Há pouca dúvida de que o Rio Grande do Sul é vítima principalmente não dos arroubos da mãe natureza, mas das ações, ou inações, de seus governantes. A prova definitiva está em que já tinha havido ali um evento climático de dimensões semelhantes, em 1941. E outros de menor intesidade são comuns.
Se a Holanda conseguiu e consegue há tanto tempo ganhar terras do mar, por que não seria possível proteger por aqui de maneira permanente áreas como a do Guaíba e da Lagoa dos Patos, tão potencialmente vulneráveis à subida das águas?
Sobre isso, há relatos de incúria estatal recente, descaso e desleixo, que serão objeto de investigação, e naturalmente resultarão conclusões convenientes para quem, à época, tiver mais força política para conduzi-la.
De todo modo, está aberta uma janela animadora de oportunidade em terras gaúchas para políticos que apareçam com propostas, e credibilidade, de como resolver os gravíssimos problemas imediatos e evitar, ou pelo menos tentar evitar, que se repitam.
A tragédia das inundações no Rio Grande do Sul é o que se pode chamar, neste caso com justiça, de evento politicamente disruptivo. Talvez ainda não nacionalmente, mas com certeza na esfera local. É possível (talvez agora eu esteja sendo otimista) que, por isso, as próximas disputas ali consigam escapar do ramerrame recente, para não dizer pantomima, das eleições brasileiras.
Repetindo, é uma janela de oportunidade fantástica para quem consiga se colocar numa perspectiva de futuro.
Também por isso, soam algo ridículas as lamúrias de que os atores estão se conduzindo politicamente. Luiz Inácio Lula da Silva e o PT têm agora a oportunidade de romper o isolamento político numa capital e num estado que já governaram e onde mais recentemente acabaram amputados da expectativa real de poder por forças políticas que agora amargam a desmoralização.
Seria também impensável Lula não se animar com a possibilidade de colocar uma cunha na região Sul, a que mais vem se opondo ao PT nas eleições. Imaginem qual seria a animação do campo oposto se algo similar atingisse algum estado do Nordeste e oferecesse a oportunidade de construir alternativa política a partir de necessidades vitais de um eleitorado levado ao desespero.
A tragédia no Sul é também uma oportunidade de Lula mostrar serviço para o conjunto e romper o cercadinho político-ideológico de seu campo político. Isso tem imposto a ele perda de capacidade hegemônica interna e relevância externa. Em 2022, o presidente ganhou na Mega-Sena da política, mas dá a impressão de não lembrar onde guardou o bilhete, e sem isso fica difícil sacar o prêmio.
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