• Medidas emergenciais de austeridade terão apoio no Congresso?
• Políticos não querem eleições já, mas não têm controle completo
• Futuro do novo governo depende do que projetar para o... futuro
A história também se constrói sobre ironias. No crepúsculo, a administração
Dilma Rousseff oferece ao presidente ainda virtual Michel Temer a base
parlamentar que lhe faltou para governar e evitar o afastamento do cargo.
As votações na Câmara e na comissão do Senado são o rito de passagem.
Dilma havia algum tempo não reunia apoio político majoritário para
comandar o país. Concentrava-se em garantir respaldo minoritário
suficiente para evitar a deposição. Não conseguiu, por 25 votos na Câmara.
Agora é Temer que vê o enigma: como transformar o fácil antidilmismo em
pró-temerismo?
O problema do ainda vice é prático. Dilma caminha rumo à queda por: 1)
não montar e uma base parlamentar majoritária e operacional e 2) não
oferecer um caminho visível para a recuperação econômica.
Ou Temer tem sucesso imediato nos dois aspectos ou verá crescer
rapidamente as ameaças. O TSE está aí para qualquer eventualidade.
O problema é que a revelação dos roteiros para o segundo ponto embaralha
o primeiro. O Brasil está há décadas politicamente organizado em torno da
fantasia fácil do “dinheiro tem, é só empregá-lo adequadamente”.
Bastaria “melhorar a gestão” e combater a corrupção. Agora, um presidente
transitório e de legitimidade contestada vai dizer que o dinheiro acabou, e
tem de fazer isso sem dinamitar o apoio parlamentar.
Temer leva sobre Dilma a vantagem do apoio empresarial e da imprensa,
além de nenhuma força política ponderável querer eleições já.
Mas, como se viu agora na debacle do PT, não há articulação política que
resista se enfrentar por tempo suficiente uma pressão social decisiva. Pelo
menos na democracia, isso acaba refletindo no Parlamento. E na Justiça.
No momento, a oposição a Temer está acuada, e o radicalismo verbal é um
sintoma do isolamento.
Mas é também verdade que o PT sai razoavelmente coeso e reaproxima-se
da esquerda. E deve emergir da derrota com uma “narrativa” (para usar a
expressão da moda) íntegra: de que foi “derrubado por um golpe tramado
pela elite, que novamente quer impor ao povo sacrifícios para debelar uma
crise que ela mesmo produziu”.
Importa menos saber se isso é verdade, ou até que ponto. Isso pode ser tão
verdade quanto dizer que o PT “institucionalizou a corrupção sistêmica para
perpetuar um projeto de poder” ou que “a nova matriz econômica, ao
implodir o equilíbrio fiscal, provocou a atual recessão”.
A luta política não se dá em torno de verdades, mas de verossimilhanças.
O que interessa é o apoio popular, social e parlamentar que cada discurso
tem, e isso é diretamente proporcional ao que projeta para adiante. Dilma
não está caindo principalmente pelo que fez no passado, mas pela
incapacidade de mostrar que com ela o amanhã será melhor que o hoje.
Probabilidades: Abertura de processo contra Dilma no Senado e afastamento
da presidente 95%, condenação definitiva de Dilma no Senado 70%, cassação
da chapa Dilma-Temer pelo TSE 20%.
Prestar atenção:
• O PT conseguirá retardar o andamento do processo no Senado?
• As articulações finais para o ministério de Temer
• Fatos perturbadores vindos da Lava-Jato
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