As melhores pesquisas, as que costumam errar menos, mostram o mesmo fenômeno.
Um certo encapsulamento de Jair Bolsonaro, uma
convergência de seu piso e teto eleitorais, girando em torno de 25% a 30%. O
presidente mantém a fatia de mercado que o alavancou ao segundo turno em 2018,
mas mostra dificuldade de fechar a fatura, se a eleição fosse hoje.
Outro dado relevante é que cerca de 20% do eleitorado, nos
cruzamentos, dizem preferir um candidato que não seja nem Bolsonaro e nem Luiz
Inácio Lula da Silva. Quando são apresentadas as alternativas, naturalmente
esse número cai, pois todo nome carrega com ele alguma rejeição. E nenhum da "terceira via" passa muito dos 10%.
Mas é razoável supor que se houvesse um único nome relevante
"terceirista" (como em 2010 e 2014) ele teria boa probabilidade de
abrir a corrida, daqui a pouco menos de um ano, com uns 15%. O que o colocaria,
mantidos grosso modo os números de hoje, no espelho retrovisor do capitão.
E aí criar-se-ia uma condição já vista em eleições. Se
Bolsonaro se mostrasse consistentemente debilitado no mano a mano com Lula, um
pedaço do mercado eleitoral do presidente poderia achar mais importante
derrotar o petista do que reeleger o capitão.
E Bolsonaro poderia ser objeto de um ataque especulativo
que transferisse alguns pontinhos vitais dele para o nome "de
centro", que seria alavancado ao segundo turno com a missão de derrotar o
PT.
Há alguma especulação, claro, nisso tudo, mas o cenário e as possibilidades numéricas explicam em
boa medida os movimentos dos protagonistas. Especialmente no embate
mais selvagem do momento: para definir quem carregará a espada do antilulismo
em 2022.
Nada disso chega a ser novidade, mas é nesse
contexto que precisam ser olhados os movimentos da agitada semana que fecha.
A muito expressiva, mas não decisiva, mobilização do Sete de
Setembro não deu a Bolsonaro o impulso para o xeque. Mas criou um
equilíbrio de forças propício ao que se seguiu: um cessar-fogo, um armistício.
Para projetar a duração do armistício, a correlação de forças tem mais importância do que as convicções. Sobre estas, aliás, é saudável partir da premissa de que cada jogador, se puder, prefere ganhar o jogo por W.O. Expurgar os adversários da disputa.
A estabilidade do atual cessar-fogo depende, em última instância,
da confiança que dois dos três jogadores principais, o bolsonarismo e o
centrismo, depositam na própria força eleitoral. O primeiro tem a liderança,
ainda que baqueada, da máquina estatal. O segundo tem a hegemonia absoluta
nos mecanismos de formação e controle da opinião pública (que não se confunde
com a opinião popular).
Sobre Jair Bolsonaro, ele estará mais aderente ao armistício quanto mais estiver confiante de que tem boas chances de virar o jogo e buscar a reeleição. E isso nunca deve ser subestimado, pois desde que a reeleição foi permitida todos os presidentes se reelegeram.
P.S: A respeito das frentes, e o tema vale um texto à parte, é sempre prudente buscar fortalecer-se no processo frentista, porque pode acontecer mais cedo ou mais tarde que o amigo de hoje vire o inimigo de amanhã. E é bom estar preparado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário