segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Temer aproveita-se do que favorecia Dilma. Lava-Jato é a incognita a olhar

Agora que Dilma Rousseff enfrenta a reta final de seu afastamento, com chances maciças (95%) de ser removida definitivamente, é útil relembrar um fator que teoricamente a beneficiava ao longo do processo, para compreender que esse mesmo vetor tende a estabilizar uma eventual administração definitiva Michel Temer. Mas que nunca é definitivo.

Um trunfo de Dilma era sua saída não ser a melhor solução para quase ninguém. Ainda que o PT pudesse estar seduzido por livrar-se do fardo de um governo pessimamente avaliado, e sem chance real de conseguir apoio político consistente, deixar o poder é sempre duvidoso como solução para problemas. E na oposição tucano-democrata não havia qualquer consenso para o impeachment.

No próprio PMDB persistiram por muito tempo sérias desconfianças. A maior parte das facções peemedebistas preferia acomodar-se num status quo já bastante favorável, pelo número de ministérios e abundante espaço politico. Além disso, o peemedebismo temia que sem o PT no palco, o PMDB virasse alvo preferencial da Lava-Jato. A divulgação dos áudios de Sérgio Machado mostrou que estavam certos.

Mas, como se viu mais uma vez nos JJOO, não basta ser favorito, tem de entrar em campo e ganhar. E quem ousa lutar tem sempre chance de vitória. Ninguém está garantido se conta apenas com a inércia. Ela agora joga a favor de Temer. Ninguém tem interesse real na sua derrubada. Mas Temer e seu governo precisam construir o triunfo, se não querem ser sugados pela mesma dinâmica que tragou Dilma.

O temerismo precisa em primeiro lugar mostrar que a recuperação econômica é para valer. Sem Dilma no Alvorada, as cobranças tendem a agudizar-se. O novo governo precisará passar no Congresso alguma medida de austeridade, para o que enfrenta dois tipos de barreiras: 1) pouca disposição na sociedade para aceitar sacrifícios e 2) pouca disposição dos aliados para fortalecer decisivamente o governo.

Outra incógnita são os prováveis baixos multiplicadores sociais da melhora econômica que vem aí. Tudo indica que será um ciclo de intensa busca de produtividade pelas empresas. Somada à prudência trazida pelas incertezas, deve resultar em uma recuperação lenta, ou estagnação, do emprego. Isso se não vier o cenário em “L”: produção de um desemprego estrutural de longo prazo que melhore a competitividade da economia.

E tem a Lava-Jato. O cenário mais provável é que a operação siga autonomamente, com bombas sendo lançadas aqui e ali, mas com o ecossistema politico buscando reduzir seus efeitos. Há conversas sobre alguma iniciativa legal de anistia, mas a probabilidade de algo assim avançar no Congresso é por enquanto baixa, Não há ambiente social.

Pelo conjunto de fatores, o futuro projetado continua sendo de “mediocridade morna”, com sobressaltos periódicos provocados pela Lava-Jato, mas com impacto politico declinante. Desde que, naturalmente, não surjam elementos estruturalmente fortes contra Temer.

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O sucesso esportivo e organizativo do Brasil nas Olimpíadas dá a medida da oportunidade perdida por Dilma quando se deixou convencer de que deveria descolar sua imagem dos grandes eventos trazidos ao Brasil pelo padrinho politico e antecessor.

O sucesso dos grandes eventos dos últimos anos no Brasil permanecerá como um case de desperdício maciço de capital politico.

Prestar atenção:

• Últimas manobras de Dilma para evitar o desfecho

• Elementos que possam perturbar a tendência no Senado

• A crise no Mercosul

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