segunda-feira, 1 de julho de 2019

Declínio nas manifestações é sintoma de que o governo precisa se preparar para um inverno político

Um vetor fundamental na luta política é atribuir-se superioridade moral. O PT e Lula operaram isso por três décadas, quando consolidaram a imagem de defensores dos pobres. O atributo foi bem neutralizado nos anos recentes pelo gravíssimo prejuízo reputacional decorrente da #LavaJato. Agora acontece com a #LJ algo parecido, ainda que inicialmente num grau bem menor. Os antes combatentes anticorrupção começam a se enredar nas revelações da #VazaJato, sem conseguir até agora montar uma linha de defesa organizada.

Os atos deste domingo foram bem menores que os anteriores em defesa da LJ e Sérgio Moro. É possível, mesmo sendo pouco provável, que as pessoas não tenham comparecido por não verem necessidade. Essa é uma hipótese otimista. A hipótese mais razoável é o navio de Moro e a LJ estar com uma fenda no casco. Mesmo não havendo risco imediato de naufrágio, a embarcação avariada perde velocidade e eficiência, pois a tripulação está mais empenhada em não deixar o barco afundar do que em continuar navegando.

Até agora a defesa da LJ foi algo estabanada e pouco efetiva. Concentrar-se na suposta ação de hackers não ajuda a responder ao conteúdo das mensagens publicadas pelo Intercept e depois também pela Folha de S.Paulo. Nos últimos dias a revista Veja e o jornal Correio Braziliense trouxeram investigações próprias sobre o caso. E as tentativas de desacreditar o conteúdo revelado vem sendo neutralizadas pelo bastante razoável teor das apurações e das checagens. A LJ, efetivamente, não se preparou para ter o jornalismo profissional contra ela.

A informação extra-oficial é que o TheIntercept tem em poder dele algo como 40 gigabytes de arquivos, inclusive cerca de 2 mil áudios. Esse material já está, conforme revelaram os responsáveis pelo jornal eletrônico, armazenado no exterior. Isso, mais a entrada de grandes veículos no caso e mais o direito constitucional de publicar mesmo material fruto de obtenção ilegal, tudo faz prever um cenário de cobertura jornalística prolongada. Ainda que, como defende o bolsonarismo radical, medidas policiais sejam adotadas contra os intercepters.

A isso se soma uma certo declínio, detectado nas pesquisas, do governo como um todo. Que pouco tem a ver com a VazaJato. As frustrações com a economia vão assumindo o centro do palco, e o governo de Jair Bolsonaro será cada vez mais exigido nesse campo. Por enquanto, as vitórias, como o acordo Mercosul-UE, apontam apenas para resultados de longo prazo. Passado um certo período de graça e paciência, algum inverno político, ou ao menos um outono, parece estar a caminho. Será preciso acompanhar para ver como o governo se comporta e enfrenta o período das vacas magras.

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