As últimas ações da Lava-Jato injetaram combustível nos grupos que trabalham pela derrubada do governo Dilma. E os movimentos recentes trouxeram fato novo: silenciaram o centro politico e catalisaram a demarcação clara de dois campos: um exige o fim do governo, pelo meio que for, e o outro mostra-se disposto a resistir, também por qualquer meio.
As trincheiras são cavadas no parlamento, na imprensa, nos partidos, nas organizações sociais e nas ruas, a caminho da radicalização. Não há neutralidade. Ambos os lados forçam a saída do duradouro “empate catastrófico”, imagem gramsciana de quando nenhum bloco de poder tem força para se impor.
Mas preparar não implica conseguir imediatamente. Dada a correlação de forças, mais provável é que não haja solução capaz de um desempate real.
Dois cenários são mais palpáveis. Se a presidente escapar do atual impeachment (e ela tem hoje como reunir os votos necessários) é improvável que os adversários aceitem o resultado. Certamente virão com nova ação de impedimento enquanto, abastecidos pela Lava-Jato, estimulam a cassação no TSE. Na outra hipótese, o campo politico e social desalojado pelo que considerará um golpe recusará qualquer conciliação.
Situações assim costumam evoluir para solução de força, que nas atuais condições brasileiras não parece provável. O PT não teria como calar a imprensa, subjugar o Congresso e controlar o Ministério Público. E um eventual governo provisório antipetista não conseguiria dissolver partidos, fechar sindicatos e colocar a oposição na cadeia.
Uma dificuldade para qualquer solução política pacífica é quando não basta resolver o hoje, por causa da sombra do amanhã. Depois da 24a. fase da Lava Jato e corolários, se a oposição aceitar Dilma até 2018 estará dando fôlego a Lula-2018. E fazer dura oposição a um eventual governo-tampão (que parte ponderável da sociedade verá como ilegal e ilegítimo) e a suas prováveis medidas de austeridade será o caminho natural de quem foi desalojado do poder pelo que considerará um ato de força.
É diferente de quando Fernando Collor foi deposto. Itamar Franco (que não poderia se reeleger e portanto não era ameaça a ninguém) parecia ser peça neutra para 1994. Depois, viu-se que não era bem assim, mas a eleição já estava suficientemente próxima.
Um segundo problema é que o duro ajuste de 2015 parece estar no final, e alguns resultados positivos devem aparecer ainda este ano. Também por isso a oposição corre contra o tempo. E o governo, enxergando a luz no fim do túnel, lutará para alcançá-la.
É prudente evitar o pensamento mágico de que uma primeira solução congressual vá permitir a superação rápida da crise política e, portanto, acelerar a retomada econômica. Sem uma aceitação mútua de regras do jogo e sem que um lado capitule, a tendência é de agravamento dos impasses. Nunca é demais lembrar: no teatro da política, o personagem costuma ser escravo do papel.
Decidimos refinar nossos parâmetros sobre Dilma ficar ou sair. Em vez de tratar o impeachment em geral, analisaremos sempre o atual pedido de impeachment. A delação do senador Delcídio do Amaral certamente produzirá um novo, a não ser na hipótese de aditamento, a verificar. Porcentagens: Impeachment (20%), TSE (25%), Dilma fica (55%).
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