segunda-feira, 21 de março de 2016

Dilma na armadilha: saída interessa a quem quer a mudança e também a quem não quer

• Governo e PT chegam isolados ao desfecho
• Sistema político pede quem o proteja
• Obstáculo a uma saída negociada é a Lava-Jato

Os campos chegam definidos ao final desta etapa da guerra. O movimento oposicionista-liberal que desde janeiro de 2015 trabalha para derrubar o governo alcançou vantagem no momento decisivo. Tem dois terços de apoio social, alinhamento da imprensa profissional, suporte das maiores entidades empresariais e uma narrativa fartamente nutrida pela Lava-Jato.

Já o campo governamental-progressista isolou-se. Apesar de inteiro e de agrupar a maioria da esquerda, sua fraqueza progressiva fez perder as condições de puxar o centro. Algumas razões: 1) a incapacidade de atrair confiança para liderar a retomada econômica, 2) o contraste brutal entre os fatos da Lava-Jato e sua simbologia historicamente construída e 3) a impotência diante das pressões entrópicas sobre o sistema político.

No ponto 3, se o poder não consegue se proteger e defender o sistema que o produziu e o sustenta, o próprio sistema procura livrar-se do inútil e perigoso corpo estranho. Então, se é verdade que os empresários estão atrás de uma saída que estimule a retomada dos negócios, e se o cidadão comum deseja a degola dos poderosos que vê indevidamente favorecidos, o ecossistema político busca quem evite a desagregação final.

É a armadilha em que Dilma se deixou capturar: sua saída interessa a quem deseja mudar, e também aos que precisam que quase nada mude.

A estratégia da presidente era apresentar-se como ilha de segurança, correção e firmeza. Para que funcionasse melhor, precisaria de mais liderança pessoal, mais capacidade de comunicação e condições de, em certo momento, romper com as fontes primárias de seu poder. Requisitos para um certo bonapartismo. Não se faz bonapartismo sem Bonapartes.

Entretanto, apesar de este jogo caminhar para o final, ainda não acabou. Será interessante acompanhar se terminará à brasileira, em alguma negociação, ou se caminharemos para a ruptura que produziria longo período de (ainda mais) conflagração político-social. Não há hoje como os vitoriosos aniquilarem rapidamente os derrotados sem ferirem a democracia.

A principal dificuldade para a saída negociada é que ela precisaria incluir o destino político-jurídico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu partido, e não parece que o poder em gestação para o pós-PT tenha, no momento, consenso interno para tal ou força para impor isso à Lava-Jato.

E é difícil imaginar um campo progressista relativamente apaziguado depois de, pelo seu ângulo, ver-se arrancado brutalmente do poder, ter seu líder maior encarcerado e enxergar a ameaça da aniquilação. Que é exatamente o que o público antipetista vai exigir do eventual próximo governo, e é o que os políticos antipetistas querem, para olhar 2018 com mais leveza.

Quem terá papel importante para o desfecho? Lula. Ele enfrenta um duplo desafio: no plano pessoal-familiar, defender-se e defender os seus. No político, cuidar do patrimônio partidário, eleitoral e simbólico que acumulou na vida. Ou seja, manter-se o líder indisputado de uma esquerda forte. Evitar a desagregação que o Partido Comunista sofreu no pós-64, acusado de passividade diante do golpe de estado.

O Lula surpreendentemente pacífico que subiu ao palanque na Paulista dia 18 é a melhor aposta de Lula para atingir os dois objetivos. Há porém, riscos. Um, como em 64, é abrir espaço à esquerda. Este é pequeno, no momento, pois o PT pode adotar a política do “big stick”. O segundo risco são os fatos. Como lembrei semana passada, eles costumam ser teimosos.

Probabilidades: Impeachment 50%, cassação TSE 20%, Dilma fica, sem poder 30%.

Prestar atenção:

• A posição do PMDB do Senado
• Os votos na Câmara para o impeachment
• A Lava-Jato

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