segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O risco de duas ondas opostas deve preocupar o PT. E pode abrir caminho para uma candidatura Temer

Um primeiro olhar sobre o cenário eleitoral mostra o campo à esquerda relativamente coeso em torno de Lula, com alguns pequenos focos de dispersão. Já do lado oposto prevalecem por enquanto as forças centrífugas. Bolsonaro parece ter um público cativo que é de um terço a metade do de Lula. O resto pulveriza-se entre alguns e o nenhum.

Lula tem uma força e uma fraqueza. A força é dele próprio, ele é o dono dos votos de um terço dos brasileiros. A fraqueza relativa é de seu campo político, que hoje está algo isolado. O PT ganhou quatro eleições presidenciais fazendo alianças com pedaços da direita. A urna ainda está longe, mas os sinais são de que isso pode ser mais difícil agora.

A direita tem uma fraqueza e uma força. A fraqueza está na relativa anemia eleitoral exibida por enquanto pelos pré-nomes. O protagonista habitual, o PSDB, não aparece bem, e ninguém desponta até o momento para ocupar o espaço. A força está no antipetismo e no antilulismo: esse argumento tem potencial para criar uma onda antivermelha num eventual segundo turno.

Lula sabe disso, e manobra para abrir caminhos de aliança, mas as circunstâncias da queda de Dilma e a competente narrativa de denúncia e resistência da esquerda, se ajudam a coesionar, também alimentam radicalização. Não seria sábio subestimar o equilibrismo de Lula, mas mesmo para ele não será trivial. E a falta da caneta também atrapalhará.

Um risco para o PT está na possibilidade de duas ondas opostas: uma vermelha no primeiro turno, talvez até para desagravar o eventualmente impedido Lula, e a antivermelha no segundo, fazendo convergir a direita, o “novo”, a antipolítica e uma parte do eleitorado que ficou em casa no primeiro. Tudo para evitar a volta do PT ao poder.

Assim, é lógico que na, digamos, situação a briga seja de foice. Quem for ao segundo turno, se houver, terá uma narrativa pronta e um magnetismo natural para atrair a maioria dos votos “desperdiçados” no primeiro. Por isso está agitado o PSDB e por isso pululam as ambições. E também por isso começa a surgir a possibilidade de Temer candidato.

Michel Temer possui a caneta e terá o discurso de alguma recuperação econômica. Pode inclusive usar o argumento de que apenas ele tem o compromisso com as reformas liberais e também a capacidade de fazê-las andar. O pior que pode lhe acontecer é perder e ser ejetado do cargo em 2019. Mas isso é o que está programado se ele não for candidato.

A movimentação em torno de uma eventual candidatura Temer, já ensaiada na semana que passou, pode atrapalhar a reforma da previdência e portanto enfraquecer o argumento temerista de que ele é capaz de fazer a coisa passar no Congresso. Mas também pode reforçar o discurso de que só ele tem compromisso verdadeiro com a agenda liberal.

Além do mais, ao correr sozinho, o PMDB adia a decisão sobre quem apoiar. A opção seria uma aliança desde o início com o PSDB. Entretanto, o mundo tucano parece eletrizado pela hipótese de disputar o voto como força de oposição. Não se sabe bem como isso poderia ser explicado ao eleitor, mas sonhar costuma ser grátis, pelo menos até a hora em que a conta chega.

O detalhe é que uma candidatura Temer certamente seria do agrado do PT, ao manter e ampliar a confusão do outro campo. E, já que Lula, inteligentemente, anunciou ter perdoado os que ele chamou de golpistas, nunca é demais lembrar que PT e PMDB estiveram juntos durante pelo menos uma década antes do divórcio de 2016. É bom ficar de olho.

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A lógica projeta que a direita e o automaquiado centro vão acabar convergindo em torno de um nome para ultrapassar Bolsonaro e ir ao segundo turno. Mas nem sempre a lógica prevalece. Na corrida para prefeito de São Paulo, foi tão feroz a disputa pela vaga contra Doria no segundo turno que ele acabou ganhando no primeiro.

Uma boa maneira de Lula e o PT evitarem a onda antivermelha no segundo turno é aproveitar a confusão do outro lado e ganhar no primeiro. É muito difícil, mas não impossível.

2 comentários:

  1. Acho equivocado identificar o PSDB como representante da direita. No Brasil, temos essa tradição de considerar como de direita todos os partidos, exceção aos de esquerda radical, de tradição trabalhista ou marxista. Mas em grande parte dos países com tradição democrática um partido como o PSDB seria classificado como de esquerda. Aliás, o PSDB é uma versão brasileira dos Democratas americanos.

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  2. Comentário fora do tópico, mas lá vai. Tarso Genro, em entrevista ao igualmente detestável Mario Sérgio Conti, disse que estão querendo colocar na conta do povo os problemas econômicos do país. Ele só se esqueceu que quem levou a economia do país para o buraco foi o seu partido, que governou nos últimos anos junto com Michel Temer, vice de Dilma. O petista afirmou que os "trabalhadores" de baixa remuneração pagam a conta, enquanto trabalhadores "altamente especializados" não enfrentam o mesmo problema. A oposição entre trabalhadores braçais e "altamente especializados" cria uma falso problema, enquano ignora o essencial. Ou seja, o discurso do PT continua tão demagógico quanto alienado de nossa realidade. Nada do Tarso Genro entender que o "empresariado" local é formado por uma maioria esmagadora de pessoas com baixo poder aquisitivo, sendo impossível um país com esse perfil arcar com nossas caducas leis trabalhistas, que beneficiam justamente os piores funcionários, comprometendo a produtividade e, no atual andar da carruagem, a viabilidade financeira de boa parte dos negócios. Essa Globonews é um lixo inacreditável. Predomina em sua programação uma visão neoliberal e de esquerda a mais superficial e emburrecedora. Incompetentes a não mais poder, escalam para fazer o "contraponto" um zero à esquerda como esse "entrevistador", que além de babaca e arrogante, é burro e só levanta a bola para o entrevistado cortar. "Coragem" ele só tem quando é pra chutar um cachorro morto como Eduardo Cunha. Talvez seja o mais desprezível e canalha entre nossos medíocres jornalistas.

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