A política e a economia querem saber os prazos da interinidade de Michel Temer na Presidência da República. Quando o Senado vai votar o afastamento final da presidente. A partir daí, viria em teoria um governo mais estável, capaz de avançar em reformas econômicas e políticas mais profundas.
Pode ser apenas vontade, mas a divisão a favor e contra eleições imediatas, medida pelas últimas pesquisas, é sintoma desse desejo crescente de estabilidade.
Dois vetores opõem-se hoje. O primeiro força a renovação radical, na esteira da Lava-Jato. O segundo força a governabilidade política e econômica, na esteira da recessão e do desemprego.
No mundo ideal, haveria alguém pronto a fazer as duas coisas andarem juntas. Um governo livre das máculas da velha política e capaz de reunir maioria parlamentar e social para reformas que libertem as forças produtivas das amarras impostas pelas antigas relações.
Algo parecido com o figurino vendido por Luiz Inácio Lula da Silva na largada de 2003.
Na vida real, o cenário é bem diferente. A profunda divisão entre os campos políticos e a proximidade de 2018 estimulam cada ator a radicalizar no seu papel e dar prioridade à hegemonia em seu respectivo bloco, dificultando a convergência.
E as labaredas da Lava-Jato parecem não querer poupar ninguém.
Mas esse último ponto embute a possibilidade de, no futuro, paradoxalmente, o maior escândalo político da nossa história resultar num jogo de soma quase zero. Cobrará um preço alto dos políticos e dos empresários mais atingidos, mas talvez não venha a ser o fator decisivo de desempate na disputa presidencial de daqui a pouco mais de dois anos.
Por essa hipótese, a vantagem decisiva será de quem mostrar capacidade de reunir o apoio necessário para fazer a política rodar com eficiência, mesmo sob fogo, e assim tomar as medidas de relançamento da economia nacional. E se vale para 2018, vale também para o desfecho do impeachment programado (mas só programado) para agosto.
Passado um mês, o presidente interino agarra-se ao prestígio da equipe econômica que formou e à força da base parlamentar. A presidente afastada explora a anemia do apoio popular a Temer e as dúvidas jurídicas em torno do impeachment. Temer joga com as brancas. Tem a iniciativa. Está no poder.
Dilma precisa pender à esquerda para manter sua tropa reunida e operacional, evitando o risco da dispersão. Mas isso a atrapalha na apresentação de alternativas viáveis de futuro. Sobre a economia, ninguém tem ideia do que faria se reinstalada. E o aventado plebiscito está longe de apontar para a estabilização.
Dilma de volta ao Planalto, teríamos: 1) um tempo para debater e aprovar o plebiscito, 2) mais um tempo para fazer o plebiscito, 3) mais um tempo para fazer a eleição presidencial. Se o plebiscito mantivesse o mandato de Dilma, viria 4) um governo de minoria por mais dois anos. É muito espaço para instabilidade. E portanto para dúvidas.
A receita temerista pode desandar? Sim. A Lava-Jato pode acertar no coração e na cabeça do governo. O Congresso pode recusar apoio ao reequilíbrio das contas. A coisa pode complicar na solução para a presidência da Câmara dos Deputados. O Senado pode ser colhido num tsunami policial-político.
É prudente deixar espaço para o imprevisto, mas também será inteligente considerar a possibilidade de os mundos político e econômico buscarem uma saída possível para evitar o colapso e a implosão. No momento, Temer apresenta-se como a solução à mão. Pelo efeito contraste, tem cartas melhores que a adversária.
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