O previsto stand by da cassação da chapa Dilma-Temer no TSE não apenas mostrou que, ao contrário da antecessora, o presidente mantém musculatura institucional. Mais importante: abriu nova janela de oportunidade para o bloco social-político no poder. Que agora precisa voltar a exibir desempenho em duas frentes: o Congresso e a economia.
O governo lê rapidamente a nova conjuntura (uma diferença importante desta administração para a caída) e trata de movimentar as peças na reforma da previdência social. Sem dizer assim, diz ao Congresso: "Aprovem qualquer reforma, mas aprovem uma reforma. É a carne que precisamos jogar aos leões do mercado financeiro para chegar até 2018".
O Planalto certamente notou nos últimos dias que enquanto rodar o software da austeridade terá apoio na opinião pública stricto sensu para agarrar-se ao poder e "fazer o que deve ser feito". A irrupção de vozes antes jacobinas e agora a pedir "equilíbrio" e atenção ao "interesse nacional" mostra que se a polícia está nas manchetes é a política quem está no leme.
A janela de oportunidade não significa porém que os problemas estejam equacionados. Eles continuam ali, inquietos. O governo ganhou mais um prazo para enfrentá-los, mas se não entregar a mercadoria o processo do TSE poderá ser rapidamente descongelado, a depender da conveniência. E aí é preciso novamente atenção às variáveis decisivas.
A mais importante é o humor do Congresso, que vem se deteriorando, com seguidos tropeços da situação e sucessos pontuais da oposição. O governo precisa urgentemente dar alguma demonstração de força. Especialmente na Câmara dos Deputados, onde faz tempo não alcança os 308 votos necessários para PEC, apesar de a base estar, na teoria, em torno de 400.
Contra, joga o fato de as eleições andarem muito próximas, o que eleva o custo político de apoiar um governo impopular. A favor, o Planalto contará, como é tradicional, com a boa vontade dos jacobinos da opinião pública stricto sensu para, quando é o caso, aceitar os métodos tradicionais de reaglutinação da base parlamentar e "fazer o que deve ser feito".
Sem contar que num cenário intensamente proibicionista e, portanto, de extrema dificuldade de financiamento eleitoral, o peso da assim chamada máquina cresce bastante. O que aumenta o poder de atração dos governos. Com destaque para o federal. Se ainda fossem necessários exemplos, é mais um de que de boas intenções continua cheio o inferno.
O segundo desafio do governo é exibir sinais e sintomas de que a anunciada retomada econômica é real. Não há analista a prever recuperação rápida do emprego e da renda, mas há algum sinal de que os negócios respiram. Um deles são os números da indústria automobilística, ancorados na exportação. Mas os dados da conjuntura ainda são contraditórios.
Joga a favor: a anunciada disposição do Banco Central de derrubar o juro básico mais rapidamente. Joga contra: a ainda cautela de investidores diante não apenas do curto prazo político, mas do pós-2018. Afinal, se o stand by no TSE clareia por enquanto o caminho até lá, não há clareza de expectativa de poder futuro compromissado com o programa em vigor.
O quadro tucano começa a delinear-se, é verdade, em torno da dupla Alckmin-Dória. Mas não será natural que Temer e seu seu grupo aguardem passivamente a tomada definitiva do poder absoluto pelo PSDB. Talvez o núcleo palaciano precise conformar-se no futuro com a volta ao papel de coadjuvante, mas lutará para não chegar a isso.
Do outro lado, resta a dúvida sobre a elegibilidade de Lula. Há esperança no campo hoje dominante de que sem ele crescem as chances de vitória em 2018. É uma hipótese, mas para checá-la seriam necessárias pesquisas sobre o potencial de voto e de rejeição de um "candidato de Lula". Como se sabe, é arriscado acreditar que eleições podem ser decididas antes da urna.
Em mais uma lição de política, os que torcem pela inelegibilidade judicialmente imposta a Lula no Brasil costumam protestar contra o mesmo tipo de inelegibilidade quando aplicada aos principais líderes da oposição na Venezuela. E a mesma lógica comanda aqui o campo oposto, com sinal trocado.
O que apenas reforça, pela enésima vez, o valor de raciocinar por conta própria. Algo sempre útil no esforço para estar na posição confortável das duas disponíveis nos famosos versos dos tempos da Revolução Praieira: "Quem viver em Pernambuco, há de estar desenganado; ou há de ser Cavalcanti, ou há de ser cavalgado".
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