segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O que esperar de 2017, na política e na economia

As previsões apontam 2017 como ano de recuperação moderada (ou medíocre) da economia. A projeções oscilam em torno de 0,5% de crescimento do PIB, porém há números de até 1,5%. O mercado ajusta seus dados toda semana, mas há um consenso: a mega recessão acabou.

Isso tem o potencial de estabilizar o governo Michel Temer e garantir certa tranquilidade política. Por frustrante que seja a dimensão da retomada, apenas o fato de o pior ter ficado para trás já trará uma sensação geral de alívio, que os operadores do governo não deverão desperdiçar.

É necessário porém observar os riscos e as barreiras potenciais no caminho dessa normalização.

1. Lava-Jato

A operação irá estender-se e atingir ampla gama, do atual governo e do anterior. A abrangência trará um risco de paralisia geral, de luta partidária sem limites, de genocídio político. Mas esse risco é relativamente baixo (20%).

O caráter democrático das delações deve produzir (probabilidade de 80%), paradoxalmente, um acordo não escrito entre os políticos para a vida caminhar com alguma previsibilidade, ao menos no âmbito do Poder Legislativo.

A produtividade congressual em torno da agenda exigida pela “opinião pública” é uma boia, a que os políticos podem se agarrar para tentar atravessar a correnteza. A “opinião pública” apoia o “Todo Poder à Lava-Jato”, desde que não atrapalhe, por exemplo, a reforma da previdência.

Costumamos comparar o efeito da Lava-Jato sobre a política a uma cidade extensa e intensamente bombardeada. Do alto, a destruição é total. Ao nível do chão a vide segue. Mortos são sepultados, feridos são tratados. Quem escapou (por enquanto) procura meios de tocar a vida.

2. Temer cassado no TSE

Já há mais elementos concretos para cassar a chapa Dilma-Temer no TSE do que havia para fazer o impeachment de Dilma Rousseff no Congresso. Mas o apoio politico e social a Dilma estava deteriorado, enquanto Temer tem forte base política e é socialmente tolerado.

Ninguém ponderável deseja agora sua derrubada. Não há nenhum movimento real para apeá-lo. Mesmo a resistência às reformas reduz-se, por enquanto, ao mérito. Uma coisa é ser contra a reforma da previdência. Outra coisa é tentar derrubar o governo por ele propor uma reforma da previdência.

Temer se beneficia da tolerância a um governo de transição que faz a arrumação pedida na casa. Mas isso não o garante 100%, pois a esfera judicial adquiriu mais autonomia, inspirada pela Lava-Jato. Ainda que o risco de cassação seja minoritário (35%), ele é substancial.

Há atenuante? Sim. Se Temer cair, é altamente provável (85%) que o bloco político hoje dominante, centrado na aliança PMDB-PSDB, eleja o sucessor na votação congressual, como manda a Constituição. O risco de interrupção do programa que o governo Temer executa é, portanto, baixo.

3. Agitação político-social

Há forte insatisfação social com o governo, causada principalmente pela inflação e pelo desemprego. Foi o fator-chave que impediu Dilma de reunir apoio na resistência ao impeachment. Essa insatisfação transferiu-se rapidamente para o sucessor, como indicam todas as pesquisas.

A inflação perdeu fôlego, o que sempre ajuda o governo, mas nada indica que o desemprego possa ser reduzido no mesmo ritmo. A tendência é a economia buscar a saída da crise por meio de ganhos de produtividade, e o atual desemprego passaria a ter um forte componente estrutural.

Há um potencial de agitação, mas ele está contido até o momento, principalmente pela fraqueza das correntes políticas que poderiam transformar essa energia potencial em dinâmica. Especialmente o PT, voltado agora para a reestruturação e o acerto interno de contas.

Mas isso não é garantia absoluta de estabilidade. O mal-estar pode rapidamente transformar-se em movimentação, a partir de um incidente isolado. A probabilidade de um novo 2013 é de 25%.

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