segunda-feira, 2 de maio de 2016

Mediocridade de expectativas e má herança recebida, os trunfos do novo governo

• O governo nascido do impeachment de Dilma vai "dar certo"?
• Circunstâncias difíceis legitimam plataforma minimalista •
• Mas, e o desconforto tucano-petista com o fim da bipolaridade?

O ainda vice Michel Temer deve assumir o poder em condições políticas favoráveis quando -e se- Dilma Rousseff for afastada no Senado. O "se" é por dever deofício, pois em política nunca há certeza do futuro. Graças a sua excelência, o imponderável. Se apenas um imponderável daqueles pode dar a Dilma destino diferente doostracismo, a pergunta permanente hoje é se o eventual futuro governo Temer vai "dar certo".

Mas o que seria "dar certo", naprática? O "dar certo", também em política, pode ser reduzido a uma função na qual expectativas aparecem com sinal negativo e entregas, com positivo. Um problema de Dilma é ter vencido em 2014 com expectativas relativamente altas. Foi eleitoralmente eficaz, mas plantou a semente daderrocada política do governo recém-eleito.

Quando se escancarou que asentregas seriam baixíssimas, a presidente ficou fraca demais para atrair aliados e intimidar adversários. Dilma passou a depender de desentendimentos e impasses entreosinimigos, abertos ou dissimulados. Situação sempre de alto risco. Quando ospolíticos convergiram para uma saída, o destino dela foi selado.

Sobre expectativas e entregas, Temer vive situação oposta. Por dois motivos. Há consenso de que 1) receberá o governo em condiçõesdesastrosas na área fiscal e 2)um déficit de legitimidade o impedirá deaprovar medidas pró-mercado imploradas mas imprudentes. Assim, na regra de Ortega y Gasset de que cada um é ele mesmo e suas circunstâncias, Temer é um anti-Dilma. Se a titular deixou cristalizar a ideia de que ela própria seria o problema, o vice pouco a pouco vai vendo assentar a tese de que o que vier será lucro, dadas as más circunstâncias.

Não se espera deum governo Temer que corte heroicamente os nós górdios, apenas que aponte alguma luz no fim do túnel. Se conseguir montar uma base operacional no pulverizado Congresso e se trouxer algum vislumbre derecuperação econômica, será tolerado como preço razoável a pagar para que o país encontre uma solução melhor em 2018.

Um governo minimalista, entretanto, não responderá plenamente à ambição do grupo agora hegemônico de projetar-se para além de 2018. Uma regra de ouro do poder é tentar perpetuar-se. Quando os adversários enxergarem no minimalismo de curto prazo um caminho para o maximalismo de médio prazo, aparecerão os problemas. Daí que a melhor aposta seja antever um governo Temer extremamente prudente, preocupado em economizar capital político, sabedor de que os aliados-adversários esperam apenas pelos primeiros sinais de fraqueza. Com um agravante: o novo poder não tem, ao contráriode PSDB e PT, umexército capaz de prevalecer na guerra cultural.

Dilma fora, não seria espantoso seas máquinas ideológicas petistas e tucanas adotassem a velha máxima de "caminhar separadas e golpear juntas", na tarefa comum de manter a bipolaridade das duas últimas décadas e evitar que desta vez uma "terceira via" se construa a partir dopróprio governo, agora pela centro-direita.

Probabilidades: Abertura de processo contra Dilma no Senado e afastamento da presidente 99%, condenação definitiva de Dilma no Senado 80%, cassação de Temer pelo TSE 10%.

Prestar atenção:

• Armadilhas que Dilma deixará para Temer
• Últimas manobras do governo no Senado
• Arremate do gabinete temerista
• Lava-Jato, claro

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