• Oposição fraca, establishment e eleição municipal jogam a favor
• Se formar base ampla, governo terá vantagem na sucessão da Câmara
Há dois tipos de governo: 1) no que o político quer entrar e 2) do que ele busca sair. Este é exceção. O político sai de um governo porque vislumbrou a possibilidade de entrar em outro. Políticos sempre trabalham para ser do governo. Quando estão na oposição não é desejo, é circunstância.
Não compreender a utilidade dessa regra simples foi um problema grave de Dilma Rousseff. A presidente acabou no pior dos mundos: supostamente loteou o governo -e era atacada pelo loteamento-, mas nunca aceitou dividir poder. Nunca soube tirar pleno proveito das forças centrípetas. Até que um dia sucumbiu às centrífugas.
Já a embrionária administração Michel Temer deve ser mais profissional na condução. Há a cantilena habitual por um gabinete "de notáveis", ou"técnico". Mas os novos operadores políticos têm larga experiência e será surpresa se caírem na mesma esparrela. Há uma única certeza sobre governos "técnicos" ou "de notáveis": eles estão a caminho de cair.
Um dos itens da nossa mitologia política é que o "presidencialismo decoalizão" brasileiro é intrinsecamente inviável se não houver uma reforma partidária-eleitoral. A realidade é mais simples. Governo que tem base parlamentar sobrevive. Se não tem, morre. Ou na eleição vindoura, quando consegue vegetar até lá, ou antes.
Eis a equação da gestão Temer -que só não existirá se o imponderável agir: precisa de maioria no Congresso para transmitir a empresários e trabalhadores, a investidores e consumidores, que tem votos em número suficiente para aprovar medidas de estabilização, um dia, da proporção da dívida pública sobre o produto interno. Enquanto o universo da ideologia torce o nariz para a suposta baixa qualidade da representação parlamentar, os responsáveis pela vida real só querem saber se o novo governo terá força para votar medidas necessárias diante do colapso do mundo de fantasia em que o país viveu.
Uma variável nova, à luz do que decidiu o Supremo Tribunal Federal, é quem conduzirá a Câmara dos Deputados depois do impedimento provisório mas por tempo indeterminado do presidente Eduardo Cunha. O período recente foi didático sobre o efeito de um conflito da Casa com o Planalto.
Mas é razoável supor que se o novo governo está construindo uma base ampla ela será útil para evitar a ascensão de um adversário. Ainda que a circunstância embuta o risco de o aliado, uma vez vice-presidente de fato da República, passar a mirar no titular. Um Temer para o Temer.
Apesar das dificuldades e limitações, nossa previsão é que este início de Era Temer será marcado pela tendência à acomodação política. A nova oposição dificilmente terá mais força para criar problemas ao novo governo do que a (pouca) força que demonstrou para evitar a derrocada do velho. O establishment pedirá "patriotismo" e o mundo da política se voltará progressivamente para a eleição municipal. O novo Planalto precisará errar muito para os vetores centrífugos prevalecerem sobre os centrípetos.
Claro que há o imprevisível. O que aparecerá na Lava-Jato contra o novo núcleo de poder? Quais os desdobramentos ainda desconhecidos da decisão do STF sobre Eduardo Cunha? Na resistência final, Dilma conseguirá introduzir algum elemento desestabilizador da nova ordem?
Probabilidades: Abertura de processo contra Dilma no Senado e afastamento da presidente 99%, condenação definitiva de Dilma no Senado 80%, cassação de Temer pelo TSE 10%.
Prestar atenção:
• Votação do afastamento de Dilma, dia 11
• Novos políticos serão réusno STF?
• Lava-Jato
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