segunda-feira, 3 de abril de 2017

O governo está pronto para sobreviver na mediocridade até 2018. Será suficiente?

Em certo momento da fritura de Dilma Rousseff, o então vice Michel Temer decretou: se a popularidade dela permanecesse na casa de um dígito seria difícil chegar ao fim do mandato. Havia uma sutileza no diagnóstico: o problema não era só a reprovação, era a combinação de baixa aprovação e muito tempo restante de governo, mais de três anos.

A constatação da sutileza vem agora, quando o próprio Temer chega, em números redondos, aos patamares negativos da titular caída, como mostrou o Ibope. E o raciocínio sofre um pequeno ajuste. Se falta tão pouco para a eleição, vale precipitar outra ruptura? "Será que o país aguentaria?", perguntam. E não deixa de ser uma questão relevante.

Sobre o país aguentar ou não, todos têm direito a opinar. E é razoável, e humano, cada ator da luta pelo poder apresentar-se como única opção ao desastre. Faz parte do teatro da política. Para saber se a administração atual terá destino igual ou diferente da deposta, é preciso porém tentar fugir do subjetivismo, analisar concretamente a situação concreta.

Existe opção? Até cair, o último governo do PT viveu em estado de imponderabilidade durante mais de um ano, pois não havia alternativa com massa crítica para deslocá-lo. Quando o PSDB decidiu embarcar definitivamente na canoa de Temer, a nova e esmagadora correlação de forças precipitou uma ruptura tranquila.

Hoje não há, nem em formação, aliança política alternativa com densidade para deslocar o poder antes da eleição de 2018. Existe um movimento embrionário de realinhamento eleitoral, com o PT e Lula recuperando alguma força de atração. O #ForaTemer é, até agora, uma tática de desgaste, não se transformou ainda em palavra de ordem.

Existem mecanismos? Dilma precisou enfrentar o impeachment numa Câmara dos Deputados hostil e comandada por quem ao longo do processo virou inimigo. Temer vem perdendo substância na Câmara, as votações recentes mostram isso, mas a corrosão tem sido lenta e ele mantém a maioria. E Rodrigo Maia é um aliado bem amarrado ao leme da embarcação.

O processo no TSE tem ritmo próprio, lento. E manobras protelatórias são tão mais viáveis quanto menor a pressão contra. E nem o PT pressiona pela cassação, inclusive porque é complicado para os petistas pedir a condenação de uma chapa que foi encabeçada por eles próprios. E um governo cambaleante melhora as perspectivas eleitorais da oposição.

E a opinião pública? A agenda Temer é um ativo junto ao establishment. Bastará acompanhar, por exemplo, o andamento da PEC da previdência. Não haverá escândalo quando o governo operar intensamente cargos e verbas para passar alguma coisa da controvertida reforma. Quando convém, vê-se com naturalidade a quebra dos ovos para fazer o omelete.

Um problema é a falta de resultados mais animadores na economia. Mas sempre se poderá argumentar que a economia só não está melhor pela falta de mais reformas. Depois da previdência virá a trabalhista, ou outra qualquer. O reformismo frustrado tem sido o bode expiatório preferido de nossos governos, e este não deixará passar a oportunidade.

As variáveis mostram um Brasil organizado para chegar mediocremente a 2018, num cenário de desarranjo institucional e semiparalisia, mas com o governo ainda vivo e lutando para sobreviver, e por alguma influência depois. Uma "sarneyzação" sem hiperinflação. No já distante 1989, deu em urnas bem pulverizadas.

Aquele cenário resultou também do excesso de líderes nacionais com prestígio e força para competir, ainda que o vencedor final tenha sido um outsider legítimo, Fernando Collor. Agora, não há abundância. Ao contrário. Não se deve descartar uma polarização precoce, com candidatos no papel de Cavalo de Troia ou de El Cid Campeador.

O que pode desestabilizar? A Lava-Jato tem ajudado a impulsionar a agenda Temer. Políticos procuram mostrar serviço em troca de alguma simpatia do establishment. Mas o retorno sobre esse investimento vem decepcionando. E a Lava-Jato enfrenta resistência ascendente. E a aproximação da urna aumenta o custo de apoiar um presidente impopular.

E há sempre a possibilidade de aparecer o fato novo e imprevisível que catalisa a desestabilização. Situações de imponderabilidade têm disso. Aqui não há muito a especular. Uma característica do imprevisível é a dificuldade de prever o dito cujo. É bom, entretanto, prestar sempre atenção em seus sinais. Especialmente no estado de espírito popular, que anda volátil.

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