O segundo turno das eleições municipais obedeceu a uma regra, excluídas as exceções que a
confirmam: ganhou quem conseguiu avançar sobre um certo centro político, da centro-direita à
centro-esquerda. Apesar de alguns insucessos, nesta rodada, de candidatos “do coração” do
ex-presidente Jair Bolsonaro, foi o PT quem mais sofreu com a dificuldade de atrair votos
centristas.
E o que esse peso do centrismo projeta para 2026? A mesma lógica: Os dois polos atraem a
ampla maioria do eleitorado, mas, em situações de relativo equilíbrio, uma minoria de certa
dimensão acaba tendo papel decisivo. Pois quem tem um piso eleitoral alto pode perfeitamente
exibir um teto eleitoral insuficiente para atingir a maioria absoluta necessária para
eleições majoritárias.
Em 2024, a direita exibe mais capacidade de atrair o contingente que pendula entre os campos
ideológicos, diferentemente de 2022. Por algumas razões principais. Duas delas 1) não se
pode alegar no cenário político maiores ameaças à institucionalidade; e 2) o governo federal
não chega a cultivar a frente política que lhe deu a apertada vitória de dois anos atrás.
Algumas análises do primeiro turno creditaram a onda de vitórias do chamado centrão a um
acesso privilegiado a recursos orçamentários provenientes das emendas parlamentares. Pode
até ser uma explicação em municípios menores ou alguns médios em regiões mais
dependentes de verba federal, mas é uma tese insuficiente na ampla maioria das cidades em
que pode haver segundo turno.
Passada a eleição, as atenções voltam-se para o Congresso Nacional, em dois pontos: a pauta
de votações e a sucessão nas mesas diretoras das duas casas. No primeiro, a curiosidade é se
o governo vai ajustar a rota para algo mais centrista, ao olhar as derrotas eleitorais, ou se vai
operar uma fuga para adiante, guinando à esquerda. Alguns sinais apontam na primeira
direção.
Na troca de comando das mesas, o Senado parece momentaneamente pacificado em torno da
recondução de Davi Alcolumbre (União-AP), mas a Câmara dos Deputados ainda apresenta
algum grau de incerteza, mesmo que os ventos soprem a favor de Hugo Motta (Republicanos-
PB). Resta saber qual será o desfecho das ambições dos demais pré-candidatos, se haverá
consenso ou algum grau de disputa.
Parece improvável que, diante dos fracos resultados eleitorais, o governo deixe a eleição das
mesas no Congresso enveredar para disputas que poderiam enfraquecê-lo e até, no limite,
trazer para seu colo derrotas à semelhança da que o PT sofreu para Eduardo Cunha em 2015.
Por mais que a ideologia possar falar alto, mais alto falará o instinto de sobrevivência de Luiz
Inácio Lula da Silva e do partido.
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