Qual o principal nó político no conflito russo-ucraniano? É
a consequência mais imediata de ter deixado de ser uma disputa entre Moscou e
Kiev e evoluído para uma confrontação militar entre a Rússia e a Organização do
Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos Estados Unidos, que por sua vez estão
numa guerra não declarada com os russos por meio da Ucrânia. O nó? Nem
Washington nem Moscou podem ser derrotados.
Certo desfecho que atenda de alguma maneira às demandas
russas de antes de 24 de fevereiro corre o risco de ser recebido pelos
eleitores americanos como um fracasso de Joe Biden, que no final deste ano
enfrenta eleições de meio de mandato para renovar a Câmara dos Representantes
(deputados) e boa parte do Senado. As midterm do primeiro
quadriênio costumam ser complicadas para o ocupante da Casa Branca, e os
índices de Biden estão ruins.
No outro lado, algo que cheire a derrota empurrará Vladimir Putin para a
zona de alto risco político, também pelos custos humanos, materiais e
econômicos da operação militar. E a maior ameaça não viria de eventuais
movimentos pró-Ocidente, mas de lideranças patrióticas que buscariam responder
às frustrações desencadeadas, entre outros fatores, pela incapacidade de
defender as populações russas nas áreas desgarradas após o fim da União
Soviética.
Uma rápida passada de olhos pela história russa e
soviética dos últimos dois séculos faz qualquer um entender a sensibilidade ali
diante de potenciais ameaças ao território e à população.
E no Brasil, qual é o nó? A exemplo da pendenga europeia,
o fato de nem o Supremo Tribunal Federal (STF) nem o presidente da República
darem até agora sinal de aceitar ser derrotados na refrega em torno do sistema
de votação. O STF (do qual o Tribunal Superior Eleitoral é, na prática, uma
subseção) é o certificador do processo; e o presidente, na polarização, carrega
com ele hoje quatro de cada dez votos num eventual segundo turno.
É briga grande.
Curiosamente, a situação não chega a ser 100% original.
Quatro anos atrás, quando Luiz Inácio Lula da Silva ficou inelegível pela
condenação em segunda instância agora anulada, o Partido dos Trabalhadores lançou o “Eleição
sem Lula é Fraude”. E esticou a corda até a véspera do segundo turno.
Ali o impasse resolveu-se pacificamente, também por dois motivos: 1) o PT não
estava no poder e 2) o PT acreditava que tinha chances, mesmo sem Lula na urna.
Tanto tinha que Fernando Haddad disputou um segundo
turno bem competitivo.
Os personagens da trama de agora já deixaram passar algumas ocasiões
propícias à desejável redução da temperatura. Elio Gaspari, que viu alguns filmes parecidos, abordou o
assunto por um ângulo histórico cerca de um mês atrás. A corda está
esticada, mas não se deve desistir de o país chegar à eleição
com todo mundo deixando claro que aceitará o resultado. Por razões que dariam
outro artigo, talvez estejam faltando atores dispostos a assumir os papéis
capazes de levar a trama a esse feliz desfecho.
A exemplo do que se passa agora no leste europeu. Sim, o indivíduo tem um papel na História.
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