segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Depois de muita conversa, acabou o intervalo para platitudes. E uma janela para a internet.

A crônica política é recheada de expressões tão grandiloquentes quanto vazias. Uma delas é “o político que pensa em primeiro lugar no país". O sujeito que abdicaria voluntariamente de posições de poder em nome de uma causa maior: derrotar o campo adversário. Personagem dificílimo de achar na vida real. Esta eleição comprova mais uma vez.

O espectro do chamado centro para a direita poderia juntar-se em torno de Meirelles e seu currículo em economia, ou de Álvaro Dias e sua impermeabilidade a fatos da LavaJato. A união seria mais complicada em torno de Bolsonaro. No limite, poderiam apoiar Marina, a mais apresentável como “de centro". Mas Alckmin não abriu mão e agrupou as máquinas.

Outro que não abre mão é Lula. Nem Lula nem o PT veem motivo para ceder a liderança, mesmo que isso acomodasse melhor as forças supostamente unificáveis para enfrentar o rolo compressor que derrubou Dilma e sustenta Temer. “Se querem me aposentar que arrumem votos para isso”, parece ser o recado do ex-presidente preso em Curitiba.

Alckmin tem duas vantagens e uma desvantagem. Está bem com o establishment e exibe uma incomparável junção de máquinas. Mas não está de bem ainda com o eleitor. E estes dias Bolsonaro sobreviveu com folga a duas provas jornalísticas, superando em boa medida dúvidas sobre a capacidade de enfrentar situações assim. E parece de bem com seu eleitor.

Já Lula e o PT estão no osso, ou quase. Pela primeira vez desde 2002 vêm destituídos de máquinas relevantes. Mas parecem sintonizados com o eleitor de esquerda. Lula ocupa um latifúndio de 30% e o apoio ao partido está consistente em 20%. Nenhum outro nome ou legenda chega perto. E o petismo buscou fazer valer a força nesta reta final de montagem da chapa.

Outro fator explica a pouca permeabilidade dos partidos tradicionais para ceder espaço: num segundo turno contra Bolsonaro todos acreditam ter boa chance de ganhar. E não é uma aposta totalmente destituída de razoabilidade. O candidato do PSL mostra grande resiliência, mas ainda pouca capacidade de ampliar para fora de seu eleitorado tradicional.

Mas atenção ao “ainda”. As apostas a favor da fragilidade de Bolsonaro têm insistido em não se pagar. Uma das últimas balas na cartucheira é acreditar que ele não resistirá à disparidade de tempos de televisão. Será sufocado como Marina em 2014, esmagada que foi pelo ataque simultâneo do PT e do PSDB, que naturalmente preferiam um ao outro na decisão.

Se o absenteísmo (brancos, nulos e ausências) alcançar 33%, quem tiver 20% dos votos baterá em 30% dos válidos. E estará com um pé na final. Bolsonaro precisa pelo menos manter-se. O PT tem de transferir dois terços do voto de Lula. Alckmin precisa lipoaspirar Bolsonaro e/ou esvaziar Marina e Álvaro. Ciro, Marina e Álvaro precisam tirar coelho da cartola.

Mas quem consegue, em algum cenário, 10% ou pouco menos tem o direito de acreditar que chegará aos 20%. E com isso passar ao segundo turno. Ou seja, uma meia dúzia de candidatos veem-se atravessando a primeira barreira e chegando a 28 de outubro em boa situação de vitória. Difícil convencer alguém a desistir num cenário assim.

O grande político, que às vezes ganha o direito de ser chamado de “estadista", consegue colocar em primeiro lugar seus próprios interesses dando a impressão de estar apenas preocupado em defender os interesses dos outros. Só que agora está difícil. Vamos aguardar a campanha para ver quem consegue desgarrar do pelotão, para adiante.

*

Terminadas as preliminares, vem aí uma certa travessia do deserto, o período entre o fechamento das chapas e o início dos programas e propagandas no rádio e na TV. Vai ser uma oportunidade de verificar o real poder da internet na comunicação dos candidatos. Será que vai haver alguma movimentação relevante nas pesquisas?

Eu apostaria que não.

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