma alternativa viável à direita que, caso não encontre, pode resultar na vitória de Bolsonaro, já que nenhum outro candidato, na prática, se mostra capaz de enfrentar os desafios de um país cada vez mais desestruturado sobretudo ponto de vista social, com consequências que afetam a própria economia e geração de empregos.

    ResponderExcluir