segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Turbulências na reta final não parecem ter força para mudar o desfecho anunciado

Só dois assuntos atraem de fato a atenção das pessoas neste agosto. Qual será o desempenho do Brasil na tabela de classificação da Olimpíada? Quando será afinal o afastamento definitivo de Dilma Rousseff e o fim da interinidade de Michel Temer?

Os primeiros dias de Jogos vêm empurrando para o esquecimento as profecias catastróficas sobre a organização do evento. É sempre arriscado afastar o imponderável, mas a não ser que ele dê as caras as coisas tendem a correr dentro da normalidade.

Quem se preparou para capitalizar politicamente os aspectos negativos da Olimpíada corre alto risco de sair frustrado. E os que investiram seu capital no sucesso? Devem auferir algum benefício, mas nada que signifique um “game changer”, especialmente no plano federal.

Mas um eventual fraco desempenho esportivo tende a aprofundar o mau humor já disseminado. E os primeiros resultados não chegam a ser animadores, apesar de toda a verba federal despejada em federações e atletas ao longo dos anos de preparação.

Passada a festa ou a autoflagelação, a vida voltará à rotina, e o país se defrontará com a transição tão aguardada, para um governo Temer definitivo ou, numa possibilidade remota (algo em torno de 5%), para a ressurreição milagrosa de Dilma.

Há decepções aqui e ali com a falta de “punch” de Temer no impulso a um programa econômico liberal, mas quem acreditou nisso subestimou 1) a tendência fortemente centrista do PMDB e 2) as dificuldades de o Congresso aprovar medidas contras as corporações e os grupos de pressão.

Do lado da presidente afastada, ela não conseguiu até agora produzir as condições mínimas para o retorno. Faz pensar inclusive se de fato deseja retornar. Ao longo de todo o seu afastamento, ela limitou-se a denunciar o que considera o caráter golpista de sua deposição. É pouco.

Não se sabe, de Dilma, com quem governaria caso retornasse, ou o que faria, especialmente na economia. O líder nunca está no cargo por merecimento intrínseco, mas porque os liderados consideram-no capaz de trazer ganhos (ou evitar perdas) para todos.

Assim, a tendência (95%) é Temer vencer por inércia a batalha final para remeter Dilma Rousseff aos livros de História. Mesmo as mais recentes turbulências nascidas da Lava-Jato, talvez um último fator de desestabilização, parecem ter limitados efeitos destrutivos, no curto prazo.

Se a investigação vai seguir com autonomia inédita, reflexo do nosso estágio institucional e do nosso patamar civilizatório, é também verdade que seus efeitos políticos dependem essencialmente dos arranjos e desarranjos no universo político propriamente dito.

E não parece haver ator político de relevância, e com poder, interessado em deixar nas mãos da Lava-Jato o destino da política nacional. É um quadro já descrito aqui antes: num cenário de terra arrasada, em vez do suicídio coletivo, os políticos tendem a buscar um novo modus vivendi.

O PT quer Lula em condições de disputar 2018. Os quadros principais do PSDB também desejam estar aptos para a disputa. E Temer não tem qualquer interesse na implosão prematura do bloco político que formou para afastar a titular e governar no lugar dela.

Assim, na falta de algo melhor, um eventual governo Temer definitivo já está há tempos precificado pelo mundo político. E o barco seguirá navegando pelos mares tempestuosos deste agosto, rumo ao porto anunciado. Claro que na ausência de sua excelência, o imponderável.

Para acompanhar:

  • As possíveis ocorrências olímpicas relacionadas à segurança

  • As disputas políticas em torno do desempenho esportivo do Brasil

  • As articulações finais para a votação do afastamento de Dilma

  • Os movimentos para a votação da cassação de Eduardo Cunha
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