Quem tem caminho para chegar vitorioso a outubro de 2022, em um ou dois turnos? No momento, todos os campos, apesar do clima de estagnação. Está é natural, pois as pesquisas mostram-se algo inalteradas e convergentes. Se a eleição fosse hoje, Luiz Inácio Lula da Silva ganharia. O detalhe: a eleição não é hoje, temos pelo menos longos oito meses e meio até lá.
É um período para a terceira via tentar conectar-se ao ponto sensível das
massas. O principal obstáculo é ela, a terceira
via, continuar acreditando que existe na sociedade um desejo, ainda não
completamente decifrado, de “rejeitar os extremos”. O problema: esse tem-se revelado
um assunto forte na bolha autonomeada centrista, mas vem sendo completamente ignorado pela
maior parte da população.
Lula e Jair Bolsonaro têm hoje somados uns 60% de intenção
de voto estimulado e não muito longe disso de espontâneo. Se ambos fossem vistos pelo
eleitorado como “extremistas”, poder-se-ia concluir que o extremismo é mais
popular do que dizem por aí. Claro que não é isso. Bolsonaro e Lula lideram
porque, desculpem a tautologia, são identificados como líderes pelo respectivo
campo político e por ofertarem propostas concretas para problemas reais.
Lula vem liderando seu campo há uns trinta anos, desde que o
antecessor, o PMDB da resistência ao regime militar e herdeiro até então do
trabalhismo, associou-se à ruína econômica do governo José Sarney. A liderança petista estabilizou-se a partir de 1989, tanto que o PSDB, nascido
naquele momento como centro-esquerda, precisou depois procurar outra freguesia, outro
mercado eleitoral. Que ocupou com sucesso de 1994 a 2018.
O PSDB foi destroçado no segundo tempo da Operação Lava-Jato
e quem pagou o pato quatro anos atrás foram Geraldo Alckmin, candidato a presidente, e os
principais governadores da legenda. Aí o vácuo sugou Jair Bolsonaro, que calhou de estar no lugar certo na hora certa. Competência e sorte. Mas Bolsonaro não soube
navegar bem na tempestade da Covid-19 e vem emagrecendo politicamente. O que anima os candidatos a sucedê-lo na turma dele.
Pois Lula parece consolidado na esquerda. Ciro
Gomes que o diga.
O desafio de todos jogadores é o mesmo: tomar para si a bandeira da
prosperidade, a imagem de quem mais tem condição de levar o país, as famílias e as pessoas a uma vida melhor. Lula está em vantagem pelo
currículo. Bolsonaro retém os fiéis ideológicos, procura trabalhar a má
lembrança do segundo período Dilma Rousseff e também o fantasma das
dificuldades econômicas enfrentadas por Venezuela e, em grau bem menor,
Argentina.
O presidente tem um problema adicional: não consegue se
conectar às entregas de seus ministros, pela simples razão de não transmitir a
impressão de estar voltado à operação governamental propriamente dita. Um exemplo extremo se dá nas tragédias causadas pelas chuvas. Agitar a própria bolha 24x7 ajuda a manter a base mais fiel, mas tem pelo menos um efeito
colateral: não sobra espaço comunicacional para tentar capitalizar o que o
governo efetivamente faz.
E a terceira via? Sergio Moro vem até o momento prisioneiro
de um único tema, que nesta hora não leva jeito de ser a principal preocupação das pessoas: a
corrupção. Ciro Gomes está encapsulado, tem seu público mas não consegue
crescer para nenhum dos dois lados. E João Doria enfrenta uma certa descrença decorrente
das pesquisas e de um desempenho relativamente inferior em São Paulo, quando
comparado ao retrospecto de governadores tucanos paulistas candidatos a presidente.
Mas o jogo ainda está sendo jogado. E, de novo, vai ganhar
quem conseguir associar-se à esperança de um futuro de prosperidade. Que obrigatoriamente estará vinculado ao desenvolvimento. Uma palavra ultimamente
pouco lembrada. Mas cuja hora vai chegar.
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