A vitória do Palácio do Planalto na disputa pela liderança do PMDB na Câmara dos Deputados mexeu na fila da guilhotina. Se Eduardo Cunha tivesse prevalecido, o palco seria ocupado pela aceleração do impeachment. Como perdeu, o presidente da Câmara não conseguirá desempatar o jogo agora. Pior, sua cassação passou à frente.
Temos usado desde o ano passado, inclusive nos momentos agudos, a ideia gramsciana de “empate catastrófico”, quando nenhum bloco de poder, governo ou oposição, consegue reunir a força decisiva para prevalecer. Diz a teoria que o impasse será superado certa hora por alguma conciliação entre os blocos e/ou pela exibição de força suficiente de alguém.
Realisticamente, apenas os anti-Dilma podem prevalecer pela força antes de 2018, por impeachment ou cassação judicial (TSE). O campo Dilma-PT não tem (e não terá) recursos para impor-se imperialmente ao Congresso e ao Judiciário. E é residual a hipótese de o PT vencer uma eleição extra resultante da eventual cassação da chapa presidencial.
O governo segue o único caminho possível: manter o jogo empatado até que, por esgotamento, o país prefira finalmente transferir a decisão para 2018, quando a exibição de força se daria nas urnas. (1) Jogam a favor de Dilma a desconfiança sobre o custo de uma ruptura e a falta de consenso sobre alternativas. (2) Joga contra ela a dúvida sobre o custo de nada fazer.
O tempo trabalha a favor da presidente. Se (1) é razoavelmente constante, (2) é decrescente com o tempo. Então (1)/(2) é crescente. A conciliação para adiar a exibição de forças até 2018 é uma equação de muitas incógnitas para governo e oposição. Não seria ruim para esta assumir em 2019 com a casa algo mais arrumada, com o PT carregando o desgaste do ajuste feito. Mas aí vem a dúvida: e se ter sobrevivido à gravíssima crise política e econômica acabar sendo um trunfo do PT em 2018?
Também por isso, as atribulações recentes de Lula precisam ser vistas contraditoriamente. Lula fraco enfraquece Dilma e o governo, pois é seu principal fiador. Mas também reduz o temor dos adversários de que Dilma ficar na cadeira melhorará as chances de vitória do continuísmo em 2018. Mas aí é o PT que se incomoda com a hemorragia do seu principal ativo.
Cada protagonista está relativamente imobilizado pelas próprias contradições. Estranhíssima situação, em que nenhuma força política relevante apoia decididamente o governo e nenhuma tampouco faz oposição decidida. É estranho, mas não original. Foram assim os últimos três anos do governo José Sarney.
Com uma diferença: ali os politicos e a sociedade ficaram entretidos com a Constituinte tempo bastante para que, quando finalmente a diversão acabou, faltasse tão pouco para a eleição que não mais valia a pena investir na derrubada do governo.
Dilma procura agora entreter com pautas como CPMF e Reforma da Previdência. Aprová-las será lucro. O que pode atrapalhar o enredo? O TSE. Contra essa variável, não seria de todo mau para o governo se Eduardo Cunha continuasse, desde que algo controlado. Quem apoiaria um governo (provisório) Cunha? Mas aí entra outra incógnita: o STF.
Refizemos para cima nossa avaliação sobre Dilma manter o cargo.Impeachment caiu para 10%, pelo “fator Picciani”. Risco TSE mantém 25%. O “Dilma fica” tem 65%.
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