Há
dois movimentos políticos em marcha. O primeiro são os (pré-) candidatos na
labuta para ganhar musculatura eleitoral daqui até outubro. Caminham
em três frentes. A primeira concentra-se nas alianças; a segunda, na elaboração
de uma linha que agrade (ou não desagrade tanto) à elite, especialmente no
front econômico-financeiro; e a terceira é a busca de um discurso que encaixe
no anseio popular.
Poucos
têm a maestria de combinar essas três variáveis sem criar um monstrengo
desconjuntado.
É
a rotina das eleições, até aqui nada de novo. Como já dito, Luiz Inácio Lula da
Silva opera com a memória dos governos dele e com o antibolsonarismo. Jair
Bolsonaro, com as possibilidades de ação governamental, o antipetismo e também
a memória dos problemas do período petista. Os demais enfrentam o desafio do
cesto de caranguejos: evitar que outro da “terceira via” escape para fora do
cesto.
Há
um segundo movimento, visível porém implícito. É o das “instituições
funcionando” para preservar o próprio poder, nutrido desde 2015 no caldo de
cultura do enfraquecimento presidencial. Começou com Dilma Rousseff e seu
complicado segundo mandato, seguiu com Michel Temer e sua desidratação
progressiva e atinge o ápice agora com Jair Bolsonaro e suas dificuldades,
especialmente na pandemia.
Qual
será o poder do próximo presidente (inclusive e principalmente se for o atual)
sobre o orçamento federal? Bastante relativo. O comando das despesas
governamentais é hoje prerrogativa do Congresso Nacional, fenômeno sintetizado
e simbolizado na dimensão adquirida pelas emendas parlamentares. Mas não só.
Nunca o Legislativo teve tanto poder sobre o dinheiro que em teoria deveria ser
decidido pelo Executivo.
Como
será a relação de um presidente “zerado” (ou quase) pela urna, empurrado a
Brasília com uns sessenta milhões de votos, tendo diante dele um Congresso
viciado no ultraprotagonismo orçamentário? E como será a relação com um
Judiciário que tomou o Poder Moderador, formalmente abolido com a República mas
informalmente exercido até outro dia pelo Executivo? Quem apostar em tensão e
ranger de dentes não vai errar.
Mesmo
que diante do distinto público, pelo menos no começo, todos procurem manter as
aparências.
No
Parlamento, ensaia-se enfrentar o desafio desenterrando, pela enésima vez, a
tese parlamentarista, agora maquiada de “semipresidencialismo”. Aliás é o que
se passa desde a formação da Nova República. Procura-se resolver o problema
amputando, ou ao menos lipoaspirando, a soberania popular. Bate-se continência
para a memória das “diretas já” e conspira-se para enterrar o que frutificou
dela.
A
ideia do parlamentarismo foi derrotada em dois plebiscitos, mas a esperteza de
batizar como “semipresidencialismo” embute o truque de dizer “não, não estamos
desrespeitando o resultado da consulta”.
Já
o Judiciário testa os limites de seu ativismo, e ainda parece longe de
enfrentar alguma resistência significativa. Transformou-se no chancelador em
última instância de todo e qualquer ato governamental. Como isso será revertido?
O
exemplo não é novo, mas vale repetir: sabe-se como transformar o ovo cru em
omelete, mas ninguém ainda descobriu como percorrer o caminho inverso.
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