segunda-feira, 20 de junho de 2016

Sucessão na Câmara é desafio para estabilidade e perenidade de Temer

O governo Temer enfrenta alguns desafios. 1) baixas causadas pela Lava- Jato, 2) guerra de comunicação contra o PT, 3) passar medidas econômicas impopulares no Congresso. Mas em duas áreas onde se esperavam problemas maiores a oposição é fraca: 4) baixa resistência social e 5) tranquilidade no front externo.

As primeiras pesquisas mostram que no país a expectativa geral (não a da elite econômica) com o governo provisório é medíocre. Mas ainda leva vantagem sobre o governo afastado, avaliado mal e pessimamente. Os provisórios não têm torcida, nem exército cultural. São tolerados como a alternativa possível a uma opção altamente rejeitada.

Isso pode perdurar, desde que Temer resista ele próprio à contaminação da Lava-Jato, mantenha o governo operacional e consiga aval do Congresso para algum plano econômico. Governos mediocremente avaliados já sobreviveram no Brasil recente porque impediram a desagregação da base parlamentar. E porque as alternativas não despertavam entusiasmo.

O PT tem ajudado Temer, ao se colocar mais à esquerda do que o razoável para quem pretende voltar já ao poder. Dilma Rousseff continua a martelar somente no que considera os defeitos políticos de nascença do governo provisório, sem dizer o que faria na economia se voltasse ao Planalto num eventual colapso da frente pró-impeachment.

Dilma talvez pretenda para ela o que o PMDB de Temer obteve em meados de abril: uma carta branca. Mas os hoje provisórios conseguiram esse passe porque a tolerância a Dilma terminara. Ou seja, a estratégia dilmista depende menos dela própria e mais do colapso do adversário. Depende de o antitemerismo superar o antidilmismo.

Na sociedade, segundo as pesquisas, a maioria antipetista parece em processo de consolidação. Se o PT, Lula e Dilma conseguiram reunir seu campo político na resistência ao que descrevem como um golpe conservador, pagam o preço de alienar o centro político. Talvez trabalhem com a hipótese da implosão do bloco de Temer e de arrastarem o centro por gravidade. Ou talvez estejam mais de olho nas eleições vindouras.

Esse seria o desenho de uma tendência de certo prazo, não houvesse uma questão prática a resolver logo, a sucessão na Presidência da Câmara dos Deputados. É improvável que o status quo perdure, por duas razões: a Justiça e o interesse crescente do governo provisório e dos próprios deputados numa solução que traga estabilidade.

A Casa está hoje dividida em três grandes blocos. A antiga oposição, a antiga área de influência do presidente afastado e o PT e satélites. O segundo bloco vence a eleição se se aliar ao primeiro ou ao terceiro. Já se houver uma aliança entre os extremos o resultado fica menos previsível, mas há possibilidade real de o governo perder.

Resta ver se a abertura dessa disputa trará o PT de volta ao velho pragmatismo. Poderia, por exemplo, apoiar um candidato da velha oposiçã o. Ou alguém do chamado “centrão” que fosse para Temer o que Eduardo Cunha foi para Dilma no primeiro semestre de 2015: uma pedra no sapato sob o rótulo de independência.

Ao governo, ficará o desafio de reunir sua base para um único nome que traga o apoio do PMDB, do centro, de Cunha e do campo político que orbita o PSDB. Não será trivial. Seria mais fácil semanas atrás, e ficará tão mais difícil quando mais a Lava-Jato minar o núcleo dos provisórios.

E convém lembrar que o presidente da Câmara dos Deputados tem a prerrogativa de desencadear impeachment. E que estaria agora apenas a uma casa de ocupar o Planalto. E que nada o impediria de tentar continuar depois. Principalmente no caso de uma eleição indireta, a partir de janeiro de 2017. E que a carnificina da Lava-Jato abre possibilidades reais para um nome novo em 2018. E que se esse nome novo estiver sentado no Planalto e tiver atravessado a crise, melhor ainda para ele.

Até a semana que vem.

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