segunda-feira, 15 de julho de 2019

Um balanço inicial da votação da reforma da previdência. Por enquanto Bolsonaro é o maior vencedor

1. A folgada maioria a favor da reforma foi construída com a liberação maciça de verba orçamentária para os deputados, em escala inédita. Outro empurrãozinho foi o início da ocupação de cargos de segundo escalão por indicação de parlamentares. Quem aciona essas chaves é o Executivo, por ordem direta do presidente. Os congressistas sabem que dependem dele para os empenhos virarem pagamentos, e para o D.O. trazer e manter o combinado.

2. Ao entoarem “Rodrigo, Rodrigo” os deputados não estavam saudando o presidente da Câmara apenas pelo resultado. Saudavam Rodrigo Maia pelo sucesso na operação política de arrancar do Planalto o máximo possível de concessões em troca de aprovar a chamada nova previdência, algo que teriam de entregar à opinião pública por bem ou por mal. Não estavam louvando uma alternativa a Bolsonaro, mas alguém capaz de negociar com ele.

3. O que consolida o apoio congressual ao Planalto é a operação política clássica. Ao contratar uma base com folga nesta votação, Bolsonaro contrata também para as próximas, pois deverão continuar votando com o governo para os empenhos orçamentários virarem pagamentos, e os nomeados continuarem na cadeira. E a maioria ampla alcançada diminui o poder de barganha de parlamentares isolados, ou de pequenos grupos e legendas.

3. Bolsonaro cruzou a primeira cancela com desgaste social perto de zero na sua base. Neutralizou a massa das Forças Armadas, ao acoplar um generoso plano de carreira no projeto sobre pagamentos aos reservistas. Assim, a participação resultante dos militares no sacrifício coletivo, por enquanto, gira em torno de zero. E a comunidade da segurança pode não ter ficado 100% feliz, mas sabe que Bolsonaro agiu para agradar a turma.

4. Este governo promoveu a maior execução orçamentária vinculada a votações no Congresso. 20 milhões de reais anuais por deputado, e 40 por líder. Juntando com o Senado, e arredondando, dá em torno de 10 bilhões em ordem de grandeza. Em quatro anos, uns 40 bilhões. E o presidente atravessou a pinguela ouvindo apenas alguns resmungos na imprensa, pois a operação política do orçamento sustenta uma agenda com amplo apoio jornalístico.

(Qual é a mesmo a diferença entre articulação política e fisiologismo? Fisiologismo é quando o governo faz articulação para aprovar o que eu não quero. Articulação é quando o governo faz fisiologismo para aprovar o que eu quero)

5. O ministro da Economia errou a mão e saiu politicamente desgastado mesmo com o avanço da agenda dele. Nada que não possa ser revertido, ou com a reinclusão da capitalização no Senado, ou, principalmente, com a entrega de resultados no PIB e do emprego. E Paulo Guedes parece estar se movimentando para isso. Mas ficou para trás o tempo das ilusões de que o presidente seria tutelado pelo seu superministro da Economia.

6. “Ah, mas se o Congresso não entregar a reforma da previdência tão rapidamente quanto o mercado espera?” Bem, neste caso o desgaste será todo do Legislativo, no curto prazo. No médio prazo (passagem de 2019 para 2020), o prejuízo político será distribuído entre os diversos atores. No longo prazo (eleição de 2022), a conta irá mesmo para Jair Bolsonaro, inclusive se o Legislativo comportar-se maravilhosamente bem mas a economia não reagir. Só que o presidente da República tem três anos para cuidar desse teimoso problema.

Que é, a rigor, o único problema real dele. Um problema e tanto.

