segunda-feira, 16 de maio de 2016

Força da coalizão no Congresso define sucesso ou fracasso do governo Temer

• Guerra será vencida ou perdida no Legislativo
• Governos só constroem maioria quando estão fortes
• Reforçamos a aposta no gradualismo neste início

Os ministérios econômicos e o Itamaraty receberam as maiores atenções nas horas iniciais de governo Michel Temer. Os primeiros, pela óbvia ansiedade a respeito do futuro. A chancelaria, pela oportunidade de protagonismo aberta com as manifestações de vizinhos sobre o impeachment.

Conforme o gravitacional tempo político vai assentando a poeira, fica evidente que a guerra será vencida ou perdida por dois generais: Geddel Vieira Lima e Eliseu Padilha. De nada adiantará o novo governo desfilar as "propostas certas" na economia se não tiver votos para aprovar.

O país colhe os frutos envenenados de décadas de mistificação. "Dinheiro tem, falta é vontade política", martelava o PT na oposição. "Não precisa aumentar imposto, se estancar a corrupção o dinheiro aparece", passou a pregar o antipetismo nesta última década e meia.

O governo Dilma caiu porque só sobreviveria se admitisse que, infelizmente, o dinheiro acabou. E se conseguisse atrair a esquerda congressual, PT à frente, para as necessárias medidas de austeridade. A presidente hoje no ostracismo provisório até tentou, acenou sobre a Previdência e a CPMF.

Em certo momento -um dia os historiadores dirão quando e como foi- o PT decidiu preferir a derrota heróica a fazer concessões estratégicas que poderiam manter aberta a possibilidade de vitória. Certamente ajudou na decisão a experiência do período Joaquim Levy.

Ao aplicar o receituário que atribuíra aos adversários -e que eles aplicariam em algum grau estivessem vencido a eleição-, Dilma colheu não os aplausos deles. Colheu a ofensiva do impeachment. Em vez de apoiarem, aproveitaram a fraqueza nascida da austeridade para derrubar o governo.

Um erro assim nasce do economicismo vulgar. Se a economia determina a política em algum grau, é a política que decide a guerra. Governos que têm maioria política sobrevivem. Se não têm, morrem. E maiorias políticas constroem-se no dia a dia, e a partir de posições de força.

Fernando Henrique Cardoso sobreviveu à desvalorização cambial de 1999 porque formou uma base forte desde o Real em 1994. Lula navegou na tempestade e chegou ao porto porque fez isso em 2003/04, na esteira da subida ao poder.

A hora de Temer construir ou não maioria política é agora. Mais importante que desenhar um plano maravilhoso é mostrar ter votos para aprovar algo na direção desejada. Também nesses casos o ótimo costuma ser inimigo do bom. Para que o trem chegue ao destino ele precisa começar a andar.

Se o Congresso começa a votar (e aprovar) as propostas do novo governo, reforça o ambiente de "página virada". Se atola na largada, reabre a crise. Por isso, reforçamos a avaliação de que este início será marcado pelo gradualismo. Na direção desejada, mas com um programa realista.

Uma largada mais "morna" ajudaria também no front externo, para neutralizar ao menos em parte a narrativa de que o governo anterior foi removido para que se promova um ataque frontal aos direitos sociais conquistados na última décadas.

Mas sempre é bom deixar uma janela para o imponderável. Como mostrou o presidente interino da Câmara dos Deputados na véspera da decisão do Senado, o imponderável nunca é só uma abstração.

Probabilidades: Governo Temer largar com maioria absoluta na Câmara dos Deputados e no Senado 75%. Dilma ser definitivamente afastada 85%. Temer ser cassado pelo TSE 10%.

Prestar atenção:

• Destino da Presidência (interina) da Câmara dos Deputados
• Fatos novos da Lava-Jato contra apoiadores de Temer
• Projeções de índices feitas pelos atores econômicos

Alon Feuerwerker alon.feuerwerker@fsb.com.br
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