quinta-feira, 5 de abril de 2018

O PT entre o PowerPoint e o Excel

Faltaram a Lula e ao PT no STF força própria e alianças. É exatamente o risco que ameaça o partido na eleição de outubro. A legenda encara dois desafios: 1) reagrupar em torno de outra alternativa os cerca de 30% que se mostra(va)m dispostos a votar no ex-presidente e 2) montar chapas nos estados para recolher os cerca de 20% que declaram o PT a sigla preferida. Nenhuma das duas empreitadas será simples, especialmente com Lula imobilizado e desconectado do mundo exterior.

A favor do partido, resta a até agora bem-sucedida operação de politizar ao máximo todo o episódio de caça e condenação. Isso rendeu uma narrativa essencial para atravessar o deserto. Falta ainda saber quanto de espetáculo haverá na captura e no recolhimento do ex-presidente à prisão, e o efeito disso no eleitorado. Uma vez Lula preso, entretanto, a vida prática imporá ao grupo político por ele liderado a necessidade de organizar a batalha de outubro. No cenário positivo, buscando a vitória. No outro, a sobrevivência como ator relevante do palco institucional.

Segundo todas as pesquisas, Lula tem forte influência e capacidade de convencimento em um pedaço do eleitorado medido entre 25% e 30%. Mas isso é, por enquanto, potencial. Precisará ser realizado. O desafio estará na execução. Como em outras atividades, não é pequena a distância entre os slides do PowerPoint de planejamento estratégico e os números frios da última linha do Excel com os resultados da vida real. Uma coisa é a pesquisa dizer que 25% votariam no candidato do Lula. Outra é 25% votarem. Demandará muito trabalho.

O risco de dispersão não é pequeno. É da natureza da política, e da natureza humana, que os demais nomes do chamado campo progressista sejam pressionados pelos seus respectivos grupos a tocar a vida, enquanto o PT fica às voltas com a busca de uma alternativa à inviabilizada candidatura do ex-presidente. E quanto mais o petismo esticar esse enredo, para extrair da vitimização o máximo de dividendos, mais se complicará a vida dos alternativos. Fazer campanha normal ou manter-se na órbita do movimento petista de esticar a corda?

O outro lado

Se Lula fora da disputa remove parte do estímulo à polarização com Bolsonaro, o efeito mais visível da caça judicial e política ao ex-presidente vem sendo uma, digamos, bolsonarização do campo oposto. O episódio todo vem comprovando o caráter ficcional, ainda que baseado em fatos reais, da ideia de existir um “centro” na política brasileira em 2018. Ao contrário, é Bolsonaro que cada vez mais se torna mainstream. Não por estar se deslocando ao centro. Mas pelo “centro” estar navegando para a direita. Basta olhar o que vai, por exemplo, pelo PSDB.

Outro efeito provável da decapitação eleitoral de Lula será o “por que não eu?”. Reduz-se o estímulo a convergências do outro lado. A dispersão abre a possibilidade de ir ao segundo turno alguém, ou mesmo dois, com baixa votação, o que acende ambições em projetos por enquanto flácidos ou até anêmicos. Marina, Alckmin, Álvaro Dias, Temer, Rodrigo Maia, Meirelles, Rabello de Castro, Amoêdo, Flávio Rocha etc. A lógica diz que alguns destes sairão e outros serão vices. Mas a tendência no momento é centrífuga.

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