segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

A disputa entre o comunicador e o político para derrotar o lulismo. E a tensão dos liberais com as corporações

A maratona eleitoral entrou na fase de acotovelamentos à direita e à esquerda para ver quem ganha massa crítica e se desgarra do pelotão. Na esquerda, parece haver consenso de que o assim chamado lulismo sobreviverá e tem boa chance de pegar uma vaga no segundo turno. Precisará de competência para reagrupar seus votos, mas é viável.

Já na direita e em seu genérico, o centro, a coisa está algo mais nebulosa, desde que a ultraprovável ausência de Lula na urna deflagrou o “por que não eu?”. Meia dúzia de nomes disputam, e o único a se destacar por enquanto é Jair Bolsonaro. Os ditos especialistas dizem que ele tem teto e vai murchar. Mas convém esperar para ver, pois especialistas também erram.

Bolsonaro é uma pedra no caminho do centro. Até agora, os nomes preferidos, Geraldo Alckmin e Luciano Huck, comem a poeira do capitão. Para não falar em Michel Temer e Rodrigo Maia. Mas é pule de dez que um dito centrista será abençoado pelo establishment como a grande esperança de manter e aprofundar o programa econômico deste governo.

Quem será? Temer e Maia movimentam-se, mas o braço de ferro do momento é entre Alckmin e Huck. O governador de São Paulo está bem posicionado na máquina partidária, só que enfrenta a tentação tucana de recorrer à velha receita: surfar na indignação popular contra a corrupção para tentar “o diferente”. Se deu certo com Jânio e Collor, por que não agora?

Jânio e Collor “deram certo”? Sim. A política sempre comanda. Jânio cumpriu a missão de vencer a aliança PSD-PTB, o que a UDN jamais conseguira. E foi uma façanha histórica: a frente getulista nunca mais voltou ao poder pela urna. Já a vitória de Collor impediu a ascensão da dupla Lula-Brizola e atrasou por mais de uma década a chegada do PT ao Planalto.

Alckmin, Huck ou outro ungido receberiam um mandato para 1) promover a liquidação definitiva (até onde pode haver algo “definitivo” em política) do PT ou algum similar como alternativa de poder futuro e 2) completar as reformas liberais iniciadas por Temer. De preferência, de um jeito que tornasse quase impossível revertê-las num horizonte visível. O modelo chileno.

Quais são os obstáculos ao projeto, em ordem cronológica? O primeiro é ganhar a eleição com um programa liberal. Pode acontecer, mas seria mais fácil sem o impeachment. As urnas provavelmente se vingariam do governo Dilma e de seu alardeado estatismo. Agora vão julgar também a administração Temer, e os resultados deste breve ensaio de medidas pró-empresariais.

Vencida a barreira, a seguinte seria governar com o programa defendido na campanha. E aí os liberais precisariam enfrentar a resistência do Congresso e da burocracia estatal. Hoje em dia, o Judiciário tem bem mais musculatura do que qualquer outro ator para resistir à lipoaspiração do Estado. Ainda que aqui e ali apareçam movimentos para colocar limites a esse poder.

O dilema do centrismo: se um comunicador leve está mais aparelhado para navegar na eleição, a experiência de Temer prova que um político de couro grosso pode ser útil para sobreviver à guerra contra a burocracia megaempoderada. O ideal para a direita seria juntar as três coisas: liderança popular, liderança política e confiabilidade. Mas não está fácil de achar.

Não será uma escolha simples. Nada adianta ter o melhor nome para governar, e perder a eleição. E o eventual fiasco no governo de mais uma especulação com a novidade pela novidade avivaria fantasmas que se quer enterrar. Pois se há uma coisa absolutamente garantida quanto ao futuro é que ele sempre chega. Essa é outra regra que não admite exceção.

*

As pesquisas eleitorais mostram uma divisão, grosso modo, meio a meio do eleitorado entre lulistas e antilulistas. Parece que será uma eleição novamente decidida no detalhe. E o que seria melhor para o lulismo? Lula solto podendo fazer campanha, ou preso e elevado à categoria de perseguido político pela narrativa de seus herdeiros?

Quem disser que tem certeza da resposta provavelmente está mentindo.

Um comentário:

  1. Acho o Bolsonaro um risco muito grande para democracia brasileira, não só pelo completo apoio a ditadura militar, mas principalmente pelo enaltecimento de figuras como Ustra, com práticas como a tortura, que mesmo pela legislação então vigente, era ilegal. Qual a garantia de que vai se submeter as regras democráticas?
    Dito isso, ele escancara o Oráculo do Cesar Maia em 2006, "No Brasil, as idéias conservadoras são populares, as idéias liberais não". A prova que o PSDB está totalmente fora da realidade, é ele achar que está abafando quando diz que vai privatizar a Petrobras. O povo não quer saber disso, nas pior das hipóteses é impopular e na melhor irrelevante. Se falasse que vai baixar a maioridade penal, ganhava cinco pontos. É por isso que o Bolsonaro tem 20% e o NOVO tem 1%.
    Se Alckmin, Huck, Maia não mudarem logo o discurso, nem pro segundo turno vão.
    Nehemias

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