O senso comum diz que o grupo de Michel Temer errou ao forçar a ruptura formal do PMDB com o governo para acelerar a deposição de Dilma Roussef. Abriu espaço para a operação política palaciana. Já que a política tem horror ao vácuo, preencha-se.
A realidade é um pouco mais complexa, como se vê desde lá: o PMDB, ávido de poder, rompeu mas não saiu. Foi um gesto político, para garantir aos generais e às tropas da derrubada do governo que o vice está nesta para valer.
O PMDB é incremental, como todo partido em relacionamento sério com o poder. Nunca foi de gestos heróicos. Só se move em direção a mais poder. Nunca a menos. O temerismo queimou as caravelas, mas cuidou de verificar se havia outros barcos à mão.
O cenário para o vice não é simples. Diferente de Itamar Franco no impeachment de Fernando Collor, ele enfrenta desgaste e ameaças a um mandato que ainda não assumiu. Se for impulsivo, pode reunir menos força que a necessária para vencer a batalha. Se for cauteloso, pode ver crescer o movimento para despachá-lo ao ostracismo junto com Dilma.
A fragilidade política-jurídica-eleitoral do vice, e do grupo que o cerca e sustenta, é um vetor fundamental para entender por que Dilma tem sobrevivido, mesmo em extrema debilidade política e social. Sem suporte decisivo, Dilma levita há tempos graças à não convergência em torno das alternativas.
O xeque-mate em Dilma e no PT sempre dependeu de PMDB e PSDB estarem cada um majoritariamente coesos e ambos unidos pela deposição. Não necessariamente 100%, mas bem perto disso.
Um dos trunfos da presidente, as divisões intratucanas, parece ter-se ido. Há acordo hoje no PSDB sobre a inconveniência de eleições já -pelas circunstâncias de cada um dos postulantes- e sobre a conveniência de um governo Temer.
Persiste a divisão sobre se é bom ou ruim um governo Temer dar certo. Os tucanos enxergam nele um Kerensky. Só divergem sobre se o sonhado pós-Temer deve nascer do útero do temerismo, com suas bênçãos, ou enfraquecendo-o. Mas fevereiro vem antes de outubro.
Outra variável que parecia resolvida dá sinais de não estar. Uma parte dos senhores feudais peemedebistas, e de outros partidos, resistem a coroar um rei que poderia buscar poderes imperiais e querer subjugá-los, aproveitando-se do cerco da Lava-Jato contra a enrolada nobreza e surfando na ansiedade da opinião pública por uma nova ordem.
Os políticos querem uma solução que os proteja, e a corrosão de Dilma deveu-se também à estratégia dela de salvar-se às custas do sacrifício, se necessário, de todo o sistema. Mas a entrada de Luiz Inácio Lula da Silva em campo, se se consolidar, dará sinais de que o jogo mudou.
E assim caminhamos para a hora decisiva, quando cada um mostrará as garrafas que tem para entregar. A variável fora de controle? Lava-Jato. A blitzkrieg vem sendo decisiva para inverter a correlação de forças. Quais serão as novidades policiais-judiciais daqui até a votação do impeachment?
Porcentagens: Impeachment 50%, cassação pelo TSE 25%, Dilma fica sem poder 25%.
Atenção:
• A decisão do STF sobre Lula na Casa Civil
• O governo conseguirá arrancar o temerismo dos cargos?
• Lava-Jato, delações premiadas e vazamentos
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