Dilma Rousseff caiu porque não conseguiu, ou não quis, agir para enfrentar o óbvio: sem apoio parlamentar e sem um programa econômico crível seria difícil cruzar um deserto de quatro anos. Michel Temer resolveu até agora esses dois problemas, e só tem pouco mais de ano e meio para atravessar. Isso lhe garante, na teoria, cortar a fita de chegada em 2018.
Na teoria. Pois as últimas semanas introduziram vetores renovados na equação. 1) A popularidade caiu. 2) A articulação parlamentar para a reforma da previdência enfrenta turbulências. 3) A Lava-Jato desembarcou com luxo na praia do TSE. 4) As pesquisas trouxeram um Lula musculoso e mostram fragilidade da expectativa de poder em 2018 para PMDB e aliados.
Os fatos negativos empurram Temer para a imponderabilidade. Passou a "flutuar". Não há na política quem seriamente trabalhe para derrubá-lo já. Mas o rótulo de "apoiador do governo Temer" começa a ser um passivo incômodo. E as urnas vêm aí. E, se a economia parou de piorar, não há perspectiva de recuperação rápida do emprego e da renda.
Esse cenário não pode se manter indefinidamente. Daí que os agentes econômicos e, principalmente, políticos passem a especular com a possibilidade de o governo não chegar ao final. É uma especulação ainda minoritária, mas se o Planalto não trouxer novas e boas notícias a cassação pelo TSE surfará na inércia com bem menos resistência que o previsto.
Algumas das boas novas esperadas pelos políticos são de difícil execução. O governo não parece ter força para evitar que a Lava-Jato, como uma erupção vulcânica, siga carbonizando o que encontra pelo caminho. É sempre bom recordar que salvar os políticos da Lava-Jato era, desde lá atrás, uma aspiração clara dos que se juntaram ao projeto temerista.
Resta a economia. Numa frente, o Planalto colhe números retumbantes. A retração espantosa de quase 10% fez finalmente a inflação mergulhar. Até os habituais fundamentalistas dos juros, na opinião pública, já olham com mais suavidade para o tema. E inflação em queda torna mais difícil levar gente às ruas para pedir a derrubada do governo.
Mas isso não é garantia de nada. Se o TSE seguir na toada desenhada nas últimas semanas, a indiferença geral talvez não venha a ser suficiente. Lembremo-nos sempre da inércia. Por isso, o governo será estimulado a avançar imediata e radicalmente no rumo das reformas que, na falta de nome melhor, podem ser chamadas de liberalizantes.
O governo Temer precisará ajustar o ritmo para ter valor ponderável a alguém, especialmente às chamadas elites, quando o TSE chegar aos finalmentes. É ilusório imaginar que, havendo maioria nos tribunais para uma decisão favorável à narrativa da "luta contra a corrupção", um governo "flutuante" se manterá apenas com base em manobras jurídicas.
Não se está prevendo aqui que o governo vai cair. Apenas que, se houve um momento no qual a inércia operava a favor de a administração chegar ao final, mesmo enfraquecida, a fraqueza crescente transforma a inércia em adversária. Ou este será o governo das reformas, ou aumenta o risco de ser colhido no caminho da cruzada nacional contra a corrupção.
Ainda que sob a indiferença geral.
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Seria interessante se os institutos de pesquisa saíssem a campo para medir alguns números. Quais são realmente o tamanho e o potencial de João Dória numa corrida presidencial? Quantos já o conhecem? Ele tem um teto acima dos nomes tucanos tradicionais?
E uma outra sugestão de pergunta: "No caso de haver segundo turno na eleição de 2018, em quem você votaria: num candidato apoiado pelo ex- presidente Lula ou em alguém apoiado pelo presidente Michel Temer e pelo PSDB?
Acredito que as respostas seriam úteis para a análise do cenário.
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