segunda-feira, 18 de abril de 2016

Curto prazo é favorável ao novo governo, que depende da economia e da Lava-Jato

• Temer terá maioria parlamentar e simpatia da imprensa
• Futura oposição vê ambiente inicial de isolamento
• Cansaço com a crise favorecerá apelos pela improvável “paz”

O desafio do bloco de poder constituído em torno de PMDB e PSDB para derrubar o governo Dilma Rousseff e tirar o PT do Palácio do Planalto é estabilizar-se para: 1) acelerar e consolidar a condenação final da presidente no Senado Federal, permitindo a instalação definitiva do governo Michel Temer e 2) evitar a cassação no TSE.

Como viu-se agora, a realidade política subordina a tecnicalidade jurídica. Especialmente quando as leis tratam da solução de disputas de poder.

Quando os governos se isolam na cúpula e na base da sociedade, o sistema encontra algum caminho para resolver a crise “juridicamente”.

Há juristas para todos os gostos e serviços, e essa acaba sendo a parte menos complexa da empreitada. Resolvido o nó político, encontra-se facilmente na prateleira algum mecanismo formalmente legitimador.

Quando o governo Temer finalmente existir de direito, ele terá uma base parlamentar confortável. É improvável que venha a sofrer impeachment. Eleições antecipadas não interessam hoje a nenhum grupo político relevante. E a partir de 2017 a eleição seria indireta.

Restarão dois obstáculos.

O primeiro será apontar caminhos de recuperação econômica convincente, que precisarão estar apoiados em duas pernas: 1) um reequilíbrio fiscal crível, para criar horizontes visíveis na economia e 2) uma perspectiva de forte lucratividade para os investimentos, pois empresários investem com o objetivo de lucrar.

O segundo será circunscrever os efeitos políticos da Lava-Jato. Se é verdade que o mundo da política pouco pode interferir diretamente na operação, é verdade também que a amplificação jornalística das investigações flutua de acordo com desejos e alinhamentos político-empresariais.

E mesmo se Eduardo Cunha tiver de deixar a Presidência da Câmara (o que não é certo), a aliança Temer-Cunha tem força para fazer o sucessor.

Caso o governo Temer tenha razoável sucesso inicial nas duas frentes, economia e Lava-Jato, é também razoável prever que o Senado confirmará o fim do mandato de Dilma e que o TSE dificilmente contrariará a dinâmica de acomodação política.

E a nova oposição? O momento inicial será de radicalização e resistência social. Mas os recém-derrotados se defrontarão com o isolamento político e midiático, que certamente refletirá nos ralos espaços disponíveis na imprensa para propagar o inconformismo.

O eventual novo governo também se beneficiará do foco crescente nas eleições municipais, para onde tende a se deslocar o front, em busca do combustível para 2018. E aproveitará o cansaço da sociedade com a prolongada luta política, fadiga que servirá de pretexto para uma onda de apelos à conciliação vinda de quem até agora pedia guerra.

Os problemas, como lembraria o Conselheiro Acácio, aparecerão depois. Provavelmente causados pela baixa capacidade de entregar o esperado.

Probabilidades: Abertura de processo contra Dilma no Senado 80%, condenação definitiva de Dilma 60%, cassação da chapa pelo TSE 20%.

Prestar atenção:

• O ritmo do processo contra Dilma no Senado
• Novas ações da Lava-Jato contra Lula e Eduardo Cunha
• O ministério de Temer, especialmente na economia

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