quinta-feira, 8 de junho de 2017

O governo parece ter sobrevivido à batalha, mas a crise segue

O governo conseguiu uma importante vitória quando o TSE projetou hoje que irá absolver a chapa Dilma-Temer, ou pelo menos o então vice e hoje presidente, da acusação de crime na eleição de 2014. O contrário implicaria a cassação da chapa. Sempre é prudente esperar o fim do julgamento, mas, confirmada a tendência, se fecharão as portas para um desfecho via justiça eleitoral. Faltaria ao Planalto apenas garantir o bloqueio do impeachment e da autorização da Câmara dos Deputados para o processo no STF por crime comum. Ambos exigem que o governo mantenha pelo menos um terço dos votos ali, o que hoje parece provável. Ao mesmo tempo, o Planalto mune-se de instrumentos legais para punir com força descomunal, por meio das instituições econômicas oficiais e dos órgãos reguladores, empresas que eventualmente possam estar diante da inevitabilidade de fazer acordos de leniência e cujos acionistas e executivos estejam impelidos a colaborar com o Ministério Público e a Polícia Federal. O mundo político vai quase totalmente unido nesse propósito. Esperam, assim, frear o momentum da Lava-Jato, tomada no sentido amplo, freando as colaborações. Entrementes, o Planalto impulsiona as reformas trabalhista e previdenciária para manter o apoio do establishment. Quais são as variáveis fora de controle? A primeira é que não parece provável uma redução da velocidade e força das investigações. Os procuradores e delegados já reuniram informações suficientes para caminhar pelas próprias pernas por muito tempo. E há um conjunto de políticos, empresários e executivos para quem simplesmente não há alternativa fora da colaboração. E a pressão dos fatos novos será uma guilhotina sobre o pescoço dos parlamentares da base do governo que precisam enfrentar as urnas em 2018 – a esmagadora maioria. O PSDB é um sintoma dessa circunstância. E vai ser preciso também olhar com atenção como o STF se comportará diante do quadro de agravamento. Vai manter a provável decisão do TSE? Chegará a analisar? Confirmará o relator hoje encarregado da Lava-Jato e do caso J&F? E o relator? Manterá as prisões mais sensíveis? Após a revelação dos fatos da colaboração da J&F, o assim chamado "clima" para habeas corpus não anda tão favorável. E como será a sucessão do atual procurador-geral da República? Nada indica que o cenário de crise política crônica vá arrefecer. Um relançamento da economia poderia ajudar, mas não se prevê nada brilhante, no curto prazo, nos números de emprego e renda. A saída da recessão assenta-se no tripé agronegócio-exportações-produtividade. O efeito multiplicador dessa modalidade de recuperação leva um bom tempo para chegar na ponta. Uma maneira de enfrentar isso seria reduzir agressivamente os juros, mas não parece ser a linha do BC. Resta ao governo encastelar-se, ameaçar e resistir. O que vem fazendo.

Análise ao final do terceiro dia do julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE

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