No período em que enfrentou a ação combinada dos adversários para enfraquecer e afinal derrubar o governo Dilma Rousseff, o PT viu criarem contra ele um ambiente político-social de catástrofe iminente, catalisado ao final pelos achados e construções da Operação Lava-Jato. Que se somou vetorialmente à brutal recessão de 2015-16 para afinal dar no que deu.
Mas a ideia-força de “qualquer coisa menos o PT” acabou não
beneficiando os criadores, pois a contagem dos votos de 2018 trouxe Jair
Bolsonaro, e não algum candidato mais representativo da ampla aliança do
impeachment de 2016. Por circunstâncias únicas (foram arrastados pela Lava-Jato), fizeram o bolo, mas não comeram o bolo. Aliás, o núcleo
político do governo Michel Temer (PMDB-PSDB) saiu enfraquecido das urnas.
Agora o clima é semelhante, mas, de novo, quem mais agita na
esfera psicossocial o que os militares chamam de “guerra psicológica adversa”
não parece em situação de colher os frutos. A força do PT na criação de ondas
de opinião pública é apenas relativa, mas quem recolhe, até o momento, os
dividendos do “tudo menos Bolsonaro” é Luiz Inácio Lula da Silva.
A razão é óbvia. Lula é o antípoda de Bolsonaro, pois este
elegeu-se na maré para “evitar a volta do lulopetismo” três anos atrás. E, se
Bolsonaro não está bem na nuvem da psique coletiva, para onde o eleitor vai
olhar antes de tudo? Na volta do pêndulo, para o outro produto conhecido, o
principal concorrente, o que disputa as grandes fatias de market share.
Em 1984, com a derrota das “diretas já”, o movimento
político para dar fim ao regime confluiu naturalmente para o PMDB, o antípoda
do statu quo instalado em 1964. E nasceu a Aliança Democrática de
Tancredo Neves e José Sarney. O fluxo costuma mesmo fluir conforme as linhas de
menor resistência.
Daí que Lula, empenhado em evitar surpresas, esteja numa “operação-Tancredo”.
Busca consolidar rapidamente a convicção de que vai liderar uma espécie de
Aliança Democrática 2.0. Alguém poderia, é claro, levantar dúvidas sobre os
resultados da Nova República três décadas depois, mas no atual ambiente não
encontrará... ambiente.
O debate, inclusive o debate interno no PT, costuma trazer incógnitas
sobre dois pontos: o programa e as alianças. Quanto ao primeiro, a lógica diz
que o PT não precisará fazer grandes recuos no ideário social-democrata, desde
que possa agitar o “vocês querem mais quatro anos de Bolsonaro?”. Sobre as
alianças, há no espectro analítico um certo equívoco recorrente.
Não é verdade que o PT não goste de alianças. O partido tem
uma compreensível mentalidade hegemônica, decorrente de seu tamanho e seus
resultados na história. Era o que se passava com o PSDB até um tempo atrás. Lula
é hiperflexível a alianças, desde que seja o comandante. E é refratário a
alianças em que tenha de abrir mão do comando.
O que pode atrapalhar a caminhada petista no momento? Menos
a “terceira via” e mais se Jair Bolsonaro conseguir reduzir as taxas de
rejeição, se o presidente conseguir desfazer a ideia geral de que ele na Presidência
é sinônimo de desastre econômico, sanitário e político. As recentes manifestações
do chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, apontam para essa tentativa.
Claro que a terceira via tem tempo para encorpar, mas por
enquanto não dá sinais. Pois não comanda o espetáculo. E não é fácil o pêndulo parar sozinho no meio da trajetória.
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