O desenho até o momento do ministério Lula aponta um núcleo decisório e formulador essencialmente petista, na política e na economia, com aliados à esquerda ocupando uma segunda camada de ministérios com prestígio social, mas pouca capilaridade orçamentária, e neoaliados projetados para espaços com potencial orçamentário para manter disciplinado o pedaço de direita da base parlamentar.
A contradição permanente a administrar será entre a orientação francamente à esquerda do núcleo decisório governamental e a maioria de direita no Congresso Nacional. Dois mecanismos devem reduzir as dificuldades do governo nessa empreitada: 1) a discricionariedade na execução orçamentária dos ministérios, com manutenção do sigilo do “quem pede” em boa parte das operações; e 2) a aliança entre governo e STF.
O modus operandi verificado nas decisões do Congresso sobre a PEC dos gastos adicionais e do STF sobre as emendas de relator deve repetir-se, com o Executivo apoiando-se na aliança com o Judiciário para reduzir a força do Legislativo nas negociações ponto a ponto. Isso deve acentuar-se quando o novo governo conseguir preencher as duas vagas que devem se abrir pela aposentadoria do ministro e da ministra que saem no próximo ano.
Claro que a sustentabilidade desse desenho, bastante favorável ao governo, vai depender do andamento da economia e do consequente estado do humor popular, de que o humor congressional costuma ser função. Mas no curto prazo não parece haver nuvens carregadas no horizonte, até porque a inflação dá sinais de evoluir melhor que as previsões.
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