O governo Temer enfrenta alguns desafios. 1) baixas causadas pela Lava-
Jato, 2) guerra de comunicação contra o PT, 3) passar medidas econômicas
impopulares no Congresso. Mas em duas áreas onde se esperavam
problemas maiores a oposição é fraca: 4) baixa resistência social e 5)
tranquilidade no front externo.
As primeiras pesquisas mostram que no país a expectativa geral (não a da
elite econômica) com o governo provisório é medíocre. Mas ainda leva
vantagem sobre o governo afastado, avaliado mal e pessimamente. Os
provisórios não têm torcida, nem exército cultural. São tolerados como a
alternativa possível a uma opção altamente rejeitada.
Isso pode perdurar, desde que Temer resista ele próprio à contaminação da
Lava-Jato, mantenha o governo operacional e consiga aval do Congresso
para algum plano econômico. Governos mediocremente avaliados já
sobreviveram no Brasil recente porque impediram a desagregação da base
parlamentar. E porque as alternativas não despertavam entusiasmo.
O PT tem ajudado Temer, ao se colocar mais à esquerda do que o razoável
para quem pretende voltar já ao poder. Dilma Rousseff continua a martelar
somente no que considera os defeitos políticos de nascença do governo
provisório, sem dizer o que faria na economia se voltasse ao Planalto num
eventual colapso da frente pró-impeachment.
Dilma talvez pretenda para ela o que o PMDB de Temer obteve em meados
de abril: uma carta branca. Mas os hoje provisórios conseguiram esse passe
porque a tolerância a Dilma terminara. Ou seja, a estratégia dilmista
depende menos dela própria e mais do colapso do adversário. Depende de o
antitemerismo superar o antidilmismo.
Na sociedade, segundo as pesquisas, a maioria antipetista parece em
processo de consolidação. Se o PT, Lula e Dilma conseguiram reunir seu
campo político na resistência ao que descrevem como um golpe
conservador, pagam o preço de alienar o centro político. Talvez trabalhem
com a hipótese da implosão do bloco de Temer e de arrastarem o centro
por gravidade. Ou talvez estejam mais de olho nas eleições vindouras.
Esse seria o desenho de uma tendência de certo prazo, não houvesse uma
questão prática a resolver logo, a sucessão na Presidência da Câmara dos
Deputados. É improvável que o status quo perdure, por duas razões: a
Justiça e o interesse crescente do governo provisório e dos próprios
deputados numa solução que traga estabilidade.
A Casa está hoje dividida em três grandes blocos. A antiga oposição, a
antiga área de influência do presidente afastado e o PT e satélites. O
segundo bloco vence a eleição se se aliar ao primeiro ou ao terceiro. Já se
houver uma aliança entre os extremos o resultado fica menos previsível,
mas há possibilidade real de o governo perder.
Resta ver se a abertura dessa disputa trará o PT de volta ao velho
pragmatismo. Poderia, por exemplo, apoiar um candidato da velha oposiçã
o. Ou alguém do chamado “centrão” que fosse para Temer o que Eduardo
Cunha foi para Dilma no primeiro semestre de 2015: uma pedra no sapato
sob o rótulo de independência.
Ao governo, ficará o desafio de reunir sua base para um único nome que
traga o apoio do PMDB, do centro, de Cunha e do campo político que orbita
o PSDB. Não será trivial. Seria mais fácil semanas atrás, e ficará tão mais
difícil quando mais a Lava-Jato minar o núcleo dos provisórios.
E convém lembrar que o presidente da Câmara dos Deputados tem a
prerrogativa de desencadear impeachment. E que estaria agora apenas a
uma casa de ocupar o Planalto. E que nada o impediria de tentar continuar
depois. Principalmente no caso de uma eleição indireta, a partir de janeiro
de 2017. E que a carnificina da Lava-Jato abre possibilidades reais para um
nome novo em 2018. E que se esse nome novo estiver sentado no Planalto e
tiver atravessado a crise, melhor ainda para ele.
Até a semana que vem.
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