2 comentários:

  1. Alon Feuerwerker,
    Não consegui criar uma conta. Quando abro a janela aparece apenas Julinha que é o nome de minha enteada. Se continuar vou manter o comentário uma vez que constatei que comentário antigo meu apesar de ser com o nome dela e que cheguei a pensar que não seria publicado apareceu como comentário.
    Li o seu novo post "A equação bolsonarista supõe ser impossível, ou no mínimo improvável, a união dos demais. E ele não está tão errado assim na suposição" de segunda-feira, 22/07/2019. É muito raro eu discordar de você. Sempre concordo. É um texto imperdível. E é de admirar como você parece desenhar um quadro que a gente vai conhecendo por parágrafos e que depois de pronto parece mostrar uma joia sem jaça.
    Fico entretanto neste post "Um balanço inicial da votação da reforma da previdência. Por enquanto Bolsonaro é o maior vencedor". Concordo com este também, mas o outro é mais impecável.
    Ocorre que este post tem a frase que transcrevo a seguir e que você a traz entre parênteses:
    "(Qual é a mesmo a diferença entre articulação política e fisiologismo? Fisiologismo é quando o governo faz articulação para aprovar o que eu não quero. Articulação é quando o governo faz fisiologismo para aprovar o que eu quero)"
    Eu lembro aqui como eu fiquei surpreso ao ver você no seu antigo blog tratar o fisiologismo de moco semelhante ao tratamento que eu dou ao termo. Para mim ou o fisiologismo é um crime para o qual já há tipo específico (corrupção, peculato, advocacia administrativa) ou é instrumento indispensável ao processo democrático e quanto mais fisiológico mais democrático é um governo.
    Abraços
    Clever Mendes de Oliveira,
    BH, 20/07/2019

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  2. Alon Feuerwerker,
    Para não espichar o meu comentário anterior, eu não deixei indicado dois posts seu no seu blog antigo e que já traziam um tratamento diferenciado do que se vê na mídia relativamente ao termo fisiologismo.
    Recentemente, junto ao post "Adélio liberado: vai que é sua, “hacker”! – Duplo Expresso 17/jul/2019" de quarta-feira, 17/07/2019, no Blog do Duplo Expresso eu tentei mais uma vez levar à frente esta empreitada de mostrar o fisiologismo com contornos bem diferentes dos que as pessoas estão acostumadas a ver. O Duplo Expresso poderia vir a ser um bom blog pela inteligência dos apresentadores, mas caíram numa de denúncias de teorias conspiratórias que fica difícil o acompanhamento.
    O Duplo Expresso poderia vir a ser um bom blog pela inteligência dos apresentadores, mas caíram numa de denúncias de teorias conspiratórias que fica difícil o acompanhamento. Mantenho o contato porque é um blog de esquerda onde eu acho mais interessante fazer o contraponto.
    Lembrei-me, então, deste seu post mais recente e então fiz busca na internet com o seu nome e o meu e por sorte encontrei post no seu antigo blog em que não só havia menção ao fisiologismo como eu fizera comentário deixando o link para um post antigo seu de antes de eu frequentar o seu blog onde a sua análise do que se chama fisiologismo é bem característica e ímpar.
    O post mais recente é "Tecnicismo impossível (08/07)" de sexta-feira, 08/07/2011, de sua autoria lá do Blog do Alon e cujo endereço é:
    http:// www.blogdoalon.com.br/2011/07/tecnicismo-impossivel-0807.html
    E em comentário que envio terça-feira, 12/07/2011, às 23:35:00 BRT para Alberto099 junto ao comentário dele de terça-feira, 12/07/2011 às 14h31min00s BRT, eu faço referência ao seu post mais antigo "O darwinismo político e o suicídio da elite" de quarta-feira, 09/08/2006, e que pode ser visto no seguinte endereço:
    http://www.blogdoalon.com.br/2006/08/o-darwinismo-poltico-e-o-suicdio-da.html?m=0
    E lembrar que na época do post "O darwinismo político e o suicídio da elite" eu nem acompanhava o seu blog. Eu acho que já disse isso sobre texto seu, mas se eu escrevesse tão bem era exatamente o que eu diria.
    Abraços,
    Clever Mendes de Oliveira
    BH, 20/07/2019

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