Agora, alguns finalmente despertaram, nunca é tarde, para constatar: Dilma caiu não por causa da Lava-Jato ou das "pedaladas" (quem ainda se lembra delas?), mas porque seu governo tinha entrado em ruína, pela falta de dois pilares essenciais: uma base de sustentação parlamentar e uma estratégia para a recuperação da economia.
Ou seja, o governo Dilma acabou porque já havia acabado, e o impeachment foi a operação de fachada para remover o entulho. O governo Temer não cai da bicicleta porque continua (sem trocadilhos) a pedalar: não descuida um instante de sua base no Parlamento e mantém firme na ponta da vara a cenoura da reforma da previdência social, nossa nova miragem.
Mas, até quando? Essa é a pergunta do momento. Para respondê-la, é preciso monitorar a variável decisiva nos processos políticos: o tempo.
A economia se recuperará a tempo de transformar em um salto no escuro a eventual cassação do presidente pelo TSE? A Lava-Jato avançará sobre Temer tão rápida e intensamente que afirme a vantagem custo-benefício da deposição? O governo colherá frutos econômicos cedo e em escala que torne algum "candidato do governo" competitivo em 2018?
O tempo explica tudo. Explica por que o governo precisa acelerar a votação da reforma da previdência. Explica por que a oposição petista precisa atrasá-la. Explica por que a Lava-Jato, com seu desejo de aposentar esta geração de políticos, faz de sua velocidade um contraponto à suposta lentidão do andamento dos processos no STF.
O que ajuda o governo na administração do tempo? O maior atributo do Planalto é a falta de alternativas. Mas esse foi, durante um bom intervalo, também atributo de Dilma. Infelizmente, para ela e os dela, a então presidente não soube usar o longo processo, de mais de um ano, para consertar o casco do navio. Como não existe vácuo na política, uma hora a alternativa apareceu.
O que atrapalha o governo na administração do tempo? Sua maior vulnerabilidade é, por enquanto, a ausência de expectativa de poder continuísta. Se o senso comum não via jeito de Dilma chegar ao fim do mandato com tanta fragilidade, o mesmo senso comum diz ser altamente improvável que Temer venha a ser reeleito ou um grande eleitor em 2018.
Isso é um problema. Sem expectativa de poder, as forças centrífugas sobre a base parlamentar tendem a ser quase incontroláveis. Foi o que aconteceu em 2002, ao final do segundo e melancólico mandato de Fernando Henrique Cardoso, com seu saldo de inflação, recessão, desemprego e, portanto, impopularidade. E Lula elegeu-se praticamente na inércia.
Se a economia reavivar a tempo, se o desemprego começar a cair e a confiança do consumidor embicar para cima, Temer tem as condições para atravessar a turbulência político-jurídica. Se não, tanto mais ele tende a ser tolerado no cargo quanto mais perto estiver de passar a faixa.
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Lula tem voto, mas também tem muitos problemas. E quais são as barreiras entre ele e a volta ao poder?
Condenação em segunda instância. Pelo andar normal da carruagem, dificilmente isso acontecerá antes da eleição. Mas o andar da carruagem não precisa necessariamente ser normal.
O STF decidir que réu não pode ser candidato a presidente. Parece haver maioria no tribunal para isso. Mas alguém sempre pode pedir vista.
A rejeição a ele superar os 50%. Hoje ela está declinante, mas uma bem azeitada campanha eleitoral e da imprensa pode fazê-la voltar a subir.
O isolamento político. O maior problema. Se todos que o PT chama de golpistas se unirem contra o PT no segundo turno, Lula perde a eleição. Ou seja, se "petista não vota em golpista", tchau Lula.
